Bebê em Salvador teve rara complicação por zika, diz pesquisa

Este é o 1º caso de malformação fora do sistema nervoso central. Até então, pesquisadores já haviam relacionado o zika à microcefalia

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  • Wladmir Pinheiro

Publicado em 25 de fevereiro de 2016 às 16:42

- Atualizado há um ano

A descoberta de um novo tipo de malformação identificada durante a gestação de uma jovem, de 20 anos, em Salvador, levou pesquisadores a descobrirem diferentes danos cerebrais relacionados ao vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Este é o primeiro caso relatado em uma revista científica de malformação fora do sistema nervoso central. Até então, pesquisadores já haviam relacionado o zika à microcefalia. 

A mulher, que não apresentou qualquer sintoma de infecção por zika durante a gestação, sofreu aborto espontâneo na 32ª semana. Exames identificaram que o feto possuía hidranencefalia, condição rara em que o bebê tem parte do crânio preenchido por liquido e a ausência de grande parte do cérebro. O feto tinha ainda hidropsia, quando órgãos e tecidos ficam cheios de fluidos.

O estudo foi realizado por uma equipe do Hospital Geral Roberto Santos e relatado na revista científica PLOS Negleted Tropical Diseases. A pesquisa foi liderada por Alberto Ko, da Universidade de Yale, no Estados Unidos, e Antônio Raimundo de Almeida, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). O grupo, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade do Texas, já havia identificado bebês com lesões na visão por conta do vírus.(Foto: EBC)"Nós estamos numa corrida porque é uma situação muito grave, nós que somos médicos e estamos na linha de frente, ficamos muito incomodados com o que está acontecendo", diz o médico Antonio Raimundo, diretor-geral do Roberto Santos.

Segundo o estudo, a jovem levava uma gravidez normal até que exames identificaram complicações no feto por volta da 18ª semana. A jovem disse não ter tido nenhum dos sintomas clássicos de infecções transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti na gravidez.

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"Estas descobertas causam preocupação de que o vírus (zika) pode causar aborto de natimorto, e estar associado a complicações que ainda não haviam sido identificadas", diz Alberto Ko, diretor do departamento de Epidemiologia da Universidade de Yale. Ko iniciou a pesquisa assim que os primeiros casos de microcefalia começaram a ser relatados nas maternidades de Salvador, em 2015.

Por volta da 30ª semana, o feto apresentou novas complicações, até que a jovem começou a sofrer aborto espontâneo e teve o parto induzido na 32ª semana de gestação. Estudos identificaram traços do vírus zika no feto. 

Os estudiosos são cautelosos em afirmar que a descoberta de um caso não pode ser aplicado a todas as mulheres expostas ao vírus durante a gravidez.