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Confira cada detalhe da viagem para a Floresta Amazônica
Brenda Viana
Publicado em 8 de setembro de 2024 às 05:00
O ser humano possui cinco sentidos: olfato, audição, paladar, tato e visão. Em uma viagem, todos os sentidos são aflorados, sobretudo quando você pisa em um ambiente totalmente diferente. Agora, imagina ficar hospedado num hotel de luxo por quatro dias no meio da Floresta Amazônica, um dos lugares mais admirados e respeitados do Brasil, com imersão plena entre as árvores, os rios, os animais, o cheiro de terra molhada e sem internet?
O CORREIO esteve na região e experimentou todas as sensações durante a estadia no meio do nada. Para chegar no coração verde do país, é necessário desembarcar em Manaus. No primeiro dia de viagem foi preciso dormir num hotel de Manaus.
A vista da janela do hotel é excepcional, com a cúpula do Teatro Amazonas - composta por 36 mil peças de escamas em cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas, foi inaugurado em 1896. O teatro é considerado um dos mais bonitos do mundo, tombado como Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN em 1966.
No hotel, depois de um bom suco local de cupuaçu, saímos de van, às 9h, para o Porto da Ceasa, onde pegamos um barco para o primeiro passeio: o encontro das águas do Rio Negro com Rio Solimões (conhecido como Amazonas na região). A viagem dura 30 minutos e é o suficiente para ver a beleza natural. No Rio Negro, a temperatura varia entre 24°C a 28°C, enquanto no Solimões pode ficar entre 17°C a 19°C – basta tocar na água para sentir a diferença.
Após 30 minutos na primeira embarcação, chegamos ao município de Careiros, onde seguimos de van por 1h até a terceira parada com o último barco. A partir desse momento, o sinal do celular some, a internet não existe mais e a falta de comunicação virtual acaba. A travessia na embarcação também tem duração de 1h e, poucos minutos depois, apenas o verde é visto.
Entramos na Floresta Amazônica. O misto de cheiro de terra molhada, as águas quentes do rio Amazonas, os pássaros voando entre as árvores e a sensação de liberdade nos atinge em cheio. Após 1h na embarcação, chegamos ao Hotel Juma Amazon Lodge, luxuosa hospedagem de quase 7 mil hectares em meio ao município de Autazes.
Todo de madeira, aconchegante, o restaurante chama a atenção. Quem estiver vontade de visitar o hotel, poderá usufruir do café da manhã, almoço e jantar. E passar fome não é opção, já que a fartura dos pratos locais, com receitas típicas, surpreende o visitante. O tradicional açaí, acompanhamento da farinha local, tapioca com queijo, banana frita e tucumã (fruta típica rica em fibras e salgada) e sucos naturais, de taperebá ou cupuaçu, mostram que a culinária brasileira é de extrema importância.
A delícia do almoço fica por conta dos carro-chefes, que são os peixes amazônicos de água doce, como pirarucu, tucunaré, tambaqui e até piranha. Todos são feitos com ingredientes locais, como o escolhido pela repórter: um filé de pirarucu com crosta de castanha e purê de banana picante. Na sobremesa, mousse de açaí, doce na medida certa.
À noite, o paladar ainda pode surpreender. Uma sopa de raízes locais com frango desfiado é servida como entrada. Já no prato principal, filé mignon com molho de ervas, macaxeira frita e farofinha de castanha. Uma mousse de maracujá, no final, dá o toque doce. Como foi dito: passar fome não é opção.
Mas nem só de comida se vive o hóspede. No primeiro dia de quatro no local, saímos para uma pescaria pelas águas da Amazônia, conseguindo achar um tucunaré e uma piranha - que foram colocados de volta no rio. O calor não chega aos pés da temperatura de Salvador, mas é abafado em determinados lugares, mesmo com árvores ao redor.
Observar tudo verde, com casas bem pontuais em determinados lugares, chega a ser agoniante e, ao mesmo tempo, uma paz absurda – principalmente com a falta da internet. A imersão na floresta também inclui as mudanças climáticas, que pode se transformar completamente de hora em hora, como um sol escaldante às 14h30 e às 15h o tempo fechar, com uma chuva forte e trovão, para mudar logo em seguida.
Se você nunca teve coragem de escalar uma árvore de 40 metros, na Amazônia todo medo é revertido em coragem. O passeio começa de barco até outra parte da floresta com profissionais que auxiliam nos equipamentos para a escalada. O esporte radical dura até 2h, dependendo da disposição física de cada um. Você pode escolher apenas ter a sensação de subir até a metade de uma árvore ou chegar até o topo e ouvir o som dos rios, pássaros gritando, macacos berrando por território e, claro, tirar uma foto panorâmica.
Nesse passeio dá para ver a sumaúma de 250 anos e 40 metros, atingida por um raio que abriu dois buracos em seu tronco: o visitante passa dentro e faz pedidos. A cantora Anitta gravou o clipe de 'Is That for Me' por lá.
Se na cidade grande, com o desmatamento, moradores estão recebendo visitas de jacarés e outros animais silvestres, na Amazônia tem um passeio especial para procurar jacarés e outros bichos à noite, com guia, claro. Na minha embarcação, a viagem ocorreu sob os cuidados de Artemio, que trabalha no hotel há mais de 20 anos. Com uma simples lanterna na cabeça, ele achou um filhote de jacaré que tinha acabado de sofrer uma mordida de piranha na ponta do rabo. O medo da escuridão no meio da floresta se transformou em coragem para segurar o animal. Em seguida, o réptil foi solto na água.
