Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carmen Vasconcelos
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 22:17
- Atualizado há 2 anos
Há um ano, a escola municipal Fernando Presídio, em Paripe, deu início ao cultivo de uma horta e um pomar. Com o passar do tempo, eles perceberam que precisariam crescer, mas não conseguiriam sem os insumos necessários para tornar a vegetação forte. Surgiu então a ideia de transformar os restos da merenda escolar em adubo orgânico que pudesse ser usado nas plantas e que essas, por sua vez, ajudassem a melhorar a qualidade da merenda. Hoje, a compostagem feita por eles serve à comunidade, auxiliando a uma destinação mais racional do lixo produzidos nas casas e nas feiras locais.>
De acordo com a diretora Cássia Goés, se cada escola de Salvador mantivesse um espaço de compostagem, ainda assim não daria conta de todo o lixo orgânico produzido pelas feiras livres na capital baiana. “As pessoas, geralmente, imaginam que uma iniciativa como essa tem apenas a educação ambiental como foco, mas não imaginam como essa ação já nos ajudou a trabalhar os conceitos de massa, peso e medida para matemática; além de ter permitido que os estudantes possam experimentar um protagonismo muito bonito de se ver”, conta, sem esconder o orgulho. Para ilustrar sua afirmativa, ela conta que, recentemente, a escola recebeu um novo professor e, como estava atendendo uma mãe, ela pediu a uma aluna que o apresentasse às instalações. “De repente, percebi que aquela jovem falava do espaço com muito desenvoltura, totalmente incluída nas decisões e nas realizações da escola”, completa.>
Startup>
O cantinho da compostagem existe há quatro meses e foi possível graças ao Projeto Sementinha, desenvolvido por meio de uma parceria entre a Secretaria de Cidade Sustentável (Secis) e a startup baiana SOLOS. A proposta começou envolvendo apenas a comunidade escolar. Depois foi a vez de mobilizar as famílias e agora eles já contam com a colaboração dos feirantes e comerciantes locais. Para se ter uma ideia da importância de ações como essas, basta lembrar o dado do Ministério do Meio Ambiente que afirma que mais de 50% dos resíduos gerados pelos brasileiros são orgânicos, o que corresponde na Bahia a cerca de 2,7 milhões de toneladas de restos de alimentos desperdiçados por ano. Todo esse resíduo produz gás metano, que é 23 vezes mais poluente que o CO2, produz chorume que contamina o lençol freático, gera mau odor e atrai animais vetores de doenças. Saville Alves e Gabriela Tiemy são sócias e fundadoras da startup baiana SOLOS e defendem que o Sementinhas pode ser desenvolvido em qualquer escola; (Foto: Danilo Cardoso/Divulgação) Para Saville Alves, sócia fundadora da SOLOS junto com Gabriela Tiemy, embora o projeto tenha sido pensado para essas escola, ele pode ser desenvolvido em qualquer outra unidade escolar, sobretudo porque parte da educação através de atividades lúdicas e transformadoras, buscando a interação entre conhecimento e prática na abordagem da Sustentabilidade. “O Projeto Sementinha parte da máxima defendida pela SOLOS pautada em: Plante, distribua, consuma e recicle”, esclarece, ressaltando que o projeto nasceu de uma conversa com André Fraga, da Secis, e que encontrou um vasto campo de desenvolvimento com a postura da professora Cássia, que mobilizou os funcionários e os pais em torno da resolução dessa questão da comunidade. >
Uma prova dos benefícios da iniciativa foi dada pela estudante Emily Santos,11 anos, do 5º ano. Atualmente, ela participa da separação dos alimentos, mas já plantou e colheu batata doce, amendoim e coentro. No entanto, a coisa mais importante ela conseguiu em casa: fazer com que a família aprendesse a selecionar o lixo produzido. “Hoje, minha vó, minha mãe, todo mundo deixa o lixo separadinho entre o que pode ser usado e o que vamos jogar fora realmente”, completa. >
Vale salientar que os estudantes cuidam de todo o processo. São eles que separam o resto da merenda, sempre tomando cuidado para não usar carne. Para realizar a transformação do resto de merenda e dos restos de frutas e verduras em adubo, eles colocam os restos nas baias feitas com palletes. Aliado a isso, as crianças maiores se responsabilizam por mostrar as menores como cuidar do processo de plantio, colheita e compostagem. “Os funcionários da escola são os nossos principais apoiadores e conseguimos envolver todos os seguimentos, além de termos os alunos como multiplicadores das informações e das ações”, finaliza a diretora.>