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Bebida cara e insegurança: veja o que ameaça o posto de bairro boêmio do Rio Vermelho

Ex-frequentadores assíduos relatam o que os afastaram de um dos mais famosos bairros da cidade

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 25 de julho de 2025 às 05:00

Movimento no Rio Vermelho
Movimento no Rio Vermelho Crédito: Marina Silva/ CORREIO

Bairro escolhido como casa por Jorge Amado, centro de uma das maiores festas de rua de Salvador e chamariz de turistas, o Rio Vermelho é internacionalmente conhecido pela vida noturna que possui. Nos últimos tempos, no entanto, o charme ainda vivo do lugar tem dividido espaço com a insegurança e com a inflação de preços que, frente a ascensão de novos espaços de socialização na cidade, tem ameaçado o posto do Rio Vermelho como point da boemia.

O artista Henrique Nogueira, 21 anos, frequenta o bairro desde o início da adolescência e conta que o local cumpriu um papel importante de inclusão na sua trajetória como homem LGBT e negro, pela existência de estabelecimentos com políticas de diversidade que firmaram a região também como referência para a população queer. Hoje, porém, ele indica que mal reconhece aquele ambiente de antes.

“O Rio Vermelho era o ponto indie, LBGTQIAPN+ e negro de Salvador. Até então era bem tranquilo, tendo baladas, afters e lugares para comer bem, [mas] deixei de frequentar muito, porque a insegurança aumentou, teve aumento nos ingressos das casas, um superfaturamento de bebidas e comidas, também. Acho que o que tem acontecido é a tentativa de eliminar o público indie, LGBTQIAPN+ e negro do bairro”, aponta.

Henrique explica que percebe esse movimento através da alta especulação imobiliária no Rio Vermelho, que tem vivido um ‘boom’ de aluguéis. Uma vez que um empreendimento ou prédio é alugado, a alta valorização leva os comerciantes a aumentarem o preço, em um processo que, conforme apontou, tem gerado cada vez mais exclusão.

Bairro da Saúde virou um bairro cobiçado pela boemia de Salvador por Marina Silva/CORREIO

O designer Erick Santos, 23, que é frequentador de diversos estabelecimentos na região até hoje, também sempre foi atraído pelo acolhimento à diversidade e pela liberdade que existia em viver a vida noturna. Agora, ele lamenta a perda da segurança que existia no local.

“A região da Dinha, que é a que mais frequento, acabou perdendo o brilho que tinha antes. Antigamente, você poderia só ir para a rua sem necessariamente entrar em lugar nenhum e, mesmo assim, conseguir se divertir com amigos na balaustrada. Hoje em dia não conseguimos nos divertir na madrugada por dois motivos: todo mundo está em algum local fechado e existe o perigo de ser assaltado por causa das ruas mais vazias”, afirma.

Dois anos atrás, a publicitária Maria Luiza Pereira, 24, poderia ser facilmente localizada no Rio Vermelho aos finais de semana, uma vez que já tinha feito do espaço um ponto certo de encontro com os amigos. Segundo ela, o que mais a encantava no bairro eram as mais variadas possibilidades de programação em um só local. A diversidade, que era o ponto alto antes, hoje inexiste, conforme afirma.

“Está tudo parecido como antes, não tem novidade. São os mesmos DJs tocando as mesmas setlists, a mesma galera, sem contar a questão dos valores. Os drinks são caros e as entradas são pagas para rolês básicos. Um bar famoso só tem drinks a partir de R$ 25 e, apesar de algumas promoções, cada dia que passa diminuem mais o copo e entopem de gelo”, reclama.

Violência é o inimigo nº 1 do bairro

Os relatos sobre a sensação de insegurança no Rio Vermelho não são à toa. Embora a região ainda tenha uma vida noturna agitada e seja possível aproveitar os atrativos sem medo, é fato que cada vez mais pessoas têm preferido a diversão em locais fechados, onde podem se sentir menos vulneráveis a eventuais ações de criminosos.

Esse é o caso de Edilson Santos, 25 anos, que não abre mão de ir aos eventos do bairro, desde que sejam privados. Ele conta que começou a notar uma perda de fôlego da boemia durante a pandemia, quando houve uma redução dos eventos e muitas pessoas pararam de frequentar os locais abertos como antes.

