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Gil Santos
Publicado em 4 de março de 2022 às 14:41
- Atualizado há 2 anos
As Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) estão renegociando contratos com fornecedores e prestadores de serviço e o motivo, segundo a direção da unidade, é um déficit de R$ 24 milhões gerado pela defasagem entre o valor repassado pelo Ministério da Saúde para custear os gastos da instituição com o Sistema Único de Saúde (SUS) e o valor real das despesas. Apesar do aumento da inflação e do valor dos insumos médicos, impulsionados pela pandemia, o contrato não é reajustado há 5 anos.>
Nesta sexta-feira (4), centenas de funcionários, pacientes e amigos da instituição se reuniram no Santuário de Santa Dulce dos Pobres, no Largo de Roma, e deram um abraço na entidade. A concentração começou por volta das 9h e foi necessário usar capa de chuva por conta do mau tempo, mesmo assim a igreja ficou lotada, o mezanino precisou ser usado para abrigar parte do público e algumas pessoas tiveram que assistir à cerimônia em pé. Após alguns louvores, eles saíram e de mãos dadas deram um abraço no prédio.>
A superintendente da Osid, Maria Rita Pontes, contou que as doações ajudaram a reduzir o déficit, mas que foram insuficientes para tapar todo o buraco. Ela citou a inflação, reajuste de contratos e de itens médicos básicos, como máscaras, luvas e aventais como exemplos de custos que impactaram diretamente no orçamento da instituição. Ela teme que algum serviço médico tenha que ser suspenso por conta da falta de recurso.>
“Estamos renegociando contratos, fazendo todo tipo de economia possível com apoio dos funcionários, seja de água, seja de luz, impressão, enfim, tudo que a gente pode fazer para otimizar o pouco que nós temos está sendo feito. Estamos tendo um relativo atraso de pagamento de fornecedores e de médicos, mas todos entendendo esse momento e de mãos dadas para conseguir manter tudo em funcionamento”, contou.>
Maria Rita contou que o contrato que a instituição tem com o Ministério da Saúde estabelece repasses mensais de R$ 13 milhões, mas que as despesas estão sendo de R$ 19 milhões e que o governo não está cobrindo a diferença. Até o final de 2022, o déficit de R$ 24 milhões pode saltar para R$ 44 milhões.>
Na prática, não há nenhuma cláusula que determine a obrigatoriedade do governo federal de reajustar o valor do repasse com base na inflação ou qualquer outro índice. Mesmo assim, o governo reconheceu que o valor enviado para a Osid não é suficiente para custear os 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais e atender os 2,9 milhões de pacientes que a unidade acolhe todos os anos, e encaminhou um recurso extra em 2018 e em 2019.>
“Por conta dessa falta de reajuste, a gente conseguiu, até 2019, um aporte de emergência que cobriu uma parte desse déficit. De 2020 para cá, por conta da pandemia e de todas as dificuldades que nosso país viveu, esse aporte não chegou. Então, nós acumulamos esse prejuízo de R$ 24 milhões. Sempre fizemos muito com pouco, só que esse pouco agora está impossível”, afirmou.>
Ato simbólico Foi de mãos dadas também que os funcionários, pacientes e amigos da Osid protagonizaram um gesto de fraternidade no Largo de Roma. O temporal deu uma trégua, e uma chuva fininha caiu enquanto o grupo se posicionou entre as Avenidas Luiz Tarquínio e Dendezeiros do Bonfim em um abraço simbólico à instituição. A aposentada Maria de Lourdes Santos, 71 anos, saiu da Boca do Rio e foi até Roma para participar, mesmo usando muleta.>
“Eu tinha 12 anos quando conheci irmã Dulce, vou fazer 72 anos. A minha fé é firme e forte, não venho pedir, venho até aqui agradecer. Todo mundo tem que ajudar, porque é de gotinha em gotinha que o beija-flor enche um tanque. Todo dia 13 eu venho, trago minha contribuição e faço minhas orações”, disse.>
Funcionários se emocionaram durante o ato. A responsável técnica pela equipe médica do Centro de Geriatria das Obras Sociais Irmã Dulce, Manuela Magalhães, começou a trabalhar na unidade quando ainda era estudante, há 34 anos. Ela contou que a instituição também é um centro de formação de médicos em diversas especialidades.>
“Em todo o Nordeste e outras regiões do país tem médicos que foram formados aqui, que passaram pela Obras Sociais Irmã Dulce. Então, somos responsáveis pelo atendimento [de pacientes], mas também pela formação de profissionais, médicos e não médicos, porque temos uma residência interdisciplinar. A pessoa que é formada em Irmã Dulce é reconhecida em qualquer lugar como um profissional de qualidade”, afirmou.>
Brasília Na semana passada, representantes da Osid estiveram em Brasília para discutir o assunto com representante do Ministério da Saúde. A superintendente Maria Rita disse que o ideal seria o reajuste do valor mensal repassado para os gastos com o SUS, mas que o envio dos aportes já seria de grande ajuda.>
“O reajuste seria o sonho, mas o que a gente pede é pelo menos um aporte emergencial. Acredito que todos os hospitais filantrópicos clamam por um reajuste. Não é apenas nas Obras Sociais que acontece isso, todos estão passando a mesma dificuldade. Contrato sem reajuste é impossível. Os contratos que temos de administração sempre tem uma cláusula de reajuste, então, é certo que esse também tenha”, disse.>
A Osid foi fundada em maio de 1959 e atende, gratuitamente, pacientes dos 417 municípios da Bahia. Atualmente, a unidade realiza 23 mil cirurgias e 43 mil internamentos, por ano. São 2,1 milhões de refeições servidas, 954 leitos hospitalares apenas na sede, em Salvador, e 10,8 mil atendimento por mês de pessoas com deficiência. A entidade realiza também 9 mil atendimentos mensais para tratamento do câncer na capital.>
Procurado, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou. >
Doações Para ajudar a manter vivo o legado de amor e serviço de Irmã Dulce, é possível doar qualquer quantia através do PIX [email protected]; ou efetuar uma doação a partir do site www.irmadulce.org.br/doeagora. Mais informações sobre como ajudar a OSID podem ser obtidas também através da Central de Relacionamento com o Doador, no telefone (71) 3316-8899.>