Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

'Quero saber se está vivo', desabafa esposa de motorista de app desaparecido em Valéria

Ademir Souza Paiva Júnior sumiu após ir em uma oficina no último sábado (22)

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 27 de outubro de 2022 às 15:53

. Crédito: Reprodução
Ademir sumiu há seis dais por Acervo Pessoal

Já são seis dias de angústia na casa de Graziela Paiva, 27 anos, no bairro de Jardim Nova Esperança, em Salvador. Esposa de Ademir Souza Paiva Júnior, 33, motorista de aplicativo que sumiu no último sábado (22) após ir a uma oficina no bairro de Valéria, ela passou as últimas noites com pouco sono e muita angústia à espera de respostas. "Toda hora penso nele, quero saber se está vivo em algum lugar. Ficamos na angústia dele estar amarrado, passando fome, com frio. É claro que a notícia da morte é muito pior e não queremos. Porém, a dor de ficar sem saber o que aconteceu me machuca demais", diz Graziela ainda emocionada.

Ainda de acordo com ela, a última vez em que ele conversou com alguém antes de sumir foi às 18h50 do sábado, quando disse a um amigo por áudio que estava na oficina de Valéria. Ele havia saído de casa às 18h para pegar as peças da moto que tinha colocado para pintar e levar umas rodas para vender. Além disso, Ademir teria ido também pegar um dinheiro que o dono da oficina devia a ele. No entanto, quando relógio chegou às 19h25, ele não respondeu mais nenhum tipo de contato. Esposa, amigos e familiares tentaram acioná-lo, mas não foram atendidos e nem respondidos via aplicativos de mensagem.

[[galeria]]

Procura e suspeita

Preocupada com o desaparecimento de Ademir, Graziela procurou a oficina e o dono por telefone para ter notícias dele. No entanto, o que foi dado em resposta não batia com os relatos que o motorista de aplicativo deu antes de sumir. "Ligamos às 20h, quando tudo estava acontecendo. Ele não atendeu. Quando deu 21h, ele atendeu e disse que Ademir não tinha chegado lá. Questionamos isso porque ele disse que estava lá e, no áudio, dá para ouvir que não estava falando de dentro do carro", diz Graziela.

Para tentar provar o que disse, o dono da oficina mandou um print de tela para ela com as mensagens que trocou com Almir. No entanto, o horário dos envios e detalhes de alterações na imagem geraram desconfiança. "Falou que estava esperando e, até aquele momento, não teria chegado. Inclusive, disse que tinha mandado mensagem já para Ademir perguntando. Porém, isso não é verdade. Ele só fez isso depois que a gente ligou, deu para ver no print que mandou", afirma.

Na imagem enviada à reportagem pela família, a mensagem que teria sido enviada pelo dono da oficina está registrada às 21h36 do sábado, depois da família e dos amigos procurá-lo, segundo Graziela. Veja abaixo: Print da conversa entre Ademir e o dono da oficina (Foto: Reprodução) A esposa e os outros familiares preferiram não fornecer o contato do dono da oficina para a reportagem por medo de questões judiciais. A Polícia Cívil, porém, informou que este foi ouvido pelos investigadores, bem como a família. A Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP) segue apurando o caso. Inclusive, o carro de Ademir, que foi encontrado em posse de outra pessoa em Valéria, já foi periciado pela polícia. Quem o dirigia foi abordado por um amigo que reconheceu o veículo, mas conseguiu fugir após abandoná-lo em uma rua escura.

Na mira dos bandidos

São diversos os relatos de motoristas de aplicativos em Salvador que foram vítimas de roubo e tiveram seus veículos usados por bandidos em ações criminosas. O Sindicato dos Motoristas por Aplicativos do Estado da Bahia (Simactter) foi procurado para falar sobre a situação, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. A Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), apesar de não responder sobre o número de crimes contra a categoria, fez questão de ressaltar que há uma linha específica para denúncias de ações criminosas contra estes trabalhadores, além de sugerir uma mudança para a classe.

"Existe também um direcionamento específico para delitos contra motoristas de aplicativos. Qualquer ligação via 190 é encaminhada de forma prioritária para as guarnições mais próximas da ocorrência. [...] A SSP destaca a necessidade de padronização dos veículos, facilitando a atuação mais específica das equipes ostensivas", escreve por meio de nota.

