Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2022 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Se o ditado popular diz que apressado come cru, em véspera de feriado em Salvador, quem se adiantou conseguiu economizar. A três dias da Sexta-feira Santa, os alimentos típicos mais consumidos pelos baianos nesta época do ano acumulam alta de até 50% em apenas uma semana, segundo pesquisa realizada pelo CORREIO na Feira de São Joaquim. Para quem quer gastar menos, a dica é garantir os ingredientes o quanto antes. >
Manter a tradição de comer caruru, vatapá e moqueca de peixe no feriado da Semana Santa vai ser mais difícil para quem mora na em Salvador. O CORREIO realizou uma pesquisa de preços em duas sexta-feiras - 1º de abril e 8 de abril - e comprovou: quanto mais perto do feriado, mais caro ficam os alimentos. O cento de quiabo, por exemplo, sofreu um reajuste de 50%, saltando de R$ 8 para R$ 12. Já o camarão seco acumula uma alta de 22%, custando entre R$ 16 e R$ 40. >
Apesar de estar cerca de R$15 mais cara do que em 2020, a castanha não sofreu aumento de preço nesta semana. O quilo do produto inteiro custa em média R$60 e a castanha quebrada R$45. O amendoim, que antes era comercializado por R$10, subiu para R$12.>
O litro do azeite de dendê manteve o preço médio de R$10. Outro produto que também não sofreu reajuste foi o coco seco, custando R$4 a unidade. Para quem vai fazer compra na feira, o ideal é levar dinheiro ou realizar o pagamento via Pix para receber descontos na hora da negociação com os feirantes.Variação de preço dos produtos nos dias 1º e 8 de abril na Feira de São Joaquim Quiabo (cento): R$8 e R$12 Camarão seco maricultura (kg): R$30 e R$38 Camarão seco tipo moura (kg): R$12 e R$16 Amendoim (kg): R$10 e R$12 A professora Tércia Peixoto aproveitou a tarde de sexta-feira (8) para fazer as compras para o feriado na feira. Segundo ela, que já estava fazendo pesquisa de preço nos últimos dias, os valores dos produtos têm se estabilizado, porém, em um patamar alto. “Hoje eu comprei o camarão por R$40 o quilo e a castanha por R$60. Prefiro fazer as compras aqui do que no mercado para economizar”, conta. >
Já a doméstica Ivaneide de Jesus se assustou com o preço de um produto específico: “O que eu achei mais caro foi a castanha, achei até de R$80 o quilo. Isso porque eu compro a quebrada, a inteira está mais cara ainda”. Para o vendedor Valter Francisco, que trabalha na feira de São Joaquim há mais de 20 anos, o aumento do dólar tem favorecido a exportação das castanhas, que ficaram mais caras no mercado interno. >
Na sua percepção, muitos soteropolitanos fizeram compras com antecedência, tanto para economizar como para evitar a feira cheia dos dias que antecedem a Semana Santa. “Muita gente vem comprar logo para não pegar o tumulto, as pessoas também acham que o preço vai subir, aí compram para guardar em casa”, afirma. >
Aloísio Soares trabalha vendendo quiabo na feira há pelo menos 10 anos. Quando ainda faltava uma semana para a sexta-feira Santa, o feirante reclamou do movimento da feira, que estava menor do que no ano passado, mas esperava alavancar as vendas com a maior proximidade do feriado. Há duas semanas, 100 quiabos eram vendidos a R$6, agora está o dobro do preço. Aloísio não descartou nova alteração: “Pode subir mais ainda, na Semana Santa vai de R$15 à R$20”. >
Para o professor de economia e integrante do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-Ba), Alex Gama, é comum que os preços dos ingredientes aumentem em véspera de feriados, já que a demanda do consumidor fica maior. “Toda vez que chega num período como Semana Santa, é histórico ter a elevação dos preços dos produtos. Porque há o costume de comer peixe, por exemplo, e isso pressiona a demanda”, diz. >
O preço dos combustíveis também é um fator responsável pelo aumento dos produtos, porque o frete fica mais caro. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acelerou para 1,62%, o que representa a maior taxa para o mês em 28 anos. Na prática, isso significa que os brasileiros estão gastando mais, sem ter um acréscimo proporcional do salário. >
“A capacidade do consumo das pessoas foi prejudicada porque muita gente perdeu renda durante a pandemia, o que é um agravante no orçamento. Quando a pessoa perde renda, passa a utilizar mais o crédito, o que tem elevado o endividamento das famílias. Houve o aumento dos alimentos, mas não teve aumento real do salário”, explica Alex Gama. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação está em 11,3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). >
Acostumada a ter contato com o preço dos alimentos todos os dias, a caixa de supermercado Priscila Oliveira, 33, ainda se surpreende quando vai à feira. Enquanto comprava camarão seco para usar como ingrediente nos pratos da comida baiana na Semana Santa, ela contou para a reportagem que não costuma comprar à primeira vista e que está sempre fazendo pesquisas de preços. >
