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Larissa Almeida
Publicado em 25 de julho de 2025 às 06:00
Uma das veias pulsantes do Centro Histórico de Salvador, o bairro da Saúde é uma unanimidade. É que, na região, todos os finais de semana pessoas de todas as idades, nativos e turistas se reúnem para pedir a cerveja mais gelada de alguns dos muitos bares existentes no largo e nas ruas adjacentes à via principal. Não à toa, o local tem se consolidado como um dos bairros mais cobiçados pela boemia. Mas, afinal, o que explica esse fenômeno? >
Os moradores, comerciantes e frequentadores ouvidos pela reportagem têm diferentes versões sobre o que fez o bairro da Saúde ser o que ele é hoje, mas todas elas se complementam. Seguindo a linha do tempo, o comerciante Leandro Alonso, proprietário do famoso Bar do Léo – que ficou conhecido pelo chopp de vinho –, especula que ser o berço de pessoas ilustres pode ter sido o primeiro passo. >
A teoria de Leandro tem força porque, ninguém mais, ninguém menos que o homem que inspirou o nome do Circuito Batatinha era morador da localidade. O excepcional Oscar da Penha, que era mestre no batuque de caixa de fósforos e sambista por vocação, vivia e fazia a composição de músicas na mesma esquina onde atualmente está o famoso bar. >
A Saúde virou um bairro cobiçado pela boemia de Salvador
Desde que morreu, em 1997, o bairro mudou muito, mas o clima quase bucólico, as ruas de pedras, as casas seculares e a sensação de interior permanecem. Essas características, inclusive, são o que atraem alguns dos mais fiéis clientes dos bares locais, como é o caso do aposentado Sérgio Roberto Santana, de 60 anos. >
“Vou uma vez no mês na Saúde quando é baixa estação. No verão, vou até duas. É um bairro com várias opções de gastronomia, que vai de espetinho a outras comidas de qualidade. Eu gosto do pagodinho, das músicas sofridas, mas principalmente da parte tradicional. Aqueles prédios antigos têm um charme e eu gosto de me sentir inserido nesse contexto da história”, conta. >
Assim como ele, tantas outras pessoas passaram a se encantar com esse mesmo ambiente nos últimos anos. E não foi ao acaso. Segundo Leandro Alonso, houve uma coalização entre os moradores em 2020, antes da pandemia, quando todos concordaram que o bairro precisava investir no comércio para frear a escalada da violência que, àquela altura, já impactava o entorno, como a Baixa dos Sapateiros, Nazaré, o Tororó e o Gravatá. >
“O crime, infelizmente, estava tomando conta de toda a região. Eu e os outros comerciantes, então, entendemos que fazer o comércio se desenvolver traria movimento para a rua e, consequentemente, iríamos conseguir mostrar para as autoridades que era preciso dar uma atenção a essa comunidade. Com a pandemia, muito comércio fechou, mas, quando passou, pudemos funcionar a todo vapor”, diz. >
A necessidade de sair de casa, a ânsia por uma novidade e o decreto da prefeitura que, no período de flexibilização, permitia a colocação de mesas e cadeiras de bares e restaurantes nas ruas, foram três fatores-chave que colocaram a Saúde na rota da boemia de Salvador. Desde então, o bairro nunca mais perdeu esse posto. >
Para a professora Maria Luiza Carvalho, 27, o local se tornou um point de diversão. “Estava acostumada a ir duas vezes no mês, porque gosto muito do largo. Tem atrações ao vivo, dia de sexta-feira tem samba, dia de sábado tem banda de sofrência, no domingo tem samba de novo e, muitas vezes, tem transmissão nos dias de jogo do Bahia e do Vitória. É um lugar legal para assistir e me atrai aquele aclima. Gosto muito de fazer rolê pelo Centro e a Saúde acaba sendo um point”, declara. >
Gerson Junior, proprietário do Bar da Esquina – outra referência do bairro –, atribui o sucesso da boemia na região a três principais razões. “A segurança, o bom atendimento e a cerveja gelada são a marca registrada da Saúde. É um frevo quente, que acolhe bem a galera que chega, por isso as pessoas voltam sempre. Já vou fazer dez anos com o Bar da Esquina e, no início, não era popular assim. Com os bares, a segurança foi reforçada e temos conseguido atrair muita gente. Desde quinta-feira, as ruas enchem de gente”, comemora. >
A proximidade e diversidade entre o comércio também contribui para a atração de quem curte um bom samba e bebida trincando. Na Rua da Glória, a poucos metros onde acontece o pico de movimento, funciona o restaurante Di Janela, comandado pela premiada chef Nara Amaral. >
Para Leandro Alonso, a inserção na rota boêmia da cidade é uma vitória para os moradores da Saúde. “Juntos, nós mudamos a cara do bairro. Por causa desse movimento todos, nós temos uma atenção muito maior à segurança, conseguimos colocar câmeras com monitoramento 24h, a polícia e Guarda Municipal se fazem presentes no bairro, e conseguimos mudar até a iluminação. É um local que tem um comércio vivo, mas seguro para moradores e visitantes”, finaliza. >