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'É urgente abrir os olhos para uma polícia que não precisa matar para resolver crimes': ator baiano sobre policial negro

Fabrício Boliveira fala sobre nova série Cenas de um Crime e o retrato da segurança pública no Brasil

  • Foto do(a) author(a) Moyses Suzart
  • Moyses Suzart

Publicado em 25 de outubro de 2025 às 05:00

Fabrício Boliveira fala sobre o papel do policial negro em Cenas de um Crime e o retrato da segurança pública no Brasil
Fabrício Boliveira interpreta policial em Cenas de um Crime  Crédito: Divulgação

Mais um baiano de sucesso, Fabrício Boliveira carrega nos seus 20 anos de carreira diversos roteiros e personagens. Já foi até policial, mas desta vez é diferente. Em Cenas de um Crime, nova série da HBO Max, o soteropolitano interpreta André, um policial civil que investiga o assassinato de um dos maiores empreiteiros do país.

O personagem é complexo, contraditório e reflete muito do que o ator pensa sobre o papel da polícia, além do olhar da sociedade diante de um policial negro. No bate-papo com o CORREIO, Fabrício fala sobre o desafio de interpretar uma polícia que foge do padrão opressor para um investigativo, que usa, quase sempre, da inteligência para fazer o seu papel. A crítica social que a série propõe e a importância de mostrar uma polícia que investiga sem precisar matar.

CORREIO: Seu personagem é André, um policial civil. A série fala muito sobre esse contraste entre a polícia que investiga e a polícia que oprime. Como foi tratar isso no seu novo personagem?

Fabrício Boliveira: É muito interessante isso, pois a série levanta essa questão: que polícia é essa que a gente tem? Porque, apesar de André ter aquele lado que também pressiona, o público vai entendendo ao longo dos episódios qual é o trabalho de um policial civil e qual é o de um policial militar. E aí vem o questionamento: que polícia é essa que só oprime? Que acumula em algum lugar da corrupção? Que polícia é essa que mata e que polícia é essa que não mata?

Seria a diferença do policial bom e do ruim?

FB: A gente vê o tempo todo os resultados dessa polícia que puxa a arma antes de ouvir. E também tem a outra, que, mesmo com falhas, não precisa atirar para resolver. Quando você vê que 100% das mortes causadas pela polícia baiana, nos últimos anos, são de pessoas pretas, você entende a urgência de abrir os olhos pra isso, para uma polícia que não precisa matar para resolver crimes. Então, que que tipo de respiração a gente pode ter em cima disso? Meu personagem vai trazer isso.

E o fato de André ser um policial negro, de dread, muda essa leitura, né?

FB: Muda muito. Já tinha feito outros trabalhos como policial, mas aqui é diferente: é um policial civil, um homem preto, de dread. E isso é novo no nosso imaginário. Ele não é o cara que é caçado… ele é o cara que caça. Isso muda tudo. Li uma matéria depois de filmar a série, acho que até no CORREIO, sobre um policial civil de dread, também homem preto, que deu carteirada no carnaval e ninguém acreditou que ele era policial. Isso mostra o quanto ainda não digerimos essa imagem. É quase como se o Brasil ainda não tivesse “engolido” essa ideia.

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Você sente cansaço com a forma como a polícia é retratada no audiovisual, de tiro, porrada e bomba?

FB: Sim. Me cansa um pouco esse cinema da polícia opressora, que virou quase fetiche. A gente já sabe disso, não tem novidade. O André traz outras camadas. Ele começa parecendo vilão, mas depois você percebe que tem outros lugares amarrando ele. A série mostra o que se passa dentro da cabeça desse cara, um policial preto cheio de contradições. Tem uma cena forte em que ele fala pro personagem do Enzo Romani: “preto sou eu”. Aquilo me atravessou. Ali entra o Brasil inteiro. Todas as camadas, todas as tensões.

Esta escolha do policial que investiga num gênero de assassinato é um caminho para mudar este cenário de polícia que mata, ao menos nas tramas?

FB: Sim. Polícia boa ser aquela que não precisa dar um tiro pra resolver as questões é uma discussão interessante. E é isso. A nossa dupla, o André e a Bárbara, é meio CSI brasileiro, sem tiroteio. É diálogo, investigação, humanidade. Estamos num nicho diferente. E é bom ver que o público entendeu isso. A gente conseguiu tratar de outras questões com entretenimento, sem ficar preso ao discurso social. Achamos uma média boa entre conteúdo e forma. Acho que a série conseguiu esse equilíbrio e talvez seja nova justamente por isso.

Você já fez outro tipo de policial?

FB: Sim, já. Dentro de um trabalho que eu fiz, que também era sobre polícia, eu fui para uma escola de polícia viver aquele ambiente de treinamento. E a minha dupla, cara, o tempo inteiro queria puxar a arma. Ele perguntava: ‘que horas é que eu atiro?’. E aí eu tive que parar o treinamento, pegar a arma na mão dele e falar: ‘gente, acabou o treino. Eu não vou trabalhar com um cara que está sendo assassino. O cara está o tempo inteiro querendo matar alguém e ele vai ser um policial. Eu sou ator, ele é o de verdade! O que está acontecendo, sabe? A gente foi construído dentro dessa imagem do tiro, da bomba, do policial sempre pronto pra atirar, e isso parece que o trabalho do policial não é o da investigação, não é o da razão, não é o da inteligência. Mas é! É uma área de inteligência mundial.

E o que mais te chama atenção nesse seu novo personagem?

FB: A complexidade dele. O André tem todas as cores do mundo que o cerca. E somos assim também, no Brasil: intensos, complexos, cheios de contradições. Ele tem essas cores inteiras, e a série vai escavando isso. A gente está fuçando nele, tentando entender o que o move, o que o trava, o que o contradiz.

Já dá pra sonhar com uma segunda temporada, com André fazendo este papel de polícia inteligente em outras situações?

FB: Ah, tomara! A segunda temporada é uma loucura. André e Bárbara voltam em outras situações, com novos crimes e discussões que ainda não foram exploradas. Eu torço para que a HBO queira fazer, porque tem muito assunto para ser tratado.

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