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Equipes de bairro se organizam para manter os folguedos juninos na capital baiana
Millena Marques
Publicado em 4 de junho de 2024 às 05:30
As quadrilhas juninas são elementos imprescindíveis no São João do Nordeste. Em Salvador não é diferente. Diversos grupos de bairro se organizam para manter a tradição na capital baiana.
O educador Branco Falcão, por exemplo, iniciou um projeto social com dois grupos de danças na Boca do Rio, em 1998. Do programa social, surgiu a quadrilha junina Cia de Dança da Boca do Rio, que desfila gratuitamente pelas ruas do bairro, no período.
Atualmente, o grupo conta com 10 pares, adolescentes e jovens entre 13 e 22 anos, que, como pré-requisitos, devem estudar e tirar boas notas nas avaliações escolares.
“Na verdade, é um projeto social que usa a dança como elemento de transformação, com coreografias temáticas no Carnaval, no São João, no folclore, na consciência negra e no Natal”, explica o fundador do projeto. "A ideia principal é o resgate da cultura, que, aos poucos, está se acabando”, pontua.
Toda a ajuda de custo para manter a quadrilha vem das apresentações com artistas da cidade e de doações de comerciantes locais. Este ano, por exemplo, o figurino foi comprado na mão de outro grupo junino, que fez um preço simbólico. "A ideia é manter viva as tradições. É um resgate que dá aos jovens a oportunidade de se desligar dos jogos eletrônicos, aprender regras sociais e ficar longe da violência”, diz
Aniversário
Na Liberdade, o Forró Mandacaru tem motivos de sobra para ensaiar. Formado por um grupo de amigos há 25 anos, a quadrilha não se apresenta há mais de uma década. O retorno aos palcos será este ano, em comemoração ao aniversário.
Um dos fundadores do projeto, o presidente Rubem Braga conta que o grupo se formou da dissidência de outras quadrilhas. “A gente entende quadrilha junina como uma grande brincadeira, uma manifestação popular, cultural, que tem importância e um valor gigantesco. As pessoas se reúnem pelo prazer, alegria e pela arte”, afirma o fundador.
Segundo ele, havia uma pressão por parte de outras quadrilhas acerca das disputas e dos campeonatos juninos. “Ainda que a gente vá participar de campeonatos, pode ser feito de uma forma leve e divertida. Então, esse foi nosso propósito”, completa. Com um elenco formado por 21 pares de dançarinos, oito diretores e oito assistentes de apoio, a Forró Mandacaru começou a preparar o São João de 2024 em julho do ano passado. As primeiras reuniões definem o espetáculo e o tema, que é a linha condutora de todo o trabalho, segundo Braga.
O lançamento da Forró Mandacaru foi realizado oficialmente em outubro de 2023. A partir de então, os 42 brincantes mantêm uma rotina de ensaios até o mês de junho. A equipe da Liberdade é uma das participantes do Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas, realizado em Periperi.
Capelinha
Em 1998, nasce a Capelinha do Forró, quadrilha junina do bairro de mesmo nome, fundada por um grupo de quadrilheiros que decidiram unir o bairro. Atualmente, o projeto é composto por 80 pessoas, mas já contou com 200 integrantes.
“Nós nos apresentamos em competições em Salvador e até a nível Nordeste do Brasil. Nós também fazemos eventos receptivos, empresas particulares”, diz a atual presidente do grupo, Taís Brandão.
Neste ano, os ensaios começaram em janeiro. Em média, a equipe se apresenta em seis festivais/concursos no estado. As apresentações da Capelinha do Forró podem ser gratuitas, dependendo da finalidade. “Porque nós somos artistas. A arte precisa de subsídio financeiro para se manter viva”, lamenta.
Fundada em 1981, a quadrilha Mirim Germe da Era é composta por crianças e adolescentes entre 3 e 13 anos. Embora tenha nascido no bairro de Pero Vaz, o projeto reúne integrantes de Itapuã, Jardim das Margaridas, Fazenda Grande, Curuzu e até mesmo de Camaçari.
“Os pais sempre dão o jeitinho de levar para o ensaio”, diz a presidente Ninha Estrela.
Criado em 1982, o grupo cultural Conexão Buscapé, do Engenho Velho de Brotas, retorna aos palcos em 2024, após 23 anos parado. Foi fundado com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a cultura regional no bairro. "A gente tem a responsabilidade do resgate das pessoas que estão paradas esse tempo todo. Estamos nesse processo de busca. Por enquanto, agora, só temos 20 pares, mas pretendemos chegar aos 40 pares”, explica o atual presidente, Nando Filho.
O processo de retorno aconteceu em maio do ano passado, com fórum de oficialização do retorno. Em seguida, a equipe iniciou os ensaios no Teatro Solar Boa Vista. “Esse ano a gente não vai participar de concurso, porque estamos fazendo o trabalho de inclusão social dentro da comunidade, nos outros bairros, nas praças, onde tiver gente”, conclui.
O Projeto São João 2024 é uma realização do jornal Correio com apoio do Sicoob.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo.