'Morreu um pedaço de mim com ela', diz mãe de menina atropelada na Bonocô

Eloá Rastele foi atingida por um motorista que não prestou socorro; Polícia Civil investiga o caso

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  • Wendel de Novais

Publicado em 21 de junho de 2022 às 14:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Na área de memorial do cemitério Quinta dos Lázaros onde acontecem os velórios quase não tinha espaço na manhã desta terça-feira (21). Ao menos 100 pessoas foram até o local para se despedir de Eloá Rastele de Oliveira, 11 anos, que morreu por volta das 16h20 do último domingo (19) após ser atropelada enquanto tentava atravessar a pista da Avenida Bonocô. Das 10h30, quando começou o velório, até às 12h, quando ela foi sepultada, entre familiares, amigos e conhecidos, o choro e a sensação de choque pela partida prematura da pequena eram comuns.

Mãe de Eloá, a auxiliar de cozinha Valdenice Xavier Rastele, 35, ainda muito abalada, conversou com a reportagem e falou sobre a dor de perder a filha de maneira repentina. "Morreu um pedaço de mim junto com ela. Só Deus sabe o quanto está sendo difícil. Quando me avisaram, eu saí correndo até lá, mas não acreditei. É difícil entender que ela partiu, não consigo nem imaginar como vai ser sem minha filha aqui", disse a mãe, em lágrimas. 

Quem também não conseguiu conter o choro foi o vigilante Eliane Fagundes, 35, pai de Eloá. Ele estava de folga em casa, no bairro de Cosme de Farias, quando o avisaram do atropelamento. Desesperado, Eliabe correu até onde Eloá estava, mas não conseguiu salvá-la. "Quando eu cheguei, já vi minha filha estirada no chão, não pude fazer nada. Não tenho palavras para descrever o que senti. De lá até agora, a gente se conforta um pouco, Deus nos dá força, mas logo depois desaba de novo. É dor que parece não acabar", falou Eliabe, descrevendo o sofrimento que tem enfrentado desde o atropelamento.

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Como aconteceu

Aos domingos, Eloá costumava sempre estar na Igreja, participando em um grupo de crianças, como fez na tarde em que morreu. Dessa vez, na saída, o grupo decidiu ir para a quadra do canteiro central da Bonocô e assistir uma partida de futebol. Boa parte deles conseguiu passar sem problemas. Eloá, sozinha, não. "Eles conseguiram passar, mas, na hora que todo mundo foi, uma amiguinha segurou ela e não deixou ir. Porém, Eloá foi sozinha. Na hora, um carro branco freou em cima dela. Sem saber se ia ou voltava, ela foi pra frente e um carro preto atropelou minha filha", relata Valdenice. Valdenice não conteve o choro pela filha (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Quem atropelou Eloá fugiu sem prestar socorro. A Polícia Cívil (PC), que investiga o caso, foi procurada para responder sobre a localização do suspeito, mas respondeu que ainda não pode conceder detalhes sobre. "A apuração está em andamento e detalhes não estão sendo divulgados para não interferir no andamento do caso", escreveu a PC. A reportagem solicitou o número de pessoas mortas por atropelamento na Bahia e em Salvador neste ano e em 2021, mas a polícia não conseguiu os dados até o fechamento desta matéria.

A família mostrou revolta com a situação. Para o pai de Eloá, o que mais incomoda é o ato de quem atropelou a menina não ter prestado socorro, reduzindo as chances dela sair com vida do ocorrido. "Provavelmente, ele estava com o pé fundo, acelerando. Mas precisava ter parado, prestado socorro a ela e levado para emergência. Eu acredito que, se tivesse feito isso, as chances dela de sobreviver seriam muito maiores e não estaríamos aqui chorando a morte da minha filhas como estamos fazendo agora", opinou Eliabe.  Eliabe e Valdenice pediram que quem atropelou Eloá se apresentasse (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Pedido por Justiça

Valdenice concorda com a fala do companheiro e também acredita que, caso houvesse socorro imediato, Eloá ainda estaria viva. "Eu acho que ela não teria morrido, estaria com sequelas, mas aqui. Por isso, peço que quem fez isso compareça e se explique, diga porque fez isso e nem sequer se deu o trabalho de ajudá-la", reclamou.

Já Eliabe pediu "pulso firme" das autoridades que estão investigando o caso para localizar quem quer que seja o responsável pelo atropelamento e a falta de socorro. "A avenida é cheia de imagens, não falta prova e já sabemos que tem vídeo circulando, eles devem saber também. Então, só não vão pegar o responsável se não quiserem. Espero que consigam pegar logo porque a pessoa tem que responder por isso", afirmou

A PC declarou que algumas pessoas já foram ouvidas, possíveis imagens de câmeras de monitoramento da região estão sendo buscadas e diligências estão sendo realizadas com o objetivo de identificar o condutor do veículo.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro