Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 05:00
Berço de algumas das praias mais cobiçadas do mundo e detentora de uma vida cultural respeitada internacionalmente, a Bahia tem sido cada vez mais conhecida pela insegurança. Desta vez, um estudo apontou que o estado é o terceiro mais inseguro para viajantes, atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo, segundo informação do DeÔnibus, site de passagens rodoviárias que realizou uma pesquisa com turistas de todo o país. >
A maior preocupação dos viajantes, conforme verificado pelo estudo, foi quanto à possibilidade de sofrer violência. Do total de 500 pessoas que foram entrevistadas, 29% disseram que já tinham sido vítimas de roubo ou furto, enquanto 14% revelaram já ter caído em golpes durante viagens pelo Brasil. Daí o receio de ser vítima de novo ou pela primeira vez, especialmente nos estados já mencionados. >
Estados mais inseguros para turistas
No caso da Bahia, a sensação de insegurança se intensifica diante da escalada da violência. O estado, que é líder há nove anos em número de casos de homicídios no país, segundo dados mais recentes do Atlas da Violência, foi palco da morte de quatro pessoas em menos de uma semana em um cenário paradisíaco. >
Trata-se da Praia dos Milionários, em Ilhéus, no sul da Bahia, onde o jovem João Pedro Mattos dos Santos, de 21 anos, foi morto a tiros enquanto aproveitava o último domingo (17) rodeado por familiares, turistas e demais banhistas. No sábado (16), Alexsandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41 anos, e sua filha Mariana Bastos da Silva, de 20 anos, foram encontradas mortas às margens da mesma praia. >
Há duas semanas, foi a vez do terror afetar um importante ponto turístico da capital, quando as balaustradas da Praia do Farol da Barra, um dos principais cartões-postais de Salvador, foram pichadas com a sigla ‘TCP’. As letras fazem referência ao Terceiro Comando Puro, facção criminosa do Rio de Janeiro que se instalou na cidade distante do centro, especificamente em Mussurunga e Vila Verde, mas já se expandiu, chegando até a Barra. >
Uma vez que as viagens turísticas são tidas como um momento de lazer, a sensação de segurança é uma prioridade para quem viaja. É por isso que, na perspectiva de Horacio Nelson Hastenreiter, coordenador do Mestrado em Gestão da Segurança Pública da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a atratividade de turistas para a Bahia pode ficar comprometida se o cenário da segurança pública não mudar. Ele chama atenção para os roubos e furtos – conhecidos como crime contra o patrimônio. >
“A sensação de segurança é diferente da segurança em si. As estatísticas dizem que os homicídios foram reduzidos entre o ano de 2023 e 2024 – apesar disso, o estado segue no topo dos estados que registraram mais mortes –, mas alguns aspectos podem ser considerados como indicador da insegurança, como o crime contra o patrimônio, que tem tido uma progressiva sensação de perda de segurança”, aponta. >
Horacio cita uma pesquisa recente que revelou que 22% da população brasileira já sofreu furto e, no ato, entrou em contato com o criminoso. “Isso é muito significativo. Aqui na Bahia, temos uma situação mais agravada. Nessa questão do furto, vejo que há uma questão direta com a ocupação. A Orla de Salvador, por exemplo, é a mais desocupada entre as capitais nordestinas. Territórios mais ocupados são territórios em que há violência reduzida, então é preciso entender esse contexto”, reitera. >
Já no que diz respeito ao temor de turistas de serem vítimas de crimes contra a vida, tendo em vista a guerra entre facções, que delimitam desde gestos até entradas em bairros da cidade, o especialista vê o impacto direto da disputa do crime organizado. “Infelizmente, a nossa situação ainda é de um poder muito fraccionado e dividido entre essas facções, que guerreiam e disputam territórios, gerando uma série de homicídios”, pontua. >
Como saída para a atual situação, ele acredita ser necessário federalizar a segurança pública. “Essa situação não é só a nível estadual. Tem que haver algum comando