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Yan Inácio
Publicado em 17 de junho de 2025 às 05:30
A poluição ambiental e os incêndios florestais cresceram na Bahia nos últimos anos. Dados do relatório Além da Floresta: Conflitos Socioambientais e Desertos de Informação, da Rede de Observatórios da Segurança, revelam que os crimes relacionados ao descarte e à manutenção de substâncias perigosas subiram 42% entre 2023 e 2024, passando de 19 para 27 casos. Já os registros de incêndios saltaram de 870, em 2022, para 1.155, em 2024, um aumento de 32,7%.>
Com base no estudo, os crimes de poluição foram classificados como "produzir e/ou manter substância tóxica, perigosa ao meio ambiente" e "abandonar substância tóxica perigosa ao meio ambiente". A Rede solicitou informações sobre crimes ambientais, conflitos fundiários e crimes contra populações e povos tradicionais junto às secretarias de segurança e órgãos correlatos, mas não há registros de quais químicos foram usados nem outras informações aprofundadas sobre esses crimes.>
“As principais comunidades afetadas aqui na Bahia pela poluição, pelo contexto de vulnerabilização ambiental, são as populações quilombolas, indígenas e periféricas, que estão sendo atravessadas por esses contextos e, sobretudo, pelos impactos disso”, explica a pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Ana Paula Rosário. >
Uma pesquisa produzida por Mônica Ramos, professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), por exemplo, demonstra que crianças da Ilha da Maré, na Baía de Todos-os-Santos, apresentavam contaminação em níveis elevados de chumbo, cádmio, metal considerado cancerígeno para o ser humano. A região sofre com os rejeitos do lixo industrial produzido por portos e centros industriais próximos da região.>
Os estudiosos apontam que há uma espécie de “branco” na qualidade dos dados apresentados pelas fontes oficiais, visto que as informações geralmente são registradas por fontes policiais. Outro fator destacado é que diante da variedade de categorias criminais e da impossibilidade de comparação entre as diferentes classificações, os delitos foram agregados em cinco categorias: crimes contra a fauna, crimes contra a flora, crimes de poluição, crimes de exploração mineral e outros. O estudo da Rede englobou os estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, Maranhão e Piauí.>
Os crimes contra a flora foram as principais infrações ambientais registradas na Bahia entre 2022 e 2024. Dentre as principais categorias de crimes ambientais contra a vegetação estão os incêndios: neste período, houve um aumento de 32,76% nos casos, que subiram de 870 para 1155, e somam 3238 nos três anos observados. “Essas ações, que são produzidas no Estado da Bahia, impactam na vida nas periferias, nos quilombos e dos povos indígenas, originários da terra”, relaciona Rosário.>
Para se ter uma ideia, em março de 2025, por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontou que no estado baiano havia 771 focos de incêndio ativos. Na ocasião, um incêndio de grandes proporções atingiu as proximidades do Morro do Pai Inácio, localizado no Parque Nacional da Chapada Diamantina, no município de Palmeiras.>
Já a destruição de florestas, o corte de árvores em regiões consideradas de preservação permanente, o desmatamento de florestas, plantadas ou nativas, em terras de domínio público ou devolutas são outros tipos de infrações contra a flora que se destacam no levantamento. Juntas, as categorias de crimes somaram 885 casos nos últimos três anos.>
No campo dos conflitos socioambientais também houve um aumento nos crimes contra indígenas. O número saltou de 138 em 2022 para 228 em 2024, o que representa um aumento de 65%. As principais infrações registradas são ameaças, lesão corporal dolosa, injúria e difamação. Os dados reunidos pela Rede acendem um alerta no ano em que o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30),>
Responsável pelo estudo, a Rede de Observatórios da Segurança é uma iniciativa que acompanha a violência e as políticas de segurança pública em diferentes estados brasileiros. Ela é composta por instituições acadêmicas e da sociedade civil, e busca produzir dados e análises sobre a criminalidade, com foco nas histórias por trás dos números e na construção de políticas públicas mais eficazes.>