Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Partiu avoado: Gol 'troca' a Bahia pelo Ceará em conexões para Europa

Salvador tentava atrair hub, mas negociação fracassou e Fortaleza levou a melhor; situação precária do aeroporto foi decisiva

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2017 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: João Sal/Divulgação

A Bahia foi derrotada em mais uma disputa por hub de aviação no Nordeste. O centro de conexão da Air France-KLM e da Gol Linhas Aéreas, que terá cinco voos semanais para Paris, na França, e Amsterdam, na Holanda, a partir de maio de 2018, terá como sede Fortaleza (CE), e não para Salvador. Após o CORREIO antecipar a informação, o anúncio foi realizado oficialmente na manhã desta segunda-feira (25) em uma coletiva de imprensa na sede do grupo, em São Paulo. De acordo com a empresa, o Ceará foi escolhido por conta da localização geográfica em relação à Europa e às demais cidades do Norte e Nordeste, além do potencial de desenvolvimento do aeroporto, economia e turismo.

O hub é um ponto de distribuição de voos que funciona como local de conexão para que companhias aéreas transfiram seus passageiros até seus destinos finais. Esse é o segundo hub de aviação que a Bahia perde no período de dois anos. O primeiro, da Azul, foi levado por Pernambuco, que disponibiliza voos regulares para 12 cidades. O operacionalizado pela Gol será realizado pela recém lançada companhia aérea Joon, ligada ao grupo Air France-KLM, que irá oferecer três voos diretos de Fortaleza para Amsterdã, da KLM, e dois para Paris, da Air France.

Impacto no turismo Atores do trade turístico de Salvador, que já está em crise há quatro anos, lamentam por mais essa perda para a movimentação da cidade. “O hub de voos movimenta pessoas e tripulações, que iriam embarcar e desembarcar em Salvador, além das cargas que seriam distribuídas no país e fora dele. Nós já perdemos o da Azul para Recife e agora esse para Fortaleza”, lamentou Sílvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação.

Para Roberto Duran, presidente do Conselho Baiano de Turismo, perder o hub significa perder demanda e quantidade de voo, com menos passageiros e movimentação da malha turística da cidade. “Perdemos o da Azul, o da Gol e estamos bem atrás no hub que a Latam está levantando. Temos o da Avianca e espero que a gente continue com ele. Fora isso, não tem mais linhas aéreas no Brasil para instalar hubs”, afirmou Duran.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-BA) também lastimou a perda do ponto de conexão de voos em Salvador. “Se falarmos de números de passageiros transitando, podemos perceber o quanto que a Bahia perdeu com esta escolha da Gol e da Air France-KLM. Além do volume de passageiros, ainda temos a tripulação, que representa ocupação e gasto no comércio. A Bahia está tendo uma situação de baixa muito grande em relação aos outros estados do Nordeste. Estamos passando por perdas significativas ultimamente, como o hub da Azul”, disse Avani Duran, coordenadora da Câmara Empresarial de Turismo do Fecomércio-BA.

Aeroporto decisivo Para além da localização geográfica, o atraso do governo de oferecer incentivos fiscais para que a instalação fosse realizada em Salvador e a infraestrutura precária do Aeroporto de Salvador foi citada por todos os entes que entramos em contato.

“Faltou agressividade por parte das autoridades que não deram isso como prioridade. O governo demorou para baixar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços) sobre o combustível. Nós apresentamos por último e os outros estados sempre estavam na frente. Além do nosso aeroporto, que ficou degradado. A Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) também fizeram sua parte, porque os aeroportos de outros estados não estão pecando pela má conservação”, avaliou Sílvio Pessoa.

Para Avani, a atual situação do aeroporto tirou o desejo das companhias aéreas de virem para a Bahia, que mesmo sendo considerada um destino “número um” do Nordeste, acaba perdendo para outros estados.“Sabemos que a situação do aeroporto (de Salvador), que se afastou por muito tempo, tirou o desejo, a oportunidade que companhias aéreas se aproximassem ao nosso destino que é o de maior destaque do Nordeste, por ter maior quantidade de leitos hoteleiros e vários produtos para vender dentro do mesmo destino”, opinou Avani.“A nossa infraestrutura ficou descuidada e o aeroporto deixou de oferecer condições às companhias”, complementou ela, que ainda citou a falta de infraestrutura da orla para acolher o turista e a falta do Centro de Convenções para grandes eventos internacionais e nacionais.

Para Roberto Duran, o Aeroporto de Salvador possui restrições operacionais, que também foram decisivos na hora da escolha. “Nós temos problemas em esteira, ar-condicionado, elevador, na área de desembarque e outras coisas que nem preciso elencar, porque quem utiliza o aeroporto sabe”, disse, ressaltando que o terminal foi classificado como pior do país em infraestrutura, na pesquisa de satisfação dos passageiros, feita pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil.

Negociação inábil Duran também ressalta que faltou uma agilidade do governo para negociar a vinda do hub. “Isso se deve a uma demora do governo em sentar na mesa de negociação para conseguir puxar o negócio. Não fomos hábeis o suficiente para conseguir trazer para a Bahia. Esperamos que o governo, com mais essa perda, seja mais célere e eficiente em tomar as decisões em momento adequado”, disse o presidente do Conselho.

A esperança do trade turístico parece ser a mesma: a nova administração do aeroporto, e os novos incentivos do Governo e da Prefeitura de Salvador, que mesmo considerados tardios, poderão atrair outros voos para a Bahia.