No dia seguinte, acordar às 4h da manhã, ainda no frio, faz parte do passeio para amanhecer no meio da floresta e ver o nascer do sol. Como foi citado acima, o clima pode variar e apenas ver uma ‘fresta’ do sol querendo aparecer, mas já é o suficiente.
É importante entender que a academia precisa estar em dia para ter condicionamento físico numa caminhada de quase 3h por dentro da floresta. Com muito repelente, protetor solar e garrafa de água, os guias contam uma história a cada parada. A que mais chamou a atenção foi de uma árvore chamada louro rosa. O pó branco extraído com um facão tem um cheiro diferente, aroma de perfume conhecido no mercado - a linha Natura Ekos foi criada depois que os donos da perfumaria fizeram uma viagem ao local.
Ainda na trilha, uma escultura de Curupira não deixa a dúvida sobre o folclore brasileiro. Particularmente, acredito que o Curupira existe e só permitiu a entrada dos visitantes por motivos espirituais.
Depois de caminhar por quase 2 horas, você tem a experiência de conseguir plantar uma árvore na floresta. Como parte da atividade para a importância da preservação, a sensação de saber que um ‘pedacinho’ seu vai crescer em um solo tão importante para o Brasil é única.
Por último, o visitante tem a oportunidade de visitar a casa de um caboclo, um homem que mora no coração do país, onde aprendemos como é feita a farinha de mandioca, o uso das plantas medicinais e ainda provar iguarias feitas na hora. A despedida da floresta ainda é sentida, mesmo após meses da viagem: a lembrança de um boto cor de rosa ‘dando adeus’ aos tripulantes da embarcação que voltava para Manaus.
Com apenas 20 bangalôs, o hotel foi feito por método de palafita para seguir o ciclo de cheia do rio - que já chegou a transbordar e atingir todo o estabelecimento. Cada quarto tem sua especificidade. O escolhido para a equipe do CORREIO tinha vista para o pôr-do-sol da floresta. Há também dez quartos com vista para o Rio Juma, outro com vista panorâmica para a floresta. Nenhum tem acesso à internet.
A decoração explora 100% os materiais e artesanatos locais, com madeira extraída de troncos que caíram naturalmente. O luxo não fica apenas em estar numa viagem financeiramente cara, mas também no ambiente sofisticado em cada detalhe. Entre a recepção e o quarto, várias surpresas, como avistar um macaco pulando entre os galhos.
O hóspede pode usufruir de uma piscina de rio com bar coberto para mudanças climáticas, um redário exclusivo para tirar um cochilo sob as árvores, um museu com informações sobre o hotel, energia solar, sala de Wi-Fi e um restaurante belíssimo.
SERVIÇO - A reportagem foi convidada pela Smile Viagens e GOL Viagens para ter a experiência com o pacote Mutum, ida e volta com aéreo, juntamente com transporte do aeroporto para o hotel e retorno para o aeroporto ao final da estadia por 3 dias, no valor de 10x de R$ 1.280 ou R$ 12.800 por pessoa em apartamento duplo. No entanto, a empresa disponibilizou para o CORREIO e para os outros jornalistas, a experiência com todos os passeios disponíveis no roteiro Uiapuru, de 5 dias e que custa 10x de R$ 1.184 por pessoa ou R$ 11.840. Além disso, com a Smile Viagens, a pessoa pode ter acesso às salas VIP com Lounge Gol, bagagem prioritária e acumular milhas.
Nas últimas 24 horas, o Brasil registrou 2.758 focos de incêndios, de acordo com o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Todos os biomas apresentam focos de incêndio, que podem representar uma ou várias frentes de fogo ativas. A Amazônia concentra o maior número de focos, com 1.558, seguida do Cerrado, com 811; Caatinga, com 188; Mata Atlântica, 168; Pantanal com 28 e Pampa com cinco focos identificados. O estado do Mato Grosso é o que mantém o maior número de focos, com 933, seguido do estado do Pará, com 415.
Ao lembrar do Dia da Amazônia, celebrado neste 5 de setembro, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, declarou que o governo federal está unido em esforços para combater a seca e os incêndios: “Mas esse esforço não pode ser só de um ente da federação ou de governos. Precisamos colaborar juntos, com estados, municípios, academia, iniciativa privada e toda a sociedade”.
De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais de 7 milhões de hectares da Amazônia já foram consumidos pelo fogo. No Pantanal, os incêndios já atingiram 2,6 milhões de hectares, o que corresponde a 17,76% do bioma; o Cerrado teve mais de 142 mil hectares alcançados, correspondentes a 15,8% do bioma.
Na última terça (3), a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República anunciou o frete de mais cinco helicópteros para o combate aos incêndios. As aeronaves já atuam no Pantanal equipadas com um dispositivo capaz de lançar cerca de 2,5 mil litros de água. Segundo o governo, atuam ainda no Pantanal 907 profissionais do governo federal, com outros quatro helicópteros e oito aviões, além de 44 embarcações. Na Amazônia, atuam 1.468 brigadistas.
A equipe do CORREIO entrou em contato com a gerente do Hotel Juma, Cida Ikeda, que garantiu que o fogo não ocorre perto do hotel: ”Contudo, a fumaça toma conta de todo o estado, causando desconforto nos hospedes, além de prejudicar a saúde dos funcionários e moradores da região. O fogo não está prejudicando somente os empreendimentos, mas também a população e creio que essa queimada é criminosa, está prejudicando muito nossa região e o turismo. Em 2023 foi horrível, esse ano a tendência é piorar".