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Nilson Marinho
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 02:30
- Atualizado há 2 anos
Quase um século de história familiar que viraram cinzas. Assim pode ser definido o incêndio da Serraria Carvalho, que pegou fogo na noite dessa segunda-feira (3), na Baixa dos Sapateiros, Centro Histórico de Salvador, provavelmente vitimando o seu atual dono, o comerciante José Hunaldo Moura de Carvalho, 85 anos. Ele herdou o espaço do pai e, nos últimos anos, vinha tocando a loja sem as devidas condições de segurança, como informam vizinhos, comerciantes e até funcionários ouvidos pelo CORREIO.>
José, que sabia do perigo das instalações elétricas expostas, ficou desaparecido por 25 horas desde que a madeireira, que ficava no casarão de número 338 da Avenida J.J.Seabra, pegou fogo por volta de 22h. As chamas se alastraram para outros dois casarões ao lado, destruindo no total cinco estabelecimentos comerciais.>
O corpo do comerciante foi localizado no final da noite de terça. Cerca de 20 bombeiros permaneceram durante toda a manhã fazendo o rescaldo do que havia sobrado em meio às cinzas. No final da tarde, após escoramento das estruturas, foram iniciadas as buscas ao corpo do idoso dentro do imóvel.>
Nada pôde ser recuperado e os prejuízos, segundo estima a Associação de Lojistas da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha (Albasa), podem chegar a R$ 150 mil para cada loja atingida, incluindo materiais e estrutura física – cerca de R$ 750 mil no total.>
O estabelecimento comandado por José Hunaldo Moura de Carvalho tinha a razão social Serraria e Organização Carvalho. Por lá, ele cormercializava de tudo um pouco: desde móveis de madeira antigos, que ele comprava e, ocasionalmente, recuperava, além de antiguidades, bugigangas e materiais de construção. No estabelecimento era possível encontrar antiguidades, bugigangas e materiais de construção (Foto: Emerson Cabral/Leitor CORREIO) Ciente do perigo Donos de lojas vizinhas, moradores da região e clientes se preocupavam com o estado com as instalações da serraria. Quem frequentava o espaço garante que no local havia muito material inflamável, além de fiações em estado precário e à mostra.>
A informação de que a fiação estava comprometida foi confirmada por um funcionário do estabelecimento. Ele já estava há cerca de 20 anos ajudando José Hunaldo a tocar o comércio. >
Segundo Renato Alves, 58, havia fios espalhados pelo forro do casarão. Inclusive, conta ele, o próprio José tinha consciência dos perigos. Ele costumava, todos os dias, antes de dormir, desligar a caixa de energia do comércio."Ele sabia desse problema. Já havia comentado comigo que estava preocupado com os fios", conta o funcionário.O comerciante morava dentro da própria loja, em uma kitnet construída por ele mesmo. Dali pouco saía e se dedicava exclusivamente ao trabalho. "Vivia para isso. A vida dele estava toda aí", resume a ex-mulher, a dona de casa Elisabeth Macedo, 49.>
Perda total Emerson Cabral, 46, era cliente da loja há cerca de 15 anos. O espaço, lembra ele, era um emaranhado de coisas, um local que ele classifica como "pitoresco". "Ali encontrávamos material altamente inflamável. Era uma mistura de antiguidades com produtos de marcenaria. Parecia um antiquário, era muito interessante. Mas não tinha nenhum tipo de segurança, sem extintores. O sistema elétrico também era comprometido", lembra Emerson, que mora no Centro Histórico. A comerciante Aline Mércia Macedo, 31, era dona da Vitrine Joias, uma pequena loja de atacado e varejo de bijuterias e joias que ficava em um estabelecimento depois da madeireira. >
Aline fechou a casa comercial por volta das 17h. Às 22h10, quando já estava em casa se preparando para descansar, foi avisada sobre o incêndio. Naquele momento, ela imaginava apenas que a serraria estava em chamas, mas, ao chegar no local, percebeu que o fogo tomava conta de várias outras lojas, inclusive a sua. "Um investimento de uma vida toda que se transformou em cinzas. Não sei como vai ser amanhã. Só Deus para me dar forças", lamentou Aline.Ela calcula que o prejuízo tenha sido de R$ 20 mil, já que toda a loja ficou destruída.>
O empresário Gomes Brito, 64, é pai da dona da loja Verona Kids. Lá eram comercializadas roupas infantis, além de enxoval para bebês. Tudo foi perdido, o que gerou um prejuízo de R$ 40 mil, segundo estima Brito.>
"Estava precisando de fiscalização, assim como todos os outros casarões da Baixa dos Sapateiros. Infelizmente minha filha perdeu tudo. Ela estava em São Paulo, realizando compras para a loja. Tive que avisar por telefone", relatou.>