O Elevador Lacerda iluminado

Após mais de quatro décadas de sua inauguração, o equipamento usufruiu de fato do benefício da eletricidade

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  • Nelson Cadena

Publicado em 10 de agosto de 2023 às 05:00

Antônio de Lacerda, enquanto gerenciou o elevador que leva seu nome, não usufruiu de nenhum privilégio. Pagava a passagem como qualquer usuário e, a sua família, por sua orientação, igualmente. Quando Lacerda faleceu, em 1885, o elevador ainda era hidráulico, o que era um complicador para seu funcionamento, dependendo do abastecimento de água para fazer funcionar as caldeiras, a contento. Lacerda não testemunhou também o sucesso do equipamento. A foto do ascensor foi um dos destaques do pavilhão brasileiro na Exposição Universal de Paris, de 1889, quando inaugurada a Torre Eiffel.

Mais de quatro décadas transcorridas de sua inauguração, o Elevador Lacerda usufruiu de fato do benefício da eletricidade, substituindo o sistema hidráulico, tão controvertido e crítico desde o início, apesar da serventia. Era o que se tinha naquele tempo. Em 1910, o elevador deixou de funcionar vários dias, por falta de água na cidade, e dois anos depois, em dezembro de 1912, despencou uma das cabines, causando pânico entre os passageiros. Caiu de 12 metros de altura. A imprensa registrou o acidente como queda do acumulador hidráulico, provocando um “formidável estampido” e “quebra dos cabos”.

A eletricidade foi a solução e veio com a firma Guinle & Cia, que tinha se tornado concessionária do Elevador e de algumas linhas de bondes - tudo indica que, a partir de 1913, ou 14, não tenho certeza. As cabines já eram iluminadas desde 1906. Uma das especialidades da empresa era a montagem e operação de elevadores. Quando J.J Seabra assumiu o governo, os Guinle operavam 75 elevadores no Brasil, de cargas (grandes e pequenas) e de passageiros, o Lacerda e o Taboão eram os únicos de rua e de grande porte; os outros, convencionais, a serviço de bancos, hotéis, fábricas, repartições públicas... Na Bahia, apenas as firmas Guinle & Cia, Fábrica Trocadeira, Rosbach Brasil & Cia e Hirsh & Hess possuíam o equipamento.

Embora eletrificado o Lacerda, vamos ser sinceros que as fotografias não mentem, continuou a ser um trambolhãozinho, bonitinho e ordinário, a começar pela aparência da cobertura. Essa percepção de coisa velha, os baianos reconheceram quando se construiu uma segunda torre de concreto armado, em 1930, e instalações arejadas, amplas, com estrutura de serviços. E passou a ter quatro cabines e operação dos elevadores com velocidade de 17 segundos, pela Otis.

O Sr. Otis não se deu ao trabalho de vir para a inauguração, na outrora primeira capital da “República das Bananas”, e nunca veio, miserável, mas reconheceu o valor (pecuniário e arquitetônico) da obra e mandou colocar uma estampa gigante do elevador na sala de Exposições da Otis Company em New York. Pela mesma época, 1932, em que The New Herald Tribune publicou uma grande foto do monumento, na sua seção de fotogravura. E no Japão circulou um livreto com fotografias e descrição do nosso renovado elevador.

Os serviços agregados já existiam, desde a década de 1920 (Garagem Luzitana de Domingos da Costa; o Bar New York, de Dora Graner; o armarinho e lojinha de miudezas de Alfredo Silva), mas os de maior relevância se instalaram em 1930: a sorveteria Cubana e a Galeria de jornais e revistas do brasil e do mundo de Alfredo Souza que, divulgando nas publicações o seu estabelecimento, promovia o novo elevador.