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Alexandre Lyrio
Publicado em 1 de março de 2016 às 19:45
- Atualizado há 2 anos
Como se partisse para um contragolpe, ele contorce a boca, trava os dentes e prende a respiração. Está com a guarda baixa, sem defesa, mas tira forças de onde não tem. A luta mais importante da vida do mecânico Edmilson Gonçalves dos Santos, 47 anos, chega ao último round dentro de algumas horas.>
Condenado há dez anos de prisão em regime fechado por estuprar a enteada, Edmilson tenta provar a sua inocência em um novo julgamento, marcado para amanhã, dois anos depois que a própria vítima voltou atrás e disse que mentiu à Justiça.Último round: homem condenado por estupro de enteada tenta provar inocência em novo julgamento(Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO)O CORREIO noticiou o caso em primeira mão em setembro de 2014. Acompanhada da mãe, logo depois que completou 18 anos, Lanara de Jesus Nunes foi ao Ministério Público e desfez toda a acusação. Depois, confirmou tudo em juízo. Cambaleando pelo duro golpe que recebeu meses antes, ao ser preso enquanto trabalhava, Edmilson ganhou novo fôlego.>
O advogado do detento solicitou a abertura de um processo de revisão criminal. Na época, Edmilson chegou a receber a visita da família inteira, inclusive da "vítima". Só agora o processo de revisão foi concluído e ele ganhou o direito de ser julgado novamente. >
Quando o gongo soar às 8h30 dessa quarta-feira (2), momento em que os desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) iniciam a sessão plenária, Edmilson vai saber se ficará de pé ou se receberá um knockdown de mais oito anos atrás das grades. >
Apesar de ter sido preso em 2014, a acusação de estupro se deu em 2009, quando Lanara de Jesus Nunes, hoje com 19 anos, afirmou que havia sido abusada três ou quatro vezes pelo padrasto. O juiz Paulo César Bandeira de Melo Jorge condenou o réu baseado no depoimento da vítima e de testemunhas da família do pai de Lanara. >
Enteada confessou mentira à Justiça; padrasto chegou a ser espancado na cadeiaAntes, em junho de 2012, a menina já havia se dirigido ao MP para dizer que mentiu. Mas, à época, o depoimento não foi anexado ao processo. "O caso já estava transitado em julgado e não cabia recurso", explicou o advogado Revardiêre Assunção, que deu entrada no processo de revisão criminal.>
No momento da justificação criminal, em audiência realizada no dia 19 de agosto de 2014, a jovem voltou a afirmar em juízo que não sofreu qualquer abuso. Dessa vez, na frente do juiz Eduardo Caricchio, reafirmou a inocência do padrasto.>
"Quando me acusou Lanara foi influenciada pela pai, que não queria o meu relacionamento com a mãe dela. Lanara foi atraída pela educação liberal do pai", explicou à época Edmilson, preso até hoje no Pavilhão 4 da Penitenciária Lemos de Brito (PLB), na Mata Escura. >
"Aqui fui espancado algumas vezes, até bicuda na cabeça eu levei. Só não fui abusado sexualmente. O pior é a violência psicológica. Estou tentando ser forte, mas está muito difícil", disse o interno.Mãe diz que pai biológico influenciou falsa denúncia"Edmilson sempre foi o pai que Lanara não teve. O pai biológico deixa ela fazer tudo o que quer. Por isso ela caiu na conversa dele. Se Edmilson fosse culpado eu seria a primeira a procurar a polícia", disse ontem a mãe da "vítima", Dilma Santana de Jesus, 37 anos.>
Dilma conta que a filha é usuária de drogas, tem problemas psicológicos e não tinha noção das consequências das acusações que fez. "Lanara tem dupla personalidade, é facilmente influenciada. Tanto que agora voltou a morar com o pai", revelou.>
O CORREIO procurou o pai biológico de Lanara. Domingos João Nunes disse que não se manifestaria sobre o assunto. "Deixo com a Justiça". A condenação de Edmilson foi assinada pelo juiz Paulo César Bandeira de Melo Jorge, que o sentenciou baseado no depoimento da vítima e de testemunhas da família do pai de Lanara. A assessoria do TJ-BA informou que nenhum dos magistrados se pronuncia sobre processos em trâmite aos quais estão vinculados. Luta de Edmilson dos Santos recomeçou depois que a vítima voltou atrás e disse que mentiu à Justiça(Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO)EsperançaA advogada Jaíra Capistrano, que faz parte de um núcleo que cuida de casos de provável inocência, está certa de que Edmilson é um homem de bem e não cometeu qualquer crime. "Estou absolutamente convicta da inocência desse rapaz. É um excelente padrasto e um ótimo marido. Por outro lado o pai biológico fez um estrago na psiqué dessa garota. Estamos preocupados com esse julgamento, mas ao mesmo tempo confiantes", disse.>
O próprio Ministério Público, através da procuradora Lúcia Maria de Oliveira, deu parecer favorável ao preso. "Diante de todo o exposto, opinamos pelo conhecimento e procedência da vertente revisão criminal, a fim de que o requerente seja absolvido da imputação contra ele formulada na origem", concluiu a procuradora nos autos da revisão criminal.>
Em contrapartida, a relatora do caso, desembargadora Ivete Caldas, deu parecer contrário à absolvição do réu. Logo mais, ela e outros 18 desembargadores vão oferecer os seus votos para a condenação ou absolvição de Edmilson. É o último round da luta. E o resultado virá por pontos. >