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João Gabriel Galdea
Publicado em 15 de outubro de 2023 às 05:10
Quase todo soteropolitano com mais de 30 anos de idade ou, como o nome da coluna, da turma do 40+, lembra de uma antiga ‘previsão’ atribuída à vidente Mãe Dinah, aquela que disse ter antecipado a tragédia dos Mamonas Assassinas: a Estação da Lapa vai ruir. >
A tal antevisão nunca foi confirmada porque, ao que tudo indica, a vidente nunca bateu um McLapa Feliz no antigo terminal (ou seja, antes da última grande reforma), e já não está entre nós para confirmar ou negar nada. >
No entanto, o tal boato ganhou fôlego (ou teria nascido ali?) após um incidente em abril de 1999, quando um dos tirantes com cabos de aço que sustentam o platô (parte de cima da estação) romperam, no final de uma segunda-feira movimentada, motivando a interdição do terminal, hoje com quase 41 anos de operação - começou a embarcar e desembarcar passageiros em novembro de 1982.>
Na edição de de 13 de abril de 1999, um dia após a segundona do susto, a capa do Correio da Bahia trazia a imagem dos cabos de aço partidos e a manchete “Lapa interditada por risco de desabamento”. >
Logo abaixo, a foto dos materiais retorcidos e a explicação na legenda: “Com o rompimento de um dos tirantes (viga formada pelo conjunto de 16 cabos de aço) que sustentam a estrutura do terminal, a Estação da Lapa vai ficar interditada”. A previsão era de 10 dias sem buzu por lá.>
Pânico>
Na tarde pré-interdição total, uma parte do terminal ainda continuou funcionando. “Houve interdição parcial da Lapa, no platô superior, e, para evitar maiores prejuízos à população, foi mantido o acesso dos usuários ao subsolo”.>
Mas, claro, teve gente que ficou com medo de arriscar o cocuruto. “A interdição parcial de ontem, em horário considerado de rush, já que estudantes e trabalhadores voltavam das escolas e do comércio, provocou um burburinho na Lapa. Notícias de que a estação estava para desabar começaram a circular, provocando pânico em algumas pessoas, que se recusaram a descer ao platô inferior”, cita a reportagem.>
Uma dessas precavidas foi uma funcionária pública de 40 anos. “A Lapa estava em péssimas condições, a estrutura balançava quando os ônibus passavam, sem falar da umidade e da poluição que não circula. Quanto não faltou para uma tragédia?”, questionou.>
Pedalada e pé d'água>
O dia seguinte foi de perícia para esclarecer as causas do incidente, mudança em 87 linhas que faziam base operacional na estação - todas transferidas para o Estacionamento São Raimundo (Barris) e para os terminais da França (Comércio) e da Barroquinha -, e muita chuva pra tornar as coisas ainda mais complicadas.>
Choveu do alvorecer ao anoitecer, isso num contexto em que muitos tiveram que caminhar quilômetros para chegar aos compromissos. “Desorientadas, as pessoas que costumam usar a Estação da Lapa tiveram que fazer longas e desconfortáveis caminhadas debaixo de muita chuva”, destaca outra reportagem, relatando ainda que em toda a cidade sofreu com alagamentos e congestionamentos.>
Por conta das longas distâncias que seriam percorridas por muitos passageiros (cerca de 450 mil pessoas, em média, passavam pela Lapa num dia útil), a compensação da prefeitura foi tornar gratuitos o acesso ao Elevador Lacerda (na época, com acesso a R$ 0,05) e o Plano Inclinado Gonçalves, por exemplo.>
Antes da liberação do terminal, e o retorno à normalidade quase duas semanas depois, a empresa carioca Promon, que era a responsável pelos cálculos do projeto desde a fundação, em 82, informou que a causa mais provável do rompimento dos cabos fora a corrosão, mas não detalhou como aconteceu. Também garantiu que não havia sobrecarga dos cabos. “Existem até mais cabos que o necessário”, disse um representante da empresa.>
Um pouco de história>
Na época da inauguração, a Estação Clériston Andrade, nome oficial da Estação da Lapa, era considerada o maior terminal de transportes da América do Sul. Além disso, uma das escadas rolantes, a que liga a estação ao Colégio Central, no Nazaré, era tida como a maior do Brasil, com 12 metros de comprimento.>
O terreno onde o terminal foi construído pertencia à Ordem das Irmãs da Imaculada Conceição, dona do Convento da Lapa. Em troca de um outro mosteiro, construído pela prefeitura no final de linha de Brotas, as freiras cederam o terreno para a construção da estação de transbordo, projetada com a proposta de equacionar a quantidade de ônibus/hora que operava na Cidade Alta, do Campo Grande à Praça da Sé. >
Com 30 mil metros quadrados de área construída, a Lapa tem projeto arquitetônico assinado pelo famoso João Filgueiras, o Lelé, realizado pela empresa Soares Leone. >