Muito além da devoção: o Bonfim do arrocha e da quebradeira

Teve até quem saiu de SP para conhecer a lavagem, mas, seduzida pelo arrocha, nem subiu a Colina Sagrada

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 18 de janeiro de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

As águas da Cidade Baixa estão dentro do perímetro da Baía de Todos Santos. Por conta disso, o mar de toda a região é tranquilo, sem qualquer marola. Surfista por lá não se cria, mas quando o assunto é a Lavagem do Senhor do Bonfim, a expressão que define a festa vai de encontro com a calmaria dos mares: “Bonfim é a maior onda”, é o que garante em bom baianês o estudante Lucas Santana, 20 anos.

Enquanto metia dança em um dos vários paredões que disputavam espaço no final da festa do Bonfim durante a quinta-feira (17), ele contou que chegou à Colina Sagrada por volta de 15h com sua amiga e fiel escudeira Adriele Pereira, 20. Mas nem pense que eles foram exercitar a fé, o que os dois estudantes queriam era lama. Justamente por isso chegaram já no finalzinho da tarde. Sagrado? Que nada. Eles pegam seus respectivos profanos e vão embora.

“Venho pra festa desde muito novo, mas antes vinha com minha mãe. Agora venho sozinho e só quero lama. Não tem hora pra acabar”, contou Lucas.

O desejo de lama era algo quase unânime no Baixo Bonfim, bem embaixo da Igreja do Senhor do Bonfim. E a galera não fazia feio por lá, não. Sozinho ou sozinha, acompanhado ou acompanhada, o importante no final da tarde de lavagem, ao menos por lá, era a quebradeira.

Consultora de vendas, a loiríssima Josemeire Cortes, 42, chamava atenção de quem passava na frente da Confraria da Cerveja. E olhe que tinha uma multidão por lá, mas pouco importava. Era ela quem roubava a cena com seu shortinho jeans e body branco. O suor no corpo e a voz ofegante não escondiam que ela estava lá para se esbaldar.

Ela contou que acordou bem cedo para sair de sua casa, em Cajazeiras, fazer o percurso de 8km, subir a colina, amarrar a fitinha, fazer pedidos e aí sim, já em dia com suas obrigações de fiel... Era chegada a hora da lama. Ah, a lama! Se a fé move montanhas, a tal da lama move pessoas, cria passinhos e mexe bumbum. Até o dia se perder de vista, pelo menos é o que garante Josemeire.“Não sei como volto, mas também nem quero voltar pra casa hoje!”, exclamou Josemeire.Fã confessa da lavagem, a consultora diz que frequenta a festa há mais de 20 anos. Tempo o suficiente para afirmar com todas as palavras que só existe uma festa que talvez se compare com a Lavagem: o carnaval. Mas isso é só um talvez. Certeza mesmo, ela só tinha de que naquele exato momento, ali era o melhor lugar do mundo.“Eu amo o Bonfim, amore!”, afirmou.Gente que conhece há anos, e gente que veio para conhecer. É o caso de Valnice Santos, 42, estreante na lavagem. Ela veio de São Paulo querendo conhecer mais sobre aquela que uma das maiores festas de devoção do mundo. O negócio é que, chegando ao pé da Colina Sagrada, aconteceu um pequeno imprevisto: uma cadeira e um som apareceram. E o arrocha que tocava mudou os planos de Valnice, que ficou pelo Baixo Bonfim mesmo e nem subiu à Colina. Valnice Souza, 42, veio de S]ao Paulo só para a Lavagem do Bonfim, mas nem subiu a Colina (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) “A ladeira é muito em pé”, contou aos risos antes de partir para aquilo que lhe realmente era sagrado no dia. O arrocha. Rapidamente ela saiu da entrevista e foi dançar com o par que encontrou ali mesmo na hora. Não dá para negar: a lavagem é maior onda.

*Com a supervisão de Jorge Gauthier