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Nelson Cadena
Publicado em 17 de agosto de 2023 às 05:00
O General Pierre Labatut tinha 72 anos de idade quando, pela primeira e última vez _ faleceu no ano seguinte _, desfilou do início ao fim, no cortejo do Dois de Julho; o povo lhe rendeu merecidas homenagens no percurso. Foi a estrela e a motivação para a imponência dada às celebrações de nossa Independência, em 1848, considerado por alguns o ano dos mais animados festejos, alusivos à data, até então realizados. Compareceu ainda em 1849, dois meses antes de seu falecimento, num carro, na Praça da Piedade, a quatro quarteirões de sua residência, para ser homenageado. >
O militante, na Península Ibérica, das Guerras Napoleônicas, subcomandante das tropas de Simão Bolívar na Colômbia e Venezuela e, na Bahia, comandante do Exército Pacificador desfilou no cortejo, a convite de autoridades e admiradores, recém-chegado do Rio de Janeiro, onde vivia há vários anos, para residir em Salvador, na antiga Rua dos Barris que hoje leva seu nome.>
Alquebrado, cansado, aposentado das armas, doente, o General, que ostentava o brioso título de Marechal de Campo, desfilou não a pé, mas num carro, provavelmente um dos de locação de Rafael Ariani, puxado por muares, no percurso entre a Lapinha e o Terreiro de Jesus, sob o sol inclemente do início da tarde. No carro, o General esteve acompanhado do Major Coelho, o Dr. Cabral e José Marcellino dos Santos, este último membro da comissão organizadora. Em volta, sete soldados da cavalaria de Linha, escolta que lhe fazia as honras.>
Durante o percurso, Labatut admirou os belos arcos triunfais, na embocadura das ruas, ornados com palmas, folhas de pitanga e flores aromáticas. No dia 04 de julho compareceu ao Teatro São João onde ouviu odes na sua homenagem. Antes, esteve na Praça Municipal onde tinha sido erigido um palanque monumental, que custou 14 contos de réis, uma fortuna, numa extensão ao estilo varanda do Palácio da Câmara de Vereadores. O palanque-palacete, executado pelos artistas Pedro Carrascosa e o engenheiro italiano Carlos Augusto Weyl, seguiu o esboço-leiaute de Cláudio José Ramos Amazonas, que recém-falecido não chegou a ver o fruto de sua inspiração.>
O palanque da Praça, mais imponente que o erigido no Terreiro de Jesus, pela sociedade Dois De Julho, e outro de menor valia no Largo da Palma, destacava duas grandes colunas de mármore, com jarras cheias de flores e seis lustres, cada um contendo 16 velas, dentro de globos de vidro. E no conjunto, em toda a extensão, 30 pedestais e 1.900 velas avulsas. Muitos espelhos, bandeiras e emblemas da Coroa, alegorias de armas e panos encerados na cobertura, compunham a majestosa estrutura.>
Esfinges do Imperador Dom Pedro II, da Princesa Isabel e esculturas do caboclo e da cabocla, naqueles idos chamados de indígenas, esculpidos por Manoel Ignácio da Costa, se destacavam. Se eram os mesmos dos carros triunfais do desfile, não sabemos. Ficaram no palanque iluminado durante os quatro dias de festa. Se réplicas ou originais vai saber. A pintura transparente do pano do portão principal do palanque, à noite iluminado, revelava os dizeres “O Dois de Julho, seu primeiro dia/Aqui celebra a festival Bahia”.>
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras>