Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 05:00
Uma das mais movimentadas rodovias federais que cortam a Bahia, a BR-324 está com radares fixos desativados desde o início deste mês. A falta de fiscalização eletrônica ocorre em razão da suspensão temporária do programa que viabiliza o processamento das imagens obtidas pela tecnologia, por insuficiência de recursos, segundo informações do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Por parte de especialistas e de motoristas, já há preocupação com o aumento de riscos no trânsito, uma vez que a BR-324 é campeã de infrações por excesso de velocidade. >
De acordo com o DNIT, a suspensão do Programa Nacional de Controle de Velocidade (PNCV) vai impactar os 26 estados e o Distrito Federal, totalizando o monitoramento de 3.887 faixas. Isso tudo porque, na prática, sem os recursos necessários, as imagens captadas pelos radares não são processadas por técnicos ou analisadas por agentes de trânsito. >
Até então, o PNCV é o principal instrumento da política nacional de segurança viária voltado à preservação de vidas e à redução de riscos nos trechos da malha rodoviária sob a administração da autarquia. Luide Souza, especialista em trânsito, destaca que a ausência do programa desampara a segurança nas rodovias. >
“Por lei, os radares são a única maneira legal de avaliar e comprovar o excesso de velocidade e consequentemente punir os infratores. É motivo de preocupação a desativação, porque esta medida vai encorajar o cometimento desta infração, tornando as rodovias brasileiras ainda mais perigosas”, frisa. >
O receio de um aumento de infrações de trânsito e maior risco à vida também é compartilhada por Fábio Rocha, policial rodoviário e integrante do núcleo de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Bahia. >
“A experiência mostra que os radares funcionam como instrumentos de prevenção, uma vez que inibem o excesso de velocidade, que é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de sinistros graves nas rodovias. Com a redução da presença desses equipamentos, há tendência de aumento no desrespeito aos limites de velocidade, ampliando a probabilidade de acidentes com vítimas”, ressalta. >
Na BR-324, essa tendência gera preocupação. Isso porque, a rodovia está em uma crescente de infrações por direção imprudente: registrou crescimento de 154% no número de ocorrências por excesso de velocidade entre 2023 e 2024 – um salto de 39.275 para 99.909 casos – e, até 18 de agosto deste ano, computou 48.981 infrações do tipo. >
Confira os radares espalhados na BR-324
Fábio Rocha afirma que o trecho entre Salvador e Feira de Santana é o que mais costuma registrar episódios de excesso de velocidade na BR-324. Enquanto isso, a BR-116 acumula casos em trechos que atravessam cidades como Feira de Santana, Jequié e Vitória da Conquista. “Essas rodovias possuem alto volume de tráfego, grande fluxo de veículos pesados e de passeio, e registram os índices mais elevados de autuações por velocidade incompatível”, pontua. >
Antes do fim da concessão do governo para a ViaBahia, a PRF na Bahia ficava responsável pelo monitoramento de 20 radares fixos na BR-324. Atualmente, a pasta opera apenas os radares móveis. Os fixos agora são de responsabilidade do DNIT e estão fora de operação devido à suspensão do programa. >
Quem passa com frequência pela BR-324 já tem notado a diferença da desativação dos radares. Esse é o caso do gerente de vendas Elielson Baixó, de 55 anos. “Eu tenho notado que o comportamento no trânsito mudou. Tem muito carro quebrado na estrada, altas velocidades e pouca sinalização. A ViaBahia não era boa, não, mas o DNIT não está dando conta. Está pior”, afirma. >
O motorista de van Reinaldo, que trabalha fazendo transporte para turistas, por sua vez, indica que nem todos ainda se deram conta que os radares não estão operando como antes. Segundo ele, os motoristas ainda desaceleram nas áreas monitoradas. Ele ainda chama atenção para uma falta de comunicação eficaz, uma vez que só sabia que, com o fim da atuação da ViaBahia, alguns radares tinham sido substituídos e que, por isso, alguns não estavam funcionando. >
Em nota, o DNIT disse que o PNCV não é a única ferramenta utilizada para a preservação de vidas e a redução de riscos nos trechos da malha rodoviária administradas pela autarquia e ressaltou que “já está adotando medidas alternativas de engenharia voltadas à segurança viária para minimizar os riscos ou atenuá-los”, escreveu. >
“Mesmo diante das restrições, a autarquia segue atuando de forma técnica, transparente e articulada com outras esferas de governo, buscando garantir a continuidade das ações voltadas à redução da sinistralidade”, garantiu. >
A PRF na Bahia, que não responde pelos radares desativados pelo DNIT, disse que, tendo em vista a situação, vai seguir intensificando a fiscalização com ações presenciais, utilização de radares portáteis, patrulhamento ostensivo e operações direcionadas em trechos críticos. Além disso, vão continuar realizando atividades educativas voltadas para conscientização dos motoristas. >