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Publicado em 14 de maio de 2025 às 05:00
No dia 14 de maio, celebramos o Dia Nacional da Conscientização das Doenças Cardiovasculares em Mulheres — uma data que convida à reflexão sobre uma realidade que precisa ser mais visível. Esses problemas representam a principal causa de morte entre as mulheres no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são responsáveis por cerca de um terço da mortalidade feminina em todo o mundo, somando mais de 8,5 milhões de mortes a cada ano. No Brasil, a estimativa é que 30% da população feminina possa falecer por causas cardíacas. >
As causas são multifatoriais e, entre as principais, estão a hipertensão arterial, o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC). Embora possam acometer pessoas de todas as idades, observa-se um aumento da incidência a partir dos 40 anos. Fatores como sedentarismo, obesidade, hipertensão, diabetes e histórico familiar são bem conhecidos. No entanto, nas mulheres, há aspectos específicos que merecem atenção especial — e é sobre isso que a medicina cardiovascular tem voltado seus olhos com mais intensidade nos últimos anos.>
Durante muito tempo, a cardiologia foi pautada por estudos realizados majoritariamente em homens, o que levou a lacunas importantes no conhecimento sobre a fisiologia e os riscos cardiovasculares femininos. Hoje, já é reconhecido que as questões hormonais, biológicas e psicossociais impactam diretamente o risco cardiovascular da mulher.>
Com a chegada da menopausa, por exemplo, ocorre uma redução significativa na produção de estrogênio, hormônio que exerce efeito protetor sobre o endotélio vascular. Esse declínio hormonal está associado ao aumento da rigidez arterial, dislipidemias e maior propensão a eventos cardiovasculares. Além disso, o uso prolongado de anticoncepcionais orais e condições obstétricas como pré-eclâmpsia, eclâmpsia, diabetes e hipertensão gestacional são hoje reconhecidos como fatores preditores de risco cardiovascular ao longo da vida.>
Outro aspecto relevante — e muitas vezes negligenciado — é o impacto do estresse crônico. A sobrecarga mental e emocional da mulher contemporânea, frequentemente dividida entre múltiplas jornadas, contribui para hábitos não saudáveis: má alimentação, privação de sono, sedentarismo e maior vulnerabilidade a quadros ansiosos e depressivos. Tudo isso influencia diretamente a saúde cardiovascular.>
É importante destacar que os sintomas das doenças cardíacas nas mulheres podem ser diferentes dos observados nos homens. Em vez da dor torácica clássica, elas podem apresentar sintomas atípicos, como fadiga intensa, dispneia, sudorese fria, náuseas ou dores em regiões menos associadas, como costas ou mandíbula. Essa apresentação clínica menos evidente pode atrasar o diagnóstico e o início do tratamento.>
Cuidar da saúde cardiovascular da mulher é um ato de prevenção e de valorização da vida. É preciso atuar precocemente, com acompanhamento cardiológico individualizado, que considere os fatores de risco, a história de vida, o contexto social e a saúde emocional de cada paciente. O olhar para a mulher na cardiologia ainda é recente, mas precisa ser permanente — profundo, sensível e baseado em ciência.>
Tais Sarmento é cardiologista e coordenadora do Serviço de Cardiologia do Hospital da Bahia>