Festejos de São João terminam com arrastão no Dique

Cerca de 30 grupos de samba junino se apresentaram em primeira edição de festival

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  • Emilly Oliveira

Publicado em 26 de junho de 2023 às 05:04

Festival de Samba Junino
Festival de Samba Junino Crédito: Paula Froes

O São João em Salvador é diferente. Ao invés da sanfona, triângulo e zabumba, o que se ouve são as batidas do timbau, tamborim e surdo do samba junino. O ritmo que ecoa desses instrumentos chegou ao volume máximo domingo (25), durante o Festival de Samba Junino, realizado no Dique do Tororó, para encerrar os festejos da época.

Foi a primeira vez que o festival aconteceu no local, mas o movimento é antigo e nasceu nos bairros populares. No São João, os grupos de cada localidade fazem arrastões ao som de samba duro. O evento foi organizado da mesma maneira, mas diferente do movimento tradicional, juntou cerca de 30 grupos no mesmo lugar. Além disso, foi encerrado com um show de Tatau, com participações de Ninha e Reinaldo.

Para a aposentada Silvia Luz, de 78 anos, o resultado não poderia ter sido melhor: muita gente caindo no samba. “Já participei de décadas de sambas juninos, passo a alegria de sambar para os meus e celebro todas as iniciativas que ajudam o ritmo, tocado no São João, a não morrer”, disse ela, que desfilou ao lado de duas amigas, no bloco do grupo Pé de Panela, do bairro do Candeal.

A aposentada Silvia Luz no Festival de Samba Junino
A aposentada Silvia Luz no Festival de Samba Junino Crédito: Paula Froes

Os moradores do entorno do Dique que assistiram aos cortejos da janela e da varanda de casa mostraram que é realmente difícil resistir à cadência. Todos estavam sambando ou batendo palmas com empolgação. Os soteropolitanos na calçada ou seguindo os grupos, sem as camisas dos blocos, foram no mesmo ritmo.

O encontro de diferentes gerações estava presente no público, tanto quanto nas formações dos grupos de samba junino. Enquanto o Sampelô, que nasceu no Pelourinho, já tem 10 anos de história, o Giradelas, da região da Centenário, tem apenas três meses. Totalmente feminino, o grupo recém-nascido nasceu do desejo de ver mais mulheres perpetuando a tradição.

“Sempre quis ter um grupo feminino, mas era difícil. Quando eu descobri que o samba junino precisava dessa representatividade, conversei com as meninas, elas abraçaram e virou o sonho de todas. Estou emocionada de ver o carinho que as pessoas nos receberam aqui”, contou a fundadora do Giradelas, Claudia Rosa.

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Pedro Tourinho, e o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, também acompanharam o arrastão, realizado pela Prefeitura. “Esse ano tivemos a ideia de concentrar os grupos para todos estarem juntos e curtirem o samba da comunidade. Esse é o primeiro ano e acho que no próximo será gigante, tipo um Fuzuê de Carnaval”, almeja Tourinho.

Para Isaac Edington, o movimento tem o potencial de colocar Salvador na rota do São João do estado, mesmo sendo capital. “A gente sabe do apelo que há para que as pessoas voltem para suas raízes, cidades e famílias. Mas temos uma região metropolitana pulsante e é possível fazer o interior de cada um na própria cidade. Demonstramos este ano”, disse.

Quinquagenário

Símbolo de resistência, o samba junino nasceu nos terreiros de candomblé de Salvador, há cerca de 50 anos. O ritmo tocado pelos grupos é chamado de samba duro, derivado do samba de caboclo. Como todo movimento cultural realmente orgânico, o samba junino nasceu aos poucos, porque parte da população não viajava para o interior da Bahia para curtir os festejos da temporada.

Quem ficava na capital, se juntava para fazer samba e, por influência do período junino, algumas pessoas começaram a fazer músicas clássicas do São João, como as de Luiz Gonzaga, em cima do samba. Com o passar dos anos, vários bairros da capital baiana abraçaram o movimento, como Liberdade, Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas, Alto das Pombas, Cajazeiras e Águas Claras.

Entre os grupos mais antigos está o Dez Mais do Samba, de Matatu de Brotas, fundado em 1978. Desde 2018, o samba junino é registrado como patrimônio cultural de Salvador pela Fundação Gregório de Mattos (FGM).

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

O projeto São João em Todo Canto é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Via Bahia e apoio da Larco Petróleo.

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