MP investiga distribuição de 'jornal' suspeito de racismo e transfobia no Le Parc

Procedimento de investigação criminal busca descobrir quem fez e distribuiu

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  • Luana Lisboa

Publicado em 13 de outubro de 2021 às 21:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução
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O Ministério Público estadual (MP-BA) instaurou um procedimento de investigação criminal para apurar o caso de um "jornal" distribuído no Le Parc, condomínio de alto padrão em Salvador. O conteúdo dos exemplares, chamados "Redpill & Rapadura", está sendo incentivado por prática de racismo e homotransfobia, que pode ser enquadrada na Lei de Combate ao Racismo, segundo entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O material, que terá a autoria investigada, também se posiciona contra a vacina da covid-19.

O 'Redpill & Rapadura' (pílula vermelha em uma referência ao filme Matrix) foi colocado na caixa de correio de todos os moradores do condomínio, há aproximadamente 12 dias. Ao todo, são 18 torres, cada uma com 18 andares e quatro apartamentos em cada, o que daria uma tiragem média de 1.296 exemplares do jornal.

A promotora Márcia Teixeira, da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, que está acompanhando o caso, afirma que, além dos LGBTIA+, todos os condôminos passam a ser vítimas do caso.

"Uma vez que eles possam estar inseridos na população LGBT, são vítimas. Além disso, estão expostos à fake news que o exemplar disseminou", contou ela.

No material, ao lado de sua logo, há a frase "Deus seja louvado", além de "Somos tradicionalistas, pessoas livres e tementes a Deus". Em um dos textos, de título "Em 2018, seu voto não fez diferença", há a incitação ao voto nulo ou branco para as próximas eleições. No texto seguinte, há frases como "Nós humanos não temos gênero, temos sexo. Masculino e feminino".

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"O nome faz referência a um trecho de Matrix, no qual o personagem principal escolhe caminhos a partir das pílulas azul e vermelha. Só que o jornal usa de forma muito equivocada o conceito do filme. Temos que averiguar isso também", explica a promotora.

Márcia Teixeira conta que já entrou em contato com um dos moradores, mas que aguarda que o condomínio se manifeste. "Não podemos dizer nem se o autor é condômino, porque não temos as imagens das câmeras, apesar de já termos solicitado".

Com as imagens, o MP-BA busca chegar à autoria e à data exata em que o conteúdo começou a ser divulgado. O Le Parc tem sete dias, contados a partir desta quarta-feira (13), para encaminhar à promotoria imagens das câmeras de segurança ou uma investigação própria sobre a disseminação do conteúdo.

Além disso, os moradores também podem ajudar anonimamente: qualquer dos condôminos que tenha informações sobre a autoria do material apócrifo pode encaminhar e-mail para [email protected]

*sob orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo