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Tailane Muniz
Publicado em 18 de julho de 2019 às 08:52
- Atualizado há 2 anos
Na Cruz do Pascoal estão concentradas a maior parte dos vasos (Foto: Betto Jr./CORREIO) Não é de hoje que os blocos de concreto usados, em geral, para ordenar o trânsito, causavam incômodo à artista plástica Tereza Mazzoli, 64 anos. Sócia do Ateliê 29, localizado na Cruz do Pascoal, no Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, Tereza comenta que o separador, antes presente ali, comprometia a “atmosfera artística da região”.>
A artista, que é natural de São Paulo e se estabeleceu na capital há 16 anos, se surpreendeu ao encontrar, nesta quarta-feira (17), vasos de plantas às margens do ateliê, em frente ao Plano Inclinado Pilar. No local, ao menos dez vasos, agora, abrigam flores e substituem os antigos ordenadores de trânsito - que, segundo Tereza, acabavam servindo como bancos para os frequentadores do bairro boêmio.>
Os recipientes foram distribuídos por meio de uma ação da Diretoria de Gestão do Centro Histórico, com o apoio da Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), além da Companhia de Desenvolvimento Urbano (Desal) e Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador). Ao todo, são 98 vasos, à base de concreto, sendo 60 de pequeno porte e 38 de porte maior.>
Às duas espécies escolhidas pela gestão do Centro Histórico, Ixora e Bela Emília, flores vermelhas e azuis, respectivamente, a artista é só elogios. A dona de casa Ângela Souza e a artista plástica Tereza Mazzoli comemoram novidade (Foto: Betto Jr./CORREIO) "Nossa, eu fiquei muito feliz. Aqueles gelos-baianos me deprimiam, a imagem não dialogava com o lugar, que é tão poético. Agora, temos aqui outra apresentação, outro ambiente, fiquei realmente muito feliz", relata a artista.Se os antigos prismas sequer impediam que o estacionamento indevido de carros nas calçadas, conta a dona de casa Dalva Ângela de Souza, 60, os novos vasinhos foram ordenados de modo que os veículos não têm espaço para adentrar no espaço. >
"Era uma coisa terrível. Usavam como banco, como havia brechas entre um e outro, paravam carros, entre outras coisas", diz a moradora, que se comprometeu a molhar as plantinhas. "Eu disse e vou cumprir. Acho que se é algo que vem para o nosso bem, precisamos, sim, estar comprometidos com a conservação e manutenção", acrescenta Ângela.>
Fundadora do projeto Canteiros Coletivos, a permacultora Débora Didonê, disse que se há, na iniciativa, um incentivo à consciência ambiental, a proposta é válida. "Não faz muito sentido pensar que o concreto é melhor do que as plantas. Acho que quanto mais planta, mais flores, melhor", afirma ela, que mora no Santo Antônio há cerca de dez meses. >
'Preservação compartilhada' Diretora de Gestão do Centro Histórico, Eliana Pedroso explica que a ação foi pensada como um meio de sensibilizar as pessoas para a necessidade da sustentabilidade e preservação, de modo compartilhado. "Nosso contato com a comunidade da região é muito cotidiano. Ali moram pessoas muito conscientes e que têm uma sensação de pertencimento maior do que em outros locais da cidade", defende.>
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Eliana Pedroso acrescenta, ainda, que molhar e cuidar dos vasinhos foi um ponto previamente acertado com moradores e comerciantes do Santo Antônio Além do Carmo, onde os recipientes foram instalados neta quarta-feira."A ação nós começamos no ano passado, iniciamos no Pelourinho e estendemos para as ruas do Carmo e adjacências. É um atrativo que humaniza a área, e você toca no sentido estético, do bem-estar", diz a gestora.Bem-estar era a última coisa que o aposentado Francisco Amaury, 63, sentia quando o assunto era o bloco de concreto, segundo ele, já parte da paisagem. Morador da Rua Direta do Santo Antônio há 40 anos, ele conta que sempre se incomodou com a “má utilização" do espaço público, especialmente a calçada, muitas vezes, reitera Francisco, tomada por carros. >
"Moro aqui da vida inteira e eu ficava triste demais, e até inconformado, porque aqui é um local tão frequentado, e aí as pessoas, infelizmente, algumas que não têm o senso do que é viver em comunidade, não tinha o menor respeito. Inúmeras vezes encheram a frente da minha casa de mesas, cadeiras, carros", relata.>
Além da questão do "ordenamento", o aposentado é um dos que defendem o Santo Antônio como um lugar que, "além de bairro", é um reduto de artistas que não merecem menos do que respirar "flores e arte".>