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Gil Santos
Publicado em 17 de julho de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
O ônibus elétrico que começou a circular em Salvador, nesta terça-feira (16), que encantou e gerou resenhas entre soteropolitanos, pode até ser uma novidade na Bahia, mas já é uma realidade em outras cidades, inclusive do Brasil. Pelo menos seis municípios brasileiros e mais de dez países usam desse meio de transporte.>
O gerente de pós-venda da BYD, empresa Chinesa dona do modelo que está sendo testado em Salvador, André Perandin, contou que existem ônibus elétricos em operação em Brasília (DF), Santos (SP), Bauru (SP) e Volta Redonda (RJ). Em Campinas (SP), 11 veículos entraram em funcionamento este ano, e em São Paulo (SP) serão 15 até o final de agosto.>
No cenário mundial os ônibus elétricos também estão ganhando mais espaço. Na América Latina, a BYD atua em quatro países, além do Brasil. O Chile tem 102 carros da empresa em operação e outros 180 são aguardados até o final do ano. Na Colômbia são 56, na Argentina 20, e no Equador 12 veículos.>
“Os ônibus, hoje, estão no Euro 5, uma legislação de emissão de gases, e a próxima etapa é o Euro 6, que já existe na Europa e começa a ter também em alguns países da América Latina. Não existe Euro 7, o próximo passo é obrigatoriamente elétrico, porque a tecnologia de combustão não consegue atingir os níveis proposto. Essa é a grande vantagem (do carro elétrico), a energia limpa, com emissão de 0% de poluentes”, afirmou.>
A China lidera com 11 mil unidades, mas também existem ônibus elétricos nos EUA, Inglaterra, Espanha, Portugal, e Hungria. Na Índia, serão 1 mil veículos até o final de 2020. “Tenho 24 anos de experiência com transporte e afirmo que esse um ônibus muito bem resolvido para as necessidades dos passageiros”, garante Paradin. Interior do ônibus elétrico (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Meio ambiente Para os especialistas o fato de não emitir gases poluentes é a principal vantagem do sistema elétrico de transporte, mas não é a única. A redução na quantidade de componentes mecânicos reduz os custos com a manutenção, além de existir mais conforto que o modelo de combustão.>
O presidente da Associação Baiana de Medicina de Tráfego (Abamet), Antonio Meira, considera que o novo modelo impacta também na qualidade da saúde de passageiros e rodoviários. O fato desses carros não emitirem ruídos intensos, por exemplo, é outro ponto positivo para o especialista.>
“Os veículos a diesel têm um barulho maior e isso interfere na qualidade de vida e de trabalho do condutor que está naquela função todos os dias. Alguns dos problemas que percebemos no motorista profissional estão relacionados a esses ruídos e a postura. Melhorar a intensidade desses ruídos é, com certeza, um ponto positivo”, afirmou.>
Ele destacou também a altura desses coletivos, mais baixos, o que diminui a quantidade de degraus e aproxima o embarque e desembarque da calçada. “Essas tecnologias e avanços que poluem menos, melhoram o transporte coletivo e é isso o que a gente preconiza, além do deslocamento seguro”, afirmou.>
O teste com o ônibus elétrico é uma inciativa da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) e do consórcio Integra Plataforma, e vai durar 30 dias. Nesse período, o carro vai circular, de segunda à sexta-feira, nas linhas: Estação Pirajá/Ribeira, Pirajá/Barra, Pirajá/Pituba e Paripe/Aeroporto, sendo uma por semana. Ele tem capacidade para rodar até 250 km e leva 4h para ficar totalmente carregado. Recarga é feita através de uma tomada instalada da garagem, que liga o cabo ao ônibus. Veículo ficará 30 dias em teste (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Tendência Para o mestre em Engenharia de Energia e coordenador do curso de Engenharia Ambiental da FTC, Ricardo Magalhães, a substituição os veículos a combustão pelos elétricos é um caminho sem volta.>
“Cada dia mais as montadoras estão produzindo carros híbridos e elétricos. Isso em todo o mundo. Existe até uma corrida de carros, a Fórmula I, com veículos apenas elétricos. Essa mudança é uma tendência. São diversas as vantagens desse sistema. A questão não é se o carro elétrico é uma tecnologia que vai dominar os veículos, mas quando”, afirmou.>
A prefeitura informou que, caso o modelo passe no teste, ele será usado no BRT (Bus Rapid Transit) – sistema rápido de transporte público que, em Salvador, vai ligar a Lapa ao Iguatemi – uma escolha correta, segundo o engenheiro. “O BRT, em termos de mobilidade urbana e de meio ambiente, é extremamente positivo, e unir isso ao que tem de melhor na propulsão elétrica de veículos é muito interessante”, disse.>
Magalhães contou que o desafio é consegui ampliar a capacidade de percurso dos carros elétricos e, ao mesmo tempo, reduzir o tempo de recarga desses veículos. Ele explicou que mesmo exigindo mais das geradoras de energia do país, os veículos elétricos ainda são mais vantajosos que os de combustão.>
“O grande tema proposto hoje no mundo é como reduzir a emissão de gases de efeito estufa. A eletricidade também emite gases na geração da energia, a quantidade depende de país para país, mas no Brasil essa emissão é muito baixa porque temos poucas termoelétricas, a maioria são hidrelétricas. Emissão quase 0%, por isso, é muito positiva essa troca”, afirmou. Painel do ônibus elétrico (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Sustentabilidade O Consórcio Integra Plataforma informou que monitora a emissão de gases pelos ônibus da empresa a cada três meses. Na prática, uma empresa especializada vai até as garagens a cada trimestre e instala um equipamento nas descargas dos veículos para medir a quantidade de CO2 lançado na atmosfera.>
O chamado teste de opacidade identifica os carros que estão emitindo gases acima da média e aponta quais deles precisa passar por manutenção. A última aplicação da avaliação foi em maio.>
Outra medida adotada pela empresa foi a telemetria, tecnologia que permite a medição e comunicação de informações entre a empresa e os motoristas. O objetivo é monitorar se os condutores estão praticando as manobrar ensinadas para reduzir a poluição. >
Para o diretor de Comunicação do Sindicato dos Rodoviários, Daniel Mota, a mudança é bem-vinda, mas precisa ser pensada com cuidado. “O ônibus elétrico é uma ação futurista, mas positiva e o meio ambiente agradece. Precisamos ver os detalhes de como vai funcionar esse ônibus, ver o experimento primeiro, mas no primeiro momento soa como algo importante para a humanidade porque não vai emitir monóxido de carbono e vamos poder respirar melhor”, afirmou.>