'Cajarriê' arrasta moradores de Cajazeiras para o 10º samba junino

Evento foi criado em 2014 entre amigos para comemorar o São João

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  • Brenda Viana

Publicado em 9 de junho de 2024 às 19:10

Cajarriê, em Cajazeiras
Cajarriê, em Cajazeiras Crédito: Brenda Viana / CORREIO

Nem a bipolaridade da meteorologia de Salvador conseguiu desanimar as pessoas que foram para o Cajarriê, o samba junino de Cajazeiras, que aconteceu neste domingo (9), em Salvador.

De abadá azul e verde, os moradores de um dos bairros mais populares da capital baiana desceram da Rótula da Feirinha até o Campo da Pronaica com trio elétrico tocando apenas os maiores sucessos do samba e pagode.

Cajarriê
Cajarriê Crédito: Arisson Marinho / CORREIO

E quem não estava de camisa veio com roupas típicas para acompanhar o arrastão. As 'meninas' do grupo "As Sambadeiras de Cajazeiras" surgiram com saias floridas vermelhas, sorridentes e prontas para caírem no samba.

Bruno Santos, professor de dança das aposentadas e um dos diretores, explicou que o grupo já existe há 15 anos e elas estão sempre nos forrós, sambas e pagodes de Cajazeiras. No total, são 30 mulheres entre 55 e 91 anos.

A mais velha é Valquiria Sousa, que não ficou em casa e resolveu requebrar a tarde inteira com as amigas no arrastão ao Cajarriê. "Entrei para o grupo devido à uma doença que tive há anos atrás e agora estou aqui sambando atrás do trio", brinca.

Sambadeiras de Cajazeiras
Sambadeiras de Cajazeiras Crédito: Arisson Marinho / CORREIO

E esse samba com Trio Elétrico pelas ruas de Cajazeiras já acontece há 10 anos e começou após uma reunião de amigos. O criador do evento, Marquinhos Fama, contou à reportagem que era para ser apenas um samba junino, mas deu tão certo, que no ano seguinte, resolveu homenagear o bairro que abraçou o arrastão.

Com ajuda de vários lojas, empresas privadas e órgãos públicos, Marquinhos, morador de Cajazeiras 6, revela que ainda é difícil conseguir colocar o evento na rua.

"Amanhã eu já começo a projetar o Cajarriê 2025. O ano todo é correndo atrás de patrocínio dos poderes públicos, das empresas privadas, porém, com muita dificuldade. Mas assim, são verbas que a gente agradece, mas ainda são poucas para o tamanho e a dimensão do bloco e o quanto esse evento se tornou famoso na cidade toda", explica.

E é conhecidíssimo mesmo. O bloco do Cajarriê não se resume apenas os moradores de Cajazeiras, há também pessoas de outros bairros, como Centro, Subúrbio, e outros. Para conseguir comportar tanta demanda, Marquinhos encomendou mais de mil abadás no valor de R$25.

Para ele, esse valor é para não pesar do bolso dos moradores dos bairros de Cajazeiras 10, Fazenda Grande 1, Fazenda Grande 2, Fazenda Grande 3, 4, Boca da Mata, entre outros, que já sofrem com salários baixos e até alguns que estão desempregados, mas conseguem pagar o valor simplório.

"Eu comecei a camisa por 25 reais, até porque hoje, com essa inflação, do jeito que o povo está, você precisa de colocar essa população para brincar de forma acessível, certo? E às vezes a pessoa não tem o dinheiro para dar mil reais, dois mil reais em um bloco. Eu faço uma coisa promocional mesmo, 25 reais para pagar custo de músico e segurança, só isso. Meu objetivo não é ganhar dinheiro, é fazer alegria para o povo, mas não sou político", brinca.

A alegria que Marquinhos fala é justamente daqueles que vestem a camisa - literalmente - para fazer o evento andar anualmente. Esse é o caso de Jorginho Simpatia, conhecido por Cajazeiras e que se diverte no Cajarriê desde 2014, ano da fundação do evento. Nascido e criado no bairro, ele rasga elogios ao festejo, que movimenta a economia de Cajazeiras e adjacências, circulando bastante dinheiro entre os comerciantes na semana da festa.

"Eu sou apaixonado por essa festa, porque além da gente poder reencontrar pessoas que não conseguimos ver no dia a dia, ainda movimenta o dinheiro dentro do próprio bairro, porque o povo se arruma, compra cerveja, vem com a família, traz idosos, as crianças, todo mundo para se divertir aqui. É o melhor samba junino do Brasil".

Jorginho Simpatia no Cajarriê
Jorginho Simpatia no Cajarriê Crédito: Brenda Viana / CORREIO

Outra moradora que não larga o Cajarriê desde os primórdios é Anacleia dos Santos. A cozinheira de 52 anos é a maior fã do bairro e do Cajarriê. Durante a entrevista, ela sambava, falava com conhecidos e ainda reforçou que vai atrás do trio por mais 10 anos: "Quero chegar nos 30 anos, se Deus quiser. Esse bloco tem que sair no Carnaval, lá na Barra. Sou filha de Cajazeiras e não largo esse samba por nada".

Edna Sueli Matos e Anacleia dos Santos
Edna Sueli Matos e Anacleia dos Santos Crédito: Brenda Viana / CORREIO

Para chegar no Campo da Pronaica em grande estilo, o Cajarriê teve a presença do ex-vocalista do Terra Samba, Reinaldinho. Ao CORREIO, ele elogiou o evento e reforçou que é preciso elevar o nome de Cajazeiras para Salvador inteira. "A gente precisa acreditar nas nossas raízes, no samba, na música e o quanto Cajazeiras é incrível. Precisamos incentivar o bairro e não deixar a cultura daqui morrer", finaliza.

Reinaldinho, ex-Terra Samba
Reinaldinho, ex-Terra Samba Crédito: Brenda Viana / CORREIO

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