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Larissa Almeida
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 05:00
Nos três primeiros meses de 2025, a Bahia acumulou 184.083 tentativas de fraude, o equivalente a 2.045 casos por dia – ou uma fraude a cada 42 segundos. O total de ocorrências representou um crescimento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian. Com isso, o estado se consolidou como a unidade federativa com maior volume de tentativas fraudulentas no Nordeste. >
O indicador da Serasa é resultado da multiplicação do número de CPFs consultados pela entidade pela probabilidade de fraude – obtida por meio da aplicação de modelos probabilísticos de detecção de fraudes desenvolvidos pela Serasa Experian, baseados em dados brasileiros e tecnologia Experian consolidada em outros países. O resultado desse cruzamento é adicionado ao volume de tentativas de fraudes registradas pela companhia referentes a verificação de documentos, biometria facial e verificação cadastral. >
Em relação aos números nacionais, a Bahia ocupa o sexto lugar no ranking de tentativas de fraude, sendo superada apenas por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo o levantamento, a atuação dos criminosos está cada vez mais disseminada e estratégica, mirando estados com forte atividade econômica e crescente digitalização de serviços. >
Walter Capanema, advogado especialista em Direito Digital, afirma que a junção de dois fatores explica o crescimento das tentativas de fraude no estado: a ampliação do acesso digital por parte da população e a sofisticação das quadrilhas cibernéticas. Ele explica que, à medida que mais serviços, compras e interações passam a ocorrer online, cresce também o ‘campo de caça’ para os fraudadores. >
“A digitalização sem a devida educação digital torna os consumidores alvos fáceis, especialmente em regiões com crescimento econômico e expansão do crédito. Os principais alvos são os dados pessoais dos consumidores, como CPF, número de cartão de crédito, dados bancários, documentos pessoais e até informações biométricas”, diz. >
Veja os tipos mais comuns de fraude virtual
Os dados são usados para abrir contas falsas, contratar serviços, solicitar empréstimos ou fazer compras em nome das vítimas. O especialista destaca que existe um verdadeiro mercado de venda desses dados, seja no aplicativo Telegram ou na Dark Web. Em alguns casos, os criminosos chegam a compartilhar uma tabela de preço pelas informações. >
A Serasa aponta que os setores mais visados pelos golpistas são bancos e cartões (54% das tentativas), que são seguidos por serviços (31,9%), financeiros (6,7%), telefonia (5,7%) e varejo (1,7%). De janeiro a março deste ano, a taxa foi de 4.129 tentativas por milhão de habitantes. >
Uma jovem baiana de 22 anos, que preferiu não se identificar, foi vítima de uma fraude com cartão de crédito do Banco do Brasil. Ela conta que, há pouco mais de uma semana, abriu casualmente a fatura do cartão e tomou um susto ao se deparar com uma cobrança indevida de R$ 900. Por impulso, reportou ao banco que havia sido roubada, sem notar no calor do momento que havia sofrido um golpe. Quando tentou mudar a queixa, adquiriu mais um problema. >
“Pedi que essa informação fosse alterada na minha contestação e o atendente me informou que a mudança teria sido feita e que a contestação seria finalizada em até dois meses, mas, que nos próximos dias, um estorno temporário poderia ser feito. Isso ocorreu dois dias depois. Porém, no terceiro dia, o valor indevido foi recobrado na fatura”, conta. >
Desesperada, ela ligou novamente para o banco, que informou que a contestação da não havia sido aceita e o caso continuava sendo tratado como roubo. Ao pedir, mais uma vez, uma mudança na queixa, ouviu que o pedido seria atendido, mas que não havia mais nenhum prazo para retorno. >
“Ou seja, posso ter que aguardar para sempre para ter meu valor restituído e ainda tenho risco de sujar o nome por algo que não fiz, caso não pague. O problema é que eu contava justamente com o crédito desse banco para me manter até receber meu salário e, agora, não tenho como fazer mercado ou comprar itens necessários, como remédios e absorventes, nos próximos dias. Estou em desespero”, desabafa a jovem. >
Para tentar se proteger de fraudes, Walter Capanema recomenda que os baianos sejam desconfiados, principalmente no ambiente digital. “[É preciso] desconfiar sempre, especialmente de contatos e links inesperados e de promoções fora do comum. Nunca efetue uma compra no impulso”, aconselha. >
Outras recomendações incluem a necessidade de verificação dos remetentes de e-mail e mensagens, usar senhas fortes, só atender chamadas de números conhecidos, ativar a autenticação em dois fatores, comprar em sites conhecidos e verificar se estes têm uma conexão segura (com ‘https’ na URL), e evitar compartilhar dados pessoais ou bancários por telefone ou redes sociais. >