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Problemas no ferry se intensificam mesmo com aumento de tarifa

Com apenas duas das sete embarcações em boa parte dessa sexta-feira (16), tempo de espera foi de mais de sete horas

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 17 de agosto de 2024 às 05:00

Internacional Travessias, empresa que administra o sistema, recebeu 10 multas em um único dia por descumprimento de horário
Internacional Travessias, empresa que administra o sistema, recebeu 10 multas em um único dia por descumprimento de horário Crédito: Marina Silva/CORREIO

O ar-condicionado do carro não dá conta de refrescar o condutor e os passageiros quando os ponteiros do relógio se aproximam do meio-dia. Na fila extensa do ferry-boat, em Salvador, o que se vê são portas de automóveis abertas e semblantes de impaciência. O cansaço tem motivo: o sistema ferry-boat operava com apenas duas das sete embarcações da frota, na sexta-feira (16). Antes do almoço, passageiros já aguardavam mais de sete horas para o embarque. No período da tarde, a espera era de quatro horas. 

As filas extensas para cruzar a Baía de Todos-os-Santos são velhas conhecidas de Cristiano Souza. Por isso, ele agendou a viagem para a Ilha de Itaparica com 11 dias de antecedência. No dia marcado, chegou 20 minutos antes da travessia agendada para às 11 horas. No carro, além do motorista, estavam a esposa, uma idosa, duas crianças, de 3 e 5 anos, e um cachorro.

Mesmo com o agendamento, a família não conseguiu embarcar. "Nós chegamos com antecedência, mas informaram que o ferry estava cheio. Quer dizer, mesmo pagando mais caro, eles não guardaram nosso lugar", reclamou.

O filho mais velho de Cristiano, o pequeno Artur, tem transtorno de hiperatividade e, depois de uma hora de espera, os pais enfrentavam dificuldades para entreter a criança. "Nós agendamos justamente porque é muito difícil ficar com ele dentro do carro. Mas nem isso conseguimos", lamentou o pai.

A previsão era que a família embarcasse no ferry das 13 horas, duas horas após o planejado. Os atrasos são constantes para quem depende do transporte mesmo após o aumento da tarifa, aplicado em maio deste ano.

Felipe Barreto até tentou agendar a viagem que faria com a família para a Ilha de Itaparica, mas, com uma semana de antecedência, não conseguiu vaga. "Estamos esperando aqui há duas horas e sempre é do mesmo jeito. Até tentamos agendar na semana passada, mas já estava cheio", disse.

Mas não é só quem viaja a passeio que enfrenta transtornos. Marcos Santos chegou no Terminal de São Joaquim às 5 horas da manhã de sexta-feira (16), com a missão de levar um mini trio elétrico para a cidade de Valença. Ao meio-dia, ele ainda não tinha previsão para embarcar. "Fui contratado para trabalhar na campanha [eleitoral]. Devia ter chegado em Valença às 8 horas, mas já perdi um dia de trabalho", contou.

Em maio deste ano, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), órgão estadual que regula o sistema, aprovou o reajuste de 2,19% nas tarifas do ferry-boat. A partir do aumento, os automóveis pequenos passaram a pagar R$59,80, em dias úteis, e R$84,70, nos finais de semana e feriados. A tarifa de passageiro individual custa R$6,60 e R$8,80, respectivamente. Os problemas, no entanto, continuaram. 

Na sexta-feira, apenas as embarcações Anna Nery e Maria Bethânia estavam funcionando, com saídas a cada duas horas. A embarcação Ivete Sangalo reforçava a operação na quinta-feira (15), mas apresentou falhas em um dos motores propulsores no início da manhã. Já o ferry Dorival Caymmi foi retirado de circulação para vistoria de rotina, segundo a Internacional Travessias Salvador (ITS), que administra o sistema.

As duas outras embarcações, Zumbi dos Palmares e Rio Paraguaçu, passam por processo de restauração para preservação, de acordo com a empresa administradora. Ao todo, sete ferries integram a frota. A empresa não detalhou porque a embarcação Pinheiro não está em funcionamento.

Em nota, a Internacional Travessias disse que trabalhava para resolver os problemas. "Ressaltamos que estamos trabalhando ininterruptamente para que até o final do dia, quatro embarcações estejam em atendimento ao sistema ferry. São elas, Anna Nery, Maria Bethânia, Dorival Caymmi e Ivete Sangalo".

A situação não melhorou no início da tarde, quando a esperava continuava de quatro horas para quem tentasse embarcar com veículos. A Agerba informou que, apenas na quinta-feira (15), aplicou 10 multas à Internacional Travessias por descumprimento de horários.

Sucateamento 

A operação de duas das sete embarcações que compõem a frota é apenas um dos reflexos do sucateamento do sistema ferry-boat. Em março deste ano, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) propôs a realização de um termo de ajustamento de conduta (TAC) após uma inspeção que encontrou irregularidades na operação.

Na ocasião, foi constatado que o Terminal São Joaquim não tinha certificado de licença do Corpo de Bombeiros, já que o projeto de incendio e de pânico apresentado pela Internacional Travessias não foi aprovado desde 2018. Questionada sobre o TAC, a empresa afirmou que o processo deve ser concluído em setembro. 

"A ITS informa que algumas etapas do processo já foram concluídas. Neste momento, o documento encontra-se em fase de produção do projeto executivo, para apresentação ao Corpo de Bombeiros. A empresa estima que até a primeira quinzena de setembro deve concluir a primeira versão para avaliação", falou.

O MP-BA foi questionado sobre os desdobramentos na inspeção realizada em março, mas não se manifestou até a finalização desta reportagem. O espaço segue aberto. 

Ao longo dos últimos anos, diversas reportagens publicadas pelo CORREIO listaram denúncias dos usuários do sistema. Uma das mais recentes, publicadas em maio deste ano, revelou quais os cinco problemas mais relatados pelos passageiros. Foram eles: sujeira, presença de baratas, tempo de espera, estado precário dos banheiros e a falta de segurança.

A Internacional Travessias foi multada em R$300 mil pela Agerba por não cumprir boas práticas de limpeza e desinfecção nos ferrys Ivete Sangalo e Dorival Caymmi, em julho deste ano. 

Durante um evento realizado na sexta-feira (16), em Salvador, o secretário de Turismo da Bahia Murício Bacelar admitiu que a operação do sistema enfrenta problemas que impactam no deslocamento de baianos e turistas. "A questão do ferry-boat é um problema que nós temos na travessia da Baía de Todos-os-Santos. A Agerba, agência estadual que faz o controle, tem conversado com a empresa operadora e feito punições para combater essas deficiências", falou.

O secretário comentou ainda sobre a construção da ponte que ligará Salvador à Ilha de Itaparica. "A obra já está sendo desenvolvida com as obras de prospecção da fundação. Será uma construção complexa, a maior ponte da América do Sul, mas o que nós queríamos era que ela começasse a ser feita e isso está acontecendo", falou. A expectativa é que a ponte só seja finalizada em 2029. Enquanto isso, os usuários do ferry-boat sofrem com os gargalos do sistema.