Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Portal Edicase
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 14:43
A recente onda de intoxicações por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol no Brasil acende um debate sobre como o álcool ocupa espaço central na vida social do brasileiro. Em diferentes contextos, beber se torna quase um pré-requisito para a sociabilidade: há quem prefira não sair se não houver a possibilidade de beber, e há também quem não consiga estar em grupo sem consumir álcool. >
“Há ainda quem decide sair, beber e se colocar em risco. Isso mostra como o hábito está enraizado nos nossos modos de se relacionar e de se divertir”, afirma a psicóloga Laís Mutuberria, especialista em saúde mental e neurociência do comportamento. >
Dados oficiais reforçam a preocupação. De acordo com o Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) 2023, levantamento do Ministério da Saúde, o consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras passou de 18,4% em 2021 para 20,8% em 2023. Entre as mulheres, a alta foi de 12,7% para 15,2% no período. >
Para Laís Mutuberria, o episódio do metanol deveria servir de alerta sobre a relação com as bebidas alcoólicas. “Muitas pessoas têm dificuldade com a espontaneidade e com a conexão, e o álcool entra aí como uma muleta, um caminho para atravessar dificuldades psíquicas e emocionais”, afirma. >
Ela defende que o momento atual estimule uma autoavaliação. “Qual a função do álcool na minha vida? Eu sei estar com meus amigos, sei socializar, sei me divertir e relaxar sem precisar da bebida?”, questiona. >
A psicóloga destaca ainda que o consumo recorrente de bebidas alcoólicas pode esconder um ciclo de adoecimento. “Será que o álcool está sendo um alívio para problemas que não estão sendo enfrentados? Por que ele ocupa um papel tão central nas minhas relações ou na minha rotina?”, indaga. >
O impacto do consumo de álcool vai além do indivíduo e atinge também as próximas gerações. “Quais modelos de comportamento estamos transmitindo aos jovens? Estamos conscientes do efeito disso sobre a saúde pública e os vínculos sociais?”, questiona a profissional. >
Laís Mutuberria conclui que a sociedade precisa repensar os modos de celebração. “É urgente imaginar formas de viver a alegria e a convivência sem depender do álcool. Há muito mais gente alcoólatra do que se tem consciência. Observar essa relação de perto é fundamental”, finaliza. >
Por Annete Morhy >