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Alexandre Lyrio
Publicado em 31 de maio de 2016 às 07:30
- Atualizado há 2 anos
Parece uma sina. Aconteceu com Bimba, Pastinha, Waldemar, Cobrinha Verde e, agora, com mestre Gigante. Francisco de Assis, 95 anos, o pequeno gigante da capoeira, morreu nesta segunda-feira (30), da mesma forma que os outros, na pobreza, sem o devido amparo e reconhecimento governamental.Aluno de Cobrinha Verde, mestre Gigante era o mais velho capoeirista vivo no mundo. Se dedicou à arte mandingueira desde os anos 40, quando conviveu com Aberrê, Noronha, Barbosa, Traíra, Najé e outros capoeiristas afamados do passado.Mestre Gigante (Foto: Arquivo CORREIO)Após perder a luta contra uma infecção respiratória, Gigante recebeu seu último golpe no Hospital Teresa de Lisieux e teve o corpo enterrado no Cemitério Campo Santo. Viúvo, deixou duas filhas e três netos. Apesar de mundialmente conhecido e de ser um dos mais importantes nomes da capoeira, que em 2014 recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, Gigante teve um enterro simples.Ao som de berimbaus, com direito a uma roda, seu caixão foi carregado por outros mestres e colocado em uma carneira comum com apenas uma coroa de flores. A comunidade da capoeira e familiares juntaram dinheiro para bancar a cerimônia. Não houve contribuição governamental.Enterro aconteceu nesta segunda em Salvador (Foto: Dada Jaques)“Infelizmente Gigante confirma o destino dos mestres antigos, que morreram na miséria. Não têm qualquer apoio dos governos. Isso é um absurdo”, afirma mestre Itapuã, um dos que ajudou Gigante no final da vida. Nada era mais marcante em Gigante do que a qualidade de seu toque. Poucos extraiam som do berimbau com tanta perfeição.>
“Tanto que tocava em tudo que é roda. Tinha trânsito livre”, lembra Itapuã. “Gigante tocava berimbau. Tocava muito bem. Estava presente em formaturas, festas, shows culturais. Um cara muito importante para a capoeira. Ensinou muita gente a tocar. Uma perda gigante para a capoeira”, destaca Marinalva Machado, a Nalvinha, filha de mestre Bimba.Disco gravado pelo mestre Gigante, de 2007, produzido por Frede Abreu(Foto: Divulgação)Conhecido também por compor cantigas e ladainhas tocadas nas rodas de capoeira, gravou o disco O Canto do Berimbauman, projeto do pesquisador e escritor Frede Abreu, morto em 2013. Segundo o próprio Frede escreveu, o disco apresentava a “perfeição do toque do berimbau de Gigante”. “Um trabalho que mostra a importância de Gigante para a musicalidade da capoeira”, afirmou o contra-mestre Sapoti, que também participou das gravações. >
Uma de suas músicas mais famosas ironizava justamente a sua estatura, que não passava de 1,50m. “Meu pai era pequeno, minha mãe também. Por favor não me critique, que eu não critico ninguém. Eu sou pequeno, meu berimbau é grande. Na roda de capoeira eu toco São Bento grande”.>
Emoção no enterro do mestre (imagens de Dadá Jaques):>
Vídeo mostra o mestre cantando:>