Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carol Neves
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 13:30
Clínicas de alto padrão, um laboratório em área nobre de São Paulo e uma ilha paradisíaca na Baía de Todos-os-Santos formavam, segundo a Polícia Federal, a engrenagem de um esquema de fabricação e comércio clandestino de Tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro. As canetas manipuladas eram usadas no protocolo de emagrecimento do médico influenciador baiano Gabriel Almeida, apontado como suspeito de envolvimento no caso - o que ele nega (veja mais abaixo). >
Como funcionaria a produção irregular da Tirzepatida>
Segundo a PF, o laboratório Unikka Pharma, localizado na Zona Sul de São Paulo, era responsável por manipular e envasar grandes quantidades de Tirzepatida sem controle sanitário adequado. Nas buscas, agentes encontraram milhares de frascos e ampolas sem rastreabilidade, além de anabolizantes, implantes hormonais e outras substâncias preparadas em ambiente considerado inadequado para produção em escala.>
A PF afirma que médicos investigados, incluindo Gabriel Almeida, seriam sócios ocultos do laboratório - algo negado pela defesa.>
A Tirzepatida só pode ser produzida em larga escala por um laboratório autorizado pela Anvisa. Embora farmácias de manipulação possam preparar doses individualizadas para pacientes específicos, peritos afirmam que o que foi encontrado não tem relação com manipulação personalizada. "Você nunca vai esperar chegar em uma farmácia de manipulação e encontrar grandes quantidades em estoque, produtos manipulados sem o nome do paciente, produtos manipulados em escala de milhares", explicou a perita criminal federal Diana Neves ao Fantástico. >
Médico Gabriel Almeida
Onde ocorreram as buscas>
A operação cumpriu 24 mandados de busca e apreensão em clínicas, residências e laboratórios ligados ao médico influenciador e a outros profissionais investigados. A sede da Unikka Pharma foi alvo de varredura, e lá teriam sido apreendidos produtos sem controle e materiais usados para manipulação irregular.>
A ilha usada como centro de treinamento>
As investigações apontam que a Ilha de Carapituba, a cerca de 40 minutos de Salvador, era utilizada como palco de cursos e treinamentos oferecidos por Gabriel Almeida a médicos de várias regiões do país. O local, adquirido em consórcio com outras pessoas, servia para apresentar o chamado “Protocolo de Emagrecimento” e, segundo a PF, expor produtos para posterior revenda a clínicas e laboratórios.>
O delegado Fabrízio Galli resumiu o papel do espaço: "A ilha funcionava não apenas como um centro de estudos, mas também a apresentação dos produtos para que fossem vendidos para clínicas e laboratórios".>
Quem é Gabriel Almeida>
O cirurgião-geral e influenciador ganhou projeção nas redes sociais ao publicar conteúdos sobre emagrecimento e procedimentos médicos. Com quase 750 mil seguidores, costuma aparecer ao lado de celebridades como Neymar, Ronaldo Fenômeno, Léo Santana, Lore Improta, Pablo e Popó. O médico já se envolveu em polêmicas, como a discussão pública com o nutricionista Daniel Cady sobre o uso de Mounjaro e Ozempic.>
Em 2024, durante um leilão comandado por Neymar, Gabriel arrematou por R$ 450 mil uma partida de pôquer com o jogador. Ele mantém clínicas em endereços de alto padrão em São Paulo, Salvador, Petrolina e Feira de Santana.>
O que diz a defesa do médico>
A defesa de Gabriel Almeida afirma que o médico não fabrica, manipula ou rotula qualquer tipo de medicamento e que não possui participação na Unikka Pharma, sendo apenas consumidor dos produtos fornecidos pelo laboratório. Os advogados reforçam que ele não é especialista em endocrinologia, mas possui cursos de pós-graduação reconhecidos pelo MEC. Também afirmam que os encontros realizados na Ilha de Carapituba têm caráter exclusivamente educacional, voltados ao treinamento do protocolo de emagrecimento, sem qualquer relação com a produção das substâncias investigadas.>
O que diz a defesa do médico Gabriel Almeida, alvo de operação da PF
Posicionamento do laboratório>
Em nota, a Unikka Pharma negou envolvimento com a produção irregular apontada pela Polícia Federal. A empresa declarou que “não fabricou ou fabrica, não comercializa e nunca comercializou o que ilusoriamente se intitulou ‘falso Mounjaro’”. Afirmou ainda que atende apenas clínicas e profissionais habilitados, e que jamais realizou vendas diretas ao público geral.>