Para Sandro Cabral, professor do Insper e da Ufba de estratégia no setor público e autor de diversos trabalhos na área de segurança pública,  a sugestão não é interessante. Isso por conta da natureza do negócio de motoristas de aplicativo. "É difícil impor isso. A grande sacada dos aplicativos é a flexibilidade. Você tem seu carro agora e pode usar para essa atividade. Pouco provável que [a padronização] seja implementada pela natureza dessa atividade", explica.

Para Cabral, é mais fácil e mais factível a promoção de ações integradas das forças de segurança e monitoramento no combate aos ataques que têm os motoristas de aplicativo como alvo. "A PM que está na rua precisa ser altamente integrada a PC na investigação. A questão de integração com a prefeitura é importante também. Veículos roubados podem ser identificados através de câmeras. Se você tem radar que, além de detectar velocidade, tira foto de todos os carros, isso pode disparar alarmes para carros roubados", sugere o professor.

Relembre crimes conta motoristas de aplicativo nos últimos três meses:

No início de outubro, foram encontrados dois corpos no porta-malas de um carro na Avenida Caribé, perto do aeroporto. Um deles era o motorista por aplicativo Yuri Vinicius Ribeiro, 26 anos. Yuri era morador do bairro de Vida Nova, em Lauro de Freitas. Um primo de Yuri, que preferiu não se identificar, contou que ele estava bebendo em um bar, saiu e depois não deu mais notícias. No dia 2 de setembro, um motorista por aplicativo foi encontrado com as mãos amarradas em uma área de vegetação na Estrada das Pedreiras, em Salvador. Uma ocorrência de desaparecimento chegou a ser registrada na Delegacia de Proteção à Pessoa, na quinta (1º), pelo irmão da vítima. Segundo a Polícia Civil, o motorista informou que havia sido sequestrado no bairro de Boca da Mata por quatro pessoas ainda não identificadas, na última terça-feira (30). A polícia, no entanto, não informou qual foi a motivação do crime.

No dia 31 de agosto, um motorista por aplicativo foi baleado durante um arrastão na Avenida Afrânio Peixoto, mais conhecida como Suburbana, no Subúrbio Ferroviário. O homem, que não teve nome divulgado, foi socorrido para o Hospital do Subúrbio. Nenhum suspeito foi preso no local, que fica na altura do bairro de Santa Luzia. O caso foi investigado pela 5ª Delegacia. No dia 17 de agosto, o motorista por aplicativo Florisvaldo Rodrigues Filho, 47 anos, foi enterrado no Cemitério Bosque da Paz após ser vítima de latrocínio na Avenida Pinto de Aguiar, em Salvador. De acordo com a Polícia Civil, uma equipe do Silc/DHPP foi acionada, expediu as guias de perícia e lesões corporais e iniciou a apuração. A autoria e motivação do crime foram investigadas pela 9ª Delegacia Territorial (DT) da Boca do Rio. Também no dia 17 de agosto, o corpo do motorista por aplicativo Clézio Nunes dos Santos, 39 anos, foi encontrado, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. Ele desapareceu dois dias antes de ser encontrado morto, segundo registro da família da vítima. A polícia não detalhou como Clézio foi morto. Clézio era mototaxista na semana e trabalhava como motorista de app nos finais de semana. No dia 16 de agosto, o motorista por aplicativo Edivaldo Cunha da Silva, 37 anos, que desapareceu depois de uma corrida em Salvador, foi encontrado com vida. Edivaldo contou à família que foi sequestrado por dois homens e uma mulher, que o colocaram no porta-malas do carro, onde ficou sem comer e beber água. Ele chegou em casa desnorteado e fraco. No dia 6 de agosto, um motorista de aplicativo foi morto a tiros, em uma fazenda de Prado, no sul da Bahia. O corpo de Lucas Barbosa de Sousa, de 22 anos, foi achado um dia depois do rapaz desaparecer após aceitar uma corrida para Alcobaça, segundo a Polícia Civil, que investigou o crime.