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Da Redação
Publicado em 9 de março de 2018 às 14:17
- Atualizado há 2 anos
O Bahia volta ao tapetão, hoje, para enfrentar o Vitória com um desfalque: Zé Coerência. Mas tudo indica que a equipe não sentirá falta dele, afinal, não tem sido muito utilizado no Campeonato Baiano – e isso já há algum tempo. A tática do jogo de volta, que será disputado mais uma vez no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), será atacar o rival pelo meio, sustentando uma punição mais severa, com possível apoio formal à exclusão do campeonato e até ao rebaixamento, em nome da moral e dos bons costumes esportivos.>
Aliás, o Esporte Clube Bahia, enquanto instituição, demonstrou toda a sua elevação moral há uma semana, quando publicou uma nota oficial na qual reconhece que, em 1999, o clube teve “estratégia equivalente” à do Vitória no Ba-Vi de dois domingos atrás, quando o rubro-negro provocou o fim da partida de forma vexatória.>
Eis o item 2 do comunicado na íntegra: “Há quase vinte anos, em 1999, o Bahia utilizou estratégia equivalente, esquivando-se da disputa em campo e deslocando a luta para os tribunais. Foi uma mancha em nossa história. Depois disso vimos outros desmandos, dentro e fora do clube. Lutamos contra isso, nos democratizamos, amadurecemos. Uma atitude semelhante a essa, em pleno ano de 2018, seria provavelmente motivo de crise institucional, e não de orgulho dos dirigentes ou da torcida. Que esse jogo sirva ao menos para amadurecimentos institucionais.”>
Bom, cês veem aí que são várias alfinetadas no rival e um mea culpa bastante corajoso – e, vejam, não é um reconhecimento de erro qualquer, como foi tratado por boa parte da imprensa (vou tratar disso mais embaixo). Louvável, por ora, a atitude da diretoria tricolor, que inclusive contrasta com o que fazem os cartolas rubro-negros no outro córner, onde negam o inegável.>
Reforço os cortejos à turma nova, vitaminada, cheia de espírito esportivo que domou o outrora errante e decadente Bahia. Um reconhecimento que estaria cotado para Momento Esportivo do Ano no Laureus, e que não duvido que seja levado à análise da Fifa para o prêmio de Fair Play. Resta apenas responder a um questionamento: se essa turma tricolor quer impedir a possibilidade de título do Vitória, este ano, por que ainda mantém em sua sala de troféus o título de 99, ganho com “estratégia equivalente” à que condena hoje?>
Questão 2: só querem o bônus da decisão institucional (a maior parte da torcida vibrou e apoiou), e ignoram o ônus que o posicionamento pode suscitar? Reitero que vejo como louvável a atitude de reconhecer os erros (inclusive espero que um dia o Vitória faça o mesmo), mas se era pra posar de bonzão, teria que ter levado às últimas consequências. Só assim conseguiria o efeito suspensivo de Zé Coerência para entrar em campo hoje com a ficha limpa, no direito de cobrar. Resumindo: assuma sua porra direito!>
Leia também: Como convencer o torcedor do Vitória de que será feita justiça?>
Agora vou entrar em outro aspecto que me chamou a atenção, já agora falando da cobertura jornalística sobre a mesma nota do Bahia. O comunicado tem cinco pontos: o primeiro trata da crítica à análise das provas contra o Vitória; o terceiro da confirmação de que o Bahia continuaria no campeonato, citando respeito a patrocinadores; o quarto sobre a transformação positiva do clube nos últimos quatro anos; o quinto entra na preocupação com a credibilidade do futebol baiano diante do papelão e após a decisão inicial do TJD. Tudo dentro do que era, mais ou menos, previsto, e foi justamente o que foi destacado na maioria das manchetes de jornais, dos títulos de matérias em sites.>
Mas, man, a única coisa histórica, histórica mesmo, nessa nota do Bahia foi o reconhecimento do erro em 99, justamente por suscitar os questionamentos que sustentam esse texto.>
Que o Bahia tava reclamando da decisão da justiça desportiva já havia sido largamente noticiado. Pareceu, pra mim, informação repetida, quando li um dos títulos no Twitter, no dia que saiu a nota. Nem entrei. Só fui saber do item 2 no domingo, no Barradão, vendo o baba contra o Jacobina. Meu bróder Zé Amoedo (não confundir com o Coerência) comentava justamente isso: como é que a parte histórica da nota foi repercutida de forma velada, com raras presenças em títulos e subtítulos jornalísticos (dê um Google aí). Por que ela foi tratada como “detalhe”? A torcida rubro-negra tem várias teorias para esse fenômeno editorial.>
Não tenho cacife pra ombusdman, nem leio manuais de jornalismo mais modernos, mas eis um exemplo para ilustrar o que digo baseado em preceitos antigos. Em 2013, durante a onda de manifestações pelo país, o Grupo Globo ficou irritado com as recorrentes e renitentes citações como apoiador do Golpe de 64. Publicou um editorial reconhecendo o erro e, na prática, dizendo que, daquele mea culpa em diante, seria um novo dia de um novo tempo que começava.>
A informação que foi para as manchetes e títulos, veja, não foi a irritação da Globo com os jovens que a acusavam de apoiadora da ditadura. Isso era história velha. O novo e histórico era o reconhecimento do apoio, mesmo que muitas décadas depois. Jornalismo conta histórias e escolhe a melhor forma para contá-la. Quer dizer, nem sempre. No nosso caso, ao menos o foco foi errado.>
Pra fechar, questionamentos de boteco: 1. Por que não interessa ao Bahia ter o Vitória na 1ª divisão do Baianão? Economicamente, não é melhor ter Ba-Vis no campeonato, únicos jogos que têm rendas gordas, que anima o torcedor, que têm repercussão e, portanto, retorno de imagem aos patrocinadores? 2. Até que ponto o Bahia também não está “fugindo” dos confrontos com o Vitória? Não é a primeira vez que entram no tapetão como “parte interessada”. Sem ter (quase) nada a ver com a história, se embolou no imbróglio do Caso Victor Ramos, que podia tirar o Leão da Série A – o que significaria dois Ba-Vis a menos no ano.>
Nesse caso, aliás, lembro que parte da torcida criticou Marcelo Sant’Ana por se meter na história. 3. O que mudou de lá pra cá? Por que o apoio, agora, quase unânime à decisão do Bahia de manter a carga judicial sobre o Vitória, mesmo depois de ganhar os três pontos do jogo, 3x0 no Barradão, triunfo após sete anos? Falo sério: por que querer além daquilo que está mais claramente previsto na regra (levar os pontos do jogo)? O Bahia também não errou em nada naquele Ba-Vi cagado? E não interessa mesmo ganhar o Baianão com o Vitória na disputa? Respondam e ponham na minha mesa lá no Cólon até o final do dia.>
Ah, sim, última coisinha: avisar à Diretoria Executiva, Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal do Bahia que há uma dissonância entre o reconhecimento da arregada e a frase que encerra bonito a nota tricolor: “Quem nasceu para vencer não fugirá jamais.” Não fugirá jamais daqui pra frente, né? #Pas>
Publicado originalmente no Facebook* Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores>