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Sem dinheiro pra pagar contas, Igreja do Pilar só vai abrir aos domingos e dias santos

Erguido no século 18, templo, que tem até cemitério, é famoso por sua fonte milagrosa

  • D
  • Da Redação

Publicado em 15 de novembro de 2022 às 05:00

. Crédito: Divulgação

Quem passa ou visita a Igreja do Santíssimo Sacramento Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia — ou, simplesmente, Igreja do Pilar —, no bairro do Comércio, em Salvador, logo quer pegar um pouquinho da água do milagre que jorra da fonte instalada no templo. A aposentada Ângela Farias, 66 anos, inclusive, aproveita a oferta abundante do recurso para fazer o café em casa. “Quando a gente coloca aqui na vasilha, pra fazer o café, é impressionante. É diferente!”, conta ela, empolgada. 

Mas, por falta de recursos, o administrador da igreja, o padre Renato Minho, viu-se obrigado a restringir o horário de funcionamento do local. Diante das atuais condições, a tendência é de que, em vez de estar com as portas abertas em seis dias da semana (de terça a sábado), o santuário passe a funcionar somente nos domingos, com missa às 9h, e nos dias santos e no dia 13 de cada mês, com celebrações às 8h e 10h.

“Com essa medida, os devotos, romeiros e os turistas, que frequentemente nos visitam durante a semana, ficarão impossibilitados de ter acesso à igreja, assim como à água do milagre”, diz um comunicado publicado pelo padre nas redes sociais. 

Segundo o sacerdote, as despesas referentes à manutenção do templo incluem, por exemplo, as remunerações de uma funcionária, que tem carteira assinada, e de uma diarista. 

“Temos contado com poucos devotos generosos, que infelizmente não conseguem, com suas ofertas, honrar conosco as despesas”, lamenta-se Minho. “Não podemos sobrecarregar os poucos devotos que generosamente nos ajudam”, acrescenta. 

A situação é tão crítica que as luzes do santuário deixaram de ser acesas durante as missas realizadas pela manhã. “Já tem três domingos que eu não acendo mais nenhuma luz da igreja. No mês passado, eu paguei 890 reais [de energia]”, relata o padre, assustado com o aumento, já que costuma gastar entre 700 e 800 reais com o serviço. 

Além disso, o espaço sofre problemas estruturais. “O altar-mor está escorado, para cair. Eu tenho, aqui, uma parte de infiltrações. [...] E o cemitério, que está muito desgastado, sobretudo, as pilastras”, lista Minho. 

Ele faz questão de ressaltar que não está cobrando pelo acesso à igreja, e sim tentando convencer as pessoas de que sua manutenção deve ser uma responsabilidade compartilhada. 

“Para ter acesso a um ambiente agradável, com o padre e a funcionária estando aqui, a igreja tem que estar aberta”, destaca o sacerdote. “Mas como é que a igreja está aberta? Tem energia, água, material de limpeza. A igreja é muito grande”, justifica.  

Quem quiser ajudar a mantê-la funcionando, pode enviar qualquer quantia por meio da chave Pix [email protected]. Porém, antes, o padre recomenda visitar o local. “A gente só cuida daquilo que a gente conhece, daquilo que a gente ama”, acredita ele. 

Para contato, estão à disposição o perfil @igrejapilarsantaluzia no Instagram e o telefone (71) 99306-9149. Em comemoração ao Dia de Santa Luzia, no próximo mês, haverá uma programação especial, com tríduo, nos dias 10, 11 e 12, e alvorada, missas e procissão, no dia 13. 

História e atrativos 

Erguida em 1738, a Igreja do Pilar ficou fechada por cerca de 17 anos, entre meados da década de 1990 e 2012, devido a condições precárias. O santuário apresenta elementos dos estilos barroco, neoclássico e rococó e, à parte de sua própria beleza, conta com 17 painéis de autoria do baiano José Teófilo de Jesus expostos. Um cemitério ao estilo neoclássico, de 1851, anexo ao local — exclusividade entre os templos da capital — também chama a atenção.

Além disso, dispõe de uma loja de artigos religiosos e da já mencionada Fonte da Água do Milagre, seu principal atrativo, que, aliada aos demais, conquista visitantes de outros estados e até de outros países. 

