Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Elaine Sanoli
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 05:30
Após passar em média cinco anos na universidade se preparando para atuar na área, advogados recém-formados precisam lidar com desafios ainda maiores que do que as difíceis questões das provas de direito penal: os baixos salários do mercado de trabalho. Plataformas como a GlassDoor apontam que o salário de advogado em Salvador, com até um ano de experiência, é em média R$ 3 mil. Na prática, não é difícil encontrar profissionais que ganhem um salário mínimo, fixado atualmente em R$ 1.518,00, ou até menos do que isso, com escritórios que oferecem até R$ 1,2 mil para recém-formados.>
Em vagas encontradas pelo CORREIO para a cidade de Salvador, os salários costumam variar de acordo com requisitos, carga horária e escritórios. Em uma das vagas compartilhadas por meio do Instagram, a oferta é de uma bolsa no valor de R$ 1,2 mil para estudantes próximos da conclusão do curso ou profissionais recém-formados, com carga horária de 6h diárias para o cargo de trainee. Em outro caso, desta vez na plataforma LinkedIn, a vaga é para advogado júnior, com a proposta de R$ 1,7 mil. Há vagas que oferecem remunerações mais altas, como R$ 2 mil, mas consideram um diferencial para o candidato uma pós-graduação.>
Veja vagas para advogados encontradas pelo CORREIO
Trabalhar diariamente com salário precarizado foi uma das experiências vividas pelo profissional Vitor Guimarães, de 30 anos. Formado há dois anos, Vitor atua na área do Direito Bancário e trabalha em escritórios de advocacia há um ano. Nesse período, já chegou a receber cerca de R$ 2 mil como pagamento mensal. "Era inferior ao valor que eu ganho hoje. A gente acaba não tendo muito poder de escolha, pois a gente está recém-formado, não tem muito pra onde correr", opina.>
Ele conta que passou a receber um salário na faixa de R$ 2,5 mil após deixar o emprego antigo. O valor, no entanto, ainda está aquém do que o profissional acredita ser uma quantia justa pela força de trabalho demandada pela área, pela dedicação e dispêndio de tempo e esforço empreendidos na formação. Vitor sugere a remuneração de R$ 4,5 mil para profissionais, independente da categoria, em ingresso no mercado de trabalho. "Enfrentando as dificuldades financeiras que a gente tem hoje em dia, é um valor que a gente consegue agregar na nossa rotina e na vida financeira", pondera.>
A baixa atratividade nos salários para profissionais de Salvador também foi um dos fatores que levaram a advogada Maria Clara Teles, de 28 anos, a atuar no mercado paulista. Trabalhando na área de Compliance, mesmo como estagiária, ela conta que chegava a ganhar mais do que advogados juniores da capital baiana. "Aqui em Salvador tenho colegas que recebem um salário-mínimo sem benefícios. Acho injusto porque são anos de dedicação na graduação, mais dedicação para passar no exame da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e os salários para ser empregado ainda é bem baixo, não possibilita viver uma vida tão confortável como esperamos durante a graduação", lamenta. >
Atualmente, não há um piso salarial devidamente regulamentado para a categoria no estado baiano. Desde 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Bahia (OAB-BA) pleiteia a aprovação de um piso para a advocacia. O projeto elaborado pelo Conselho Consultivo da Jovem Advocacia propõe um piso de R$ 3,5 mil, com a possibilidade de reajuste anual para correção acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). >
O anteprojeto foi enviado para o governador do estado, para posterior encaminhamento à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), mas o projeto continua escanteado, mesmo após 10 anos de debate. Por isso, é comum que escritórios ofereçam valores abaixo da sugestão da Ordem. "O fato é que esse projeto nunca foi encaminhado, então nós não temos ainda um piso salarial cogente. De modo que aquele escritório que eventualmente não paga o piso não pode sofrer nenhuma sanção por eventualmente não estar respeitando esse valor indicado pela OAB", explica o vice- presidente da Ordem na Bahia, Hermes Hilarião. >