"Nesses últimos dias não achei que os preços subiram muito, mas de dois anos para cá ficou tudo muito mais caro", afirma. Na ocasião, Priscila comprou o quilo do camrão por R$38 e da castanha por R$38. Mesmo com a alta dos itens, a caixa não vai deixar de cozinhar para a família, como tradicionalmente faz no feriado.>
Peixe mais caro na mesa >
Da cesta de itens ligados à Páscoa, o peixe foi um dos que aumentou de preço. Em média, o valor do produto subiu 4,55% no estado, de acordo com a Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-BA). Segundo o levantamento, a alta dos produtos da Páscoa chega a 10,27% em um ano na Bahia. >
Na feira de São Joaquim, os peixes que mais costumam ser vendidos, a corvina e arraia, custam entre R$12 e R$20 o quilo. A expectativa, no entanto, é de aumento de preços antes do feriado. Outro pescado que aparece na mesa de muitas famílias nesta época do ano é o bacalhau. No Mercado do Rio Vermelho, a Ceasinha, o quilo do produto variava entre R$89 e R$239 dependendo do tipo escolhido, na sexta-feira (8). >
Enquanto que o bacalhau desfiado é o mais em conta, o lombo, mais consumido, custa entre R$135 e R$179 na Ceasinha. Leilita Lima, responsável pelo box Mar Aberto, conta que no ano passado as vendas foram melhores do que este ano. “A gente fez muito delivery, mas a gente espera que o movimento cresça na semana do feriado. O preço por enquanto está esse, mas pode subir com a proximidade”, afirma. Um vendedor da loja conta que na Páscoa passada, o lombo do bacalhau era vendido a R$120, um valor 33% menor. Preços do bacalhau (kg) no Mercado do Rio Vermelho Bacalhau saithe 7/9: R$89,90 Bacalhau desfiado: R$89,90 Bacalhau gadus morhua/lombo: entre R$135 e R$179 Bacalhau gadus morhua sem pele e espinha: R$239 Comércio prejudicado >
Quem aproveita a Semana Santa para alavancar o negócio próprio tem sentido na pele a dificuldade com a inflação. Elenice Santos Conceição é dona do restaurante Casa da Nice, no bairro Amaralina, há 15 anos. Há pelo menos cinco, a cozinheira cria um cardápio especial para o feriado e vende kits de comida baiana para uma até quatro pessoas. >
Como já tem o costume de fazer as compras dos ingredientes, Elenice aproveita para economizar comprando com antecedência. O camarão seco que usa para bater e fazer de tempero, por exemplo, foi comprado por R$11 o quilo, cerca de dez dias antes do feriado. >
Mesmo sentindo o aumento dos preços, Elenice segura o quanto pode o repasse aos clientes, que, segundo ela, somem se os preços subirem demais. “Eu nunca vi os preços tão caros como estão agora [...] O quilo do feijão já foi R$2, hoje está R$6. Mas não dá para repassar muito o valor, senão o cliente foge”, diz. O kit para uma pessoa sai a R$40, R$75 para duas e R$145 para uma família de quatro pessoas.>
A cozinheira Ana Cristina Guimarães trabalha vendendo marmitas há cerca de 13 anos e sempre às sextas-feiras o cardápio é comida baiana. Um pouco antes da pandemia, Ana foi contratada para trabalhar em um restaurante em um shopping da capital, mas o estabelecimento acabou fechando devido à falta de lucro durante o período de lockdown. Sem o novo emprego, ela voltou a fazer os pratos em casa. Os filhos de 14 e 17 anos são responsáveis pelas entregas, que ficam restritas à região onde vivem, na Estrada Velha do Aeroporto. >
Com a alta do preço dos alimentos, Ana conta que precisou aumentar o preço das marmitas de R$15 para R$17. A cozinheira diz que para economizar fica sempre atenta às promoções para comprar os itens o mais barato possível. "Eu vou muito atrás de preço, sigo vários mercados no Instagram e quando vejo que tem promoção, corro lá para ver o que me interessa. Porque se não for assim não tem como continuar", diz. >
Durante a Semana Santa, ela monta kits de comida típica que são vendidos entre R$12 e R$40, a dependender da quantidade. Também constam no cardápio moquecas e frigideira de bacalhau. >
Dicas de onde comprar comida baiana pronta no feriado:>
Casa da Nice (@casadanice):>
O que: Kit ceia tradicional (vatapá, caruru, farofa de azeite com camarão e cebola, arroz, feijão fradinho e banana frita), kit moqueca, frigideira de bacalhau e bobó de camarão>
Preço: Entre R$40 e R$175>
Onde: Amaralina>
Contato: (71)98761-9944 >
Encomenda: Até quarta-feira (13)>
Delícia da Cris>
O que: Kit caruru e vatapá, moqueca e frigideira de bacalhau>
Preço: Entre R$12 e R$155>
Onde: Estrada Velha do Aeroporto>
Contato: (71)98664-4661>
Encomenda: Até terça-feira (12)>
Dendêlirando (@dendelirando)>
O que: Oito opções de kits de comida baiana, incluindo vatapá, caruru e moqueca>
Preço: Entre R$172 e R$395>
Onde: Novo Horizonte>
Contato: (71)99324-6582>
Encomenda: Até quarta-feira (13)>
Dona Baiana (@dona_baiana)>
O que: Kits de comida baiana com xinxim de frango, moqueca de peixe ou camarão>
Preço: Entre R$56 e R$210>
Onde: Praça da Sé>
Contato: (71)99734-3309>
Encomenda: Até quinta-feira (14) às 15h>
Comida Baiana da Nira (@comidabaiana_nira)>
O que: Quentinhas de xinxim de frango e moqueca, porções de vatapá, caruru e acompanhamentos>
Preço: Entre R$12 e R$55>
Onde: Simões Filho>
Contato: (71)98712-5287>
Encomenda: Até terça-feira (12)>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela. >