A Vinci Airports, nova administradora do aeroporto, classificou a decisão como “decepcionante”, mas afirmou que irá continuar buscando companhias aéreas internacionais para desenvolver novas rotas para o terminal de Salvador. “A decisão, embora decepcionante, não afeta de forma alguma os ambiciosos planos da VINCI Airports para desenvolver o aeroporto de Salvador”, disse em nota enviada para o CORREIO.

Procurada pelo CORREIO, a assessoria da Gol Linhas Aéreas ressaltou que o hub é do Nordeste e que irá impactar diretamente nas capitais da região."Aumentaremos a oferta para capitais do Norte e Nordeste, Salvador também estará incluída", diz a Gol, em comunicado enviado ao CORREIO.A companhia ainda não tem informações sobre a movimentação financeira estimada e sobre o número empregos gerados com a instalação do hub.

Próximas disputas Para o secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco, a escolha por Fortaleza não foi uma perda e o avanço é significativo para atrair novos hubs. Tinoco explicou que as companhias aéreas sinalizaram que o posicionamento geográfico de Salvador faria com que o plano de voo ganhasse 30 minutos, o que iria exigir um piloto a mais. “Isso eleva os custos operacionais para a Air France-KLM. De bastidores, a gente já percebia sinais de que fariam essa opção por conta dos custos de operação”, disse.

[[publicidade]]

A prefeitura sancionou a Lei 9.276/2017, no dia 15 deste mês, que oferece incentivos fiscais para empresas que vierem a implantar hubs no aeroporto. “Desde junho, quando fomos comunicados dessa oportunidade, nos foi apresentado a lei de Fortaleza, que oferecia incentivos para essa implantação. Em menos de três meses, evoluímos para que tivéssemos uma lei municipal que oferecesse incentivos em melhores condições”, disse Tinoco, que ressaltou que a lei estimula que outras companhias aéreas, como a Air Europa, que já é instalada em Salvador, amplie a frequência de voos. “Já foi anunciado que em dezembro a Air Europa vai abrir uma terceira frequência”, disse.

Tinoco ainda destaca que o governador do Ceará teve “apetite” no relacionamento com a Air France e que a redução do ICMS sobre o combustível foi tardia. “Não tenho dúvida que a decisão de reduzir o ICMS foi tardia. Se fosse tomada há mais tempo e estivesse em vigor, as condições do relacionamento seriam outras”, avaliou.

A derrota do aeroporto de Salvador como hub já havia sido prevista pela coluna Satélite. Segundo a coluna, a vitória de Fortaleza começou a se desenhar no início do mês, quando o governo do Ceará garantiu R$ 10 milhões para a Air France promover, nos próximos cinco anos, os voos internacionais que serão operados a partir do hub.

O valor é quase o dobro da oferta apresentada antes pela Bahia. A especulação ganhou força com as declarações feitas à imprensa pela cônsul da França na capital cearense, Fernanda Jansen, que revelou a criação de uma linha para Paris, com início previsto para dezembro em Fortaleza.“O governador do Ceará usou a embaixada brasileira na França para ter contato direto com a direção da Air France, eles tiveram um apetite grande com relação a isso. Não sei se faltou isso na Bahia, quem tem que responder é o governo, mas no caso do Ceará ocorreu”, comentou o secretário municipal de Turismo.Tinoco ainda destacou a vinda do voo Salvador-Bogotá, operacionalizado pela companhia aérea Avianca. "Nós fizemos capacitações para abrir mercado e frequência aqui. Com todo o movimento feito, conseguimos efetivar um voo internacional de Bogotá (capital da Colômbia) para Salvador”, disse.

O secretário estadual do Turismo, José Alves, afirmou que as “vantagens competitivas” por conta do preparo para a disputa pelo hub será utilizada para buscar novas frequências internacionais. “A força econômica do Estado; o número de passageiros/ano em trânsito no Aeroporto Internacional de Salvador (7,4 milhões) e o fato de termos 150 municípios turísticos mantém a força econômica da Bahia para novas oportunidades já em prospecção”, disse José Alves, em nota enviada ao CORREIO. Questionada sobre a demora apontada para a concessão das vantagens, a secretaria não comentou o assunto.

Outras perdas Em janeiro de 2016, a Bahia perdeu o hub da Azul, que concentrou as ações em Pernambuco, na capital Recife. A empresa estreou voos regulares em 12 cidades em março deste ano. Com o hub, a Azul se tornou a primeira companhia a conectar todas as capitais do Nordeste. No caso de Belém e João Pessoa, há ligações diárias e sem escalas à Recife, como também acontece com Petrolina (PE), Campina Grande (PB) e Juazeiro do Norte (CE) e Brasília. Aos finais de semana, buscando aumentar as viagens à lazer para o estado, Recife ganhou frequências com São Paulo (Congonhas), Curitiba, Goiânia, Ilhéus, Porto Seguro e Presidente Prudente (SP).

A intenção de criar um hub no Nordeste também foi anunciada pela Latam Airlines Brasil, antiga TAM Linhas Aéreas, mas acabou sendo congelada. Mesmo antes dessa interrumpção, Salvador não estava entre as capitais que iriam disputar o hub da companhia, o qual era disputado por Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Por conta do hub da Latam, as capitais saíram na frente nas disputas por conta dos incentivos fiscais que já haviam sido articulados. A expectativa inicial era que a capital vencedora passasse a ter 3,2 milhões de passageiros adicionais em 2038.