“A procura é muito grande. Vem gente de tudo o que é canto”, afirma o padre Renato Minho, que não sabe dimensionar o tamanho do templo nem a quantidade de pessoas que o visitam. 

Embora ali já estivesse, a fonte recebeu a fama de ‘milagrosa’ apenas após a chegada, em 1902, da imagem de Santa Luzia, invocada pelos fiéis como protetora dos olhos. “Conta-se que o cidadão bebe da água, lava os olhos e volta a enxergar”, diz o sacerdote. 

No entanto, o padre lembra que a padroeira da igreja é Nossa Senhora do Pilar, também padroeira da Espanha. “Eu digo sempre que Santa Luzia traz o povo de volta a essa casa”, esclarece ele. Principal atrativo da igreja, conta-se que a água da fonte seria capaz de fazer pessoas voltarem a enxergar (Foto: Divulgação) Prova disso é que o aposentado Raimundo Nonato Vieira, 73, passou a ser frequentador assíduo depois de ter se recuperado de um derrame ocular — causado pelo rompimento de vasos sanguíneos, mas que não afeta a visão. “Eu pedi a intercessão de Santa Luzia [para] que eu alcançasse a graça", diz Raimundo Nonato.

Segundo o aposentado, é a fé o que faz com que ele e sua esposa saiam de Cajazeiras X todo domingo para assistir à missa no Comércio. “Eu sou movido pela fé. [...] De noite, eu frequento [as igrejas] aqui onde moro, mas, de manhã, na missa das 9h, sempre me faço presente”, compartilha o idoso. “Termina a missa, a gente vai, faz um lanche, bate papo com um, bate papo com outro...”, alegra-se. 

Já Ângela Farias, que você conheceu no início do texto, mora bem mais perto dali, na Graça. Mas foi só em 2020, durante a pandemia, que ela se aproximou do santuário de fato. “Ele [padre Renato] celebrava a missa, com todo aquele cuidado, e a gente [ela, o esposo e dezenas de outros fiéis] ficava dentro do carro”, recorda-se a aposentada.

Ângela enfatiza a importância do patrimônio e também do acolhimento realizado. “Além de fazer parte do patrimônio cultural da nossa cidade, é um acolhimento muito grande que a gente recebe. Hoje, ele tá trazendo peregrinos, o que não acontecia”, afirma a devota de Santa Luzia. “A gente precisa de uma ajuda mais consistente”, apela.

Impactos positivos à comunidade 

Embora a Igreja do Pilar receba visitantes das mais distintas origens, não é só quem vem de fora que reconhece seu valor. “Nós não tínhamos a iluminação que temos hoje. Gari todos os dias. O bairro mudou muito [de três anos pra cá, com a chegada do padre]. Dia de domingo, nas nossas missas, temos segurança na porta”, indica como benefícios a dona de casa Ana Cristina Silva, 54, moradora da Rua do Pilar, onde fica a igreja, há 20 anos. 

Faz cerca de 15 que ela frequenta o santuário e dez que integra sua Irmandade. “Aqui na igreja, o padre corre muito atrás de cesta básica para distribuir para as pessoas carentes. [...] Tudo aquilo que você imaginar ele faz”, garante Ana Cristina. “Não só pela comunidade: tem pessoas que vêm de Cajazeiras, Liberdade, São Marcos, pedir ajuda”, acrescenta. 

A iniciativa foi potencializada pela implantação de uma unidade do programa de coleta de material reciclável So+ma Vantagens. “O pessoal traz o material para reciclar e troca por alimentos para entregar às pessoas mais carentes”, explica o padre Renato. 

O sacerdote conta que há, também, em parceria com a prefeitura, uma horta comunitária, que cresce ainda de maneira tímida. “Tem algumas coisinhas já: um hortelã, um coentro, um pimentãozinho", cita ele. 

A região, hoje, dispõe de iluminação de LED e sinalização. Em frente à igreja, há um estacionamento gratuito que comporta até 200 carros. Além disso, perto dali, estão um ponto de ônibus e o Plano Inclinado Pilar, que funciona de segunda a sexta-feira, entre 7h e 17h, gratuitamente.