"Mesmo com a flexibilização, não voltou a ser como antes e o retorno ao local se tornou um pouco inviável devido ao crescimento da violência na região, visto que hoje contamos com a disputa crescente do crime e tráfico na região e adjacências. Costuma ter alguns arrastões, jovens que se organizam, avistam algumas vítimas durante o rolê e ao final realizam suas práticas criminosas, causando e trazendo problemas para região”, relata.

O artista e produtor de conteúdo Felipe Reis conta que viu, durante esse período, espaços consolidados fechando as portas. “Tinha um karaokê muito divertido chamado Tchellos que eu amava, mas fechou. Vejo espaços bons se fechando também diante desse momento. O RV começou a terminar mais cedo, ter menos pessoas nas ruas. Agora, geralmente, vou muito para o Santo Antônio Além do Carmo, mas como um rolê mais diurno”, afirma.

Nos últimos dias, estruturas metálicas em formato de espinhos foram instaladas na região no intuito de coibir o roubo de fios junto às antenas de 5G. Com um dispositivo anti-trepação, comumente usado para impedir que pessoas escalem os postes, as hastes dificultam a subida e são uma medida de segurança contra casos do tipo registrados no bairro.

Neste ano, o Rio Vermelho também já foi assunto pela insegurança para o público LGBT, que estava sendo alvo de assaltos ao solicitar o serviço de transporte por aplicativo via moto. Na grande maioria dos casos, após solicitarem as ocorridas em locais frequentados por LGBTs, as vítimas eram seguidas e abordadas ainda durante o trânsito por motoqueiros armados que visavam roubá-los.

Tradição

A diminuição de movimento em alguns pontos, as placas de aluga-se e a insegurança são fatores que indicam a ameaça da perda da vida noturna pulsante do Rio Vermelho, na perspectiva de Lucas Pessoas, que administra o Parador Z1. “Isso afasta o consumidor de querer estar na rua. Ninguém quer sair de casa para ser roubado ou agredido”, reconhece. Por outro lado, ele pondera que a tradição do bairro faz com nenhum outro lugar possa 'roubar’ o status de point da boemia de Salvador do RV.

“A boemia vive no Rio Vermelho. No verão, o nosso faturamento este ano foi recorde. Vejo o movimento de ascensão de outros bairros, como a Saúde, como sazonal. O Rio Vermelho, muito dificilmente, vai deixar de ser o espaço boêmio de Salvador, até por uma questão de legislação. Por autorização da prefeitura, temos autorização de decibéis mais altos do que toda a média da cidade, o que permite que possamos prolongar mais a vida noturna, o que não ocorre nos outros lugares”, destaca.

Lucas Passos acrescenta ainda que o interesse do público por outros locais é natural e segue a moda, já que eles estão em alta. “A Saúde e o Carmo estão vivendo o momento de estar na moda, mas, enquanto a Saúde consegue ainda se equilibrar com a questão do som, no Carmo, depois das 22h, ninguém encontra muitos atrativos. No Rio Vermelho, temos estabelecimentos funcionando 24h ou que ficam até a manhã”, diz.

Maria José Goés, que integra a direção-executiva da Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho (Amarv), defende a mesma bandeira que o comerciante local. Ela afirma que o movimento no bairro segue o mesmo e que a Polícia Militar tem feito um levantamento que mostrou para os moradores que os números de violência apresentaram melhora.

“Não temos mais aqueles índices de assalto e nem aquela mancha na segurança. O Rio Vermelho continua sendo o bairro boêmio de Salvador, o bairro bonito e famoso da cidade. Inclusive, tem recebido novos empreendimentos. Há um público fiel e um público de turistas, porque é um bairro reconhecido internacionalmente. Então, ele continua sendo amado e procurado”, enfatiza.

A reportagem tentou entrar em contato com a Polícia Militar para saber quais ações estão sendo desenvolvidas para reforçar a segurança do Rio Vermelho, mas não teve retorno até o horário de publicação da matéria.

O CORREIO também entrou em contato com Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia (Abrasel-BA) para repercutir os entraves da boemia do Rio Vermelho e saber as possíveis soluções pensadas para o bairro, mas não obteve retorno.