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Larissa Almeida
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 06:00
“A criminalidade em Salvador está absurda. Estou seriamente pensando em cancelar a minha viagem por medo. Ainda mais sendo mulher”. É assim que uma viajante, que será terá a identidade preservada, inicia um tópico em um fórum de viagens para a Bahia. A preocupação dela não é isolada. Isso porque, de acordo com uma pesquisa realizada pelo DeÔnibus, um site de passagens rodoviárias, 4 em cada 10 viajantes classificam o estado como um dos mais perigosos para pessoas de fora. >
A sensação de insegurança não é injustificada. Segundo o Atlas da Violência, a Bahia se mantém, por nove anos seguidos, na liderança no número de homicídios. Também lidera o número de assassinato de mulheres. O estado ainda ocupa o 5º lugar nos casos de roubos e furtos de celulares e veículos, com base em dados do Anuário de Segurança Pública. >
Diante desse cenário, algumas das maiores preocupações verificadas pela reportagem no TripAdvisor e no Reddit são quanto a assaltos e bairros perigosos. Nesses fóruns, os turistas costumam perguntar onde devem ficar, onde não devem ir, se é seguro andar à noite, quais praias são mais propensos a assaltos e qual conduta devem adotar para não parecerem turistas e, assim, não ficarem tão suscetíveis à violência. >
Um turista do Sudão, que passou mais de um mês em Salvador há dois anos, contou as táticas que utilizou para não ser alvo de assaltos. “Guardei todas as minhas botas Timberland, jeans e camisas estilosas no armário e comecei a sair com uma camiseta do Corinthians, shorts e um crocs preto genérico. Meu equipamento de corrida [era] chamativo, então corria cedo, às 5h da manhã”, relatou. >
Para Horacio Nelson Hastenreiter, coordenador do Mestrado em Gestão da Segurança Pública da Universidade Federal da Bahia (Ufba), essa sensação de insegurança por parte dos turistas é causada, sobretudo, pelo alto número de ocorrências de furtos e roubos. >
“Nessa questão do furto, vejo que há uma questão direta com a ocupação. A Orla de Salvador, por exemplo, é a mais desocupada entre as capitais nordestinas. Territórios mais ocupados são territórios em que há violência reduzida, então é preciso entender esse contexto”, ressalta. >
No que diz respeito ao temor de turistas de serem vítimas de crimes contra a vida, especialmente se adentrarem em uma área ‘proibida’, tendo em vista a guerra entre facções, que delimitam desde gestos até o acesso aos bairros da cidade, o especialista vê o impacto direto da disputa do crime organizado. “Infelizmente, a nossa situação ainda é de um poder muito fraccionado e dividido entre essas facções, que guerreiam e disputam territórios, gerando uma série de homicídios”, pontua. >
Como saída para a atual situação, ele acredita ser necessário federalizar a segurança pública. “Essa situação não é só a nível estadual. Tem que haver algum comando ou governança federal, porque as questões são interdependentes. Mesmo estourando em determinado território, elas têm uma interdependência logística em outros. Eu acho que esse é um problema do país, que é complexo e demanda uma solução mais integrada e articulada”, frisa. >
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) disse que tem feito o reforço do patrulhamento nos pontos turísticos em todo o estado, com intensificação das abordagens nas rodovias e também das ações de inteligência nos principais destinos. >
Na oportunidade, a pasta deu ênfase ao crescimento do número de turistas no estado, nos últimos três anos. “No último verão, após pesquisa da Ouvidoria Geral, mais de 90% dos turistas nacionais e estrangeiros avaliaram como ótimo o serviço prestado pelas Forças Policiais e de Bombeiros da Bahia”, completou. >