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Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2008 às 12:26
- Atualizado há 2 anos
'Rifa-se um programa com acompanhante dos sonhos (...), já com motel incluído, a correr pela Loteria Federal no dia 11/10/2008, válido para 1º prêmio'. Como já ficou subentendido, o programa que a rifa sugere nada tema ver com softwares nem programação de rádio ou TV. O que está em jogo é a possibilidade de passar três horas num luxuoso motel da orla de Salvador, na companhia de uma jovem que exerce uma das mais antigas profissões do mundo. Pensou em prostituição? Quase acertou. >
Embora nada no bilhete identifique a origem, uma comissão de formandos de Ciências Contábeis da Faculdade Maurício de Nassau (antiga Fabac) assume a paternidade da idéia. Mas isenta a instituição e explica que a intenção era apenas levantar recursos para a festa de formatura. 'Ninguém está querendo levar vantagem pessoal', apressa- se em esclarecer John Silva, 23 anos, 'então não pode ser acusado de estar explorando prostituição'. >
Tudo começou, aliás, como uma brincadeira. Antes, em junho, a comissão rifou um notebook, mas a arrecadação ficou aquém das expectativas. Sonhava com R$2mil, teve que se contentar com R$1,2mil. E o grupo passou a imaginar de que forma poderia levantar recursos. O insight de sortear o programa com uma garota partiu de um dos rapazes (o nome é mantido em segredo) que garante pela qualidade do serviço das duas apresentadas como sugestão. 'Ele é cliente assíduo', diz John. >
Da idéia à ação, foi tudo muito rápido. Contatadas, as garotas concordaram em ser o chamariz da promoção e indicaram os sites em que expõem seus atributos. Os bilhetes foram impressos e distribuídos. Já circulam pela cidade, a primeira remessa de mil unidades, ao preço unitário de R$5. >
Batizada com o sugestivo nome de 'Sexo sem vergonha', a rifa tem feito o maior sucesso. Pelo menos entre os colegas de John, funcionário de uma empresa prestadora de serviço. As reações variam de acordo com o gênero. 'As meninas até compram, para me ajudar', conta.' Masoscaras estão interessados mesmo é no prêmio', observa. >
Polêmica >
A namorada de John também não encarou com bom humor a tal promoção. E já deixou claro: não admite que ele adquira um único bilhete da rifa. 'Eu nem pensei em concorrer, se pegasse, era só pra ajudar', desconversa o estudante, fazendo-se de santo. Para a moça, entretanto, há outras formas de ajudar o grupo. Uma delas, comprara R$7 um bilhete da 1ª Feijoada de Contábeis, marcada para o próximo domingo. >
Apesar da intenção aparentemente ingênua dos rapazes, a venda dos bilhetes pode ter conseqüências mais sérias, alerta o advogado Osvaldo Emanuel Almeida Alves, que também é professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). Segundo ele, vender os serviços de uma garota de programa pode ser interpretado como favorecimento à prostituição, crime tipificadonoartigo228doCódigo Penal Brasileiro. Ainda que no caso dos formandos a causa pareça ser nobre, os desdobramentos da brincadeira podem ser imprevisíveis.>
Código Penal tipifica situação como crime e prevê penalidades >
De acordo com o artigo 228 do Código Penal Brasileiro, é crime 'induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá- la ou impedir que alguém a abandone'. A pena prevista é de reclusão, de dois a cinco anos, mas pode aumentar para até oito se a vítima tem menos de 18 anos ou se o autor possui algum tipo de ascendência sobre ela. >
Faculdade não apóia iniciativa dos formandos >
O coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Maurício de Nassau, Rômulo Birindiba, diz ter sido pego de surpresa com a notícia. 'Não gostei da idéia, acho que ela pode denegrir a imagem da faculdade e do próprio curso', alegou. >
Questionado acerca do inusitado prêmio, ele disse que a criatividade dos alunos foi longe demais. 'Vivemos em uma sociedade um pouco conservadora para aceitar que um corpo seja alugado para saciar o desejo do outro', posicionou-se o coordenador do curso, dizendo em seguida haver outras alternativas mais palpáveis para se rifar.>
Informado do prêmio enquanto se dirigia à faculdade, o coordenador do curso disse que ontem mesmo conversaria com os alunos sobre o assunto e informaria o fato à direção da faculdade.>
Por conta repercussão, os estudantes organizadores da rifa polêmica desistiram da idéia e cancelaram o concurso.>
(Matéria publicada na edição impressa do CORREIO em 11/09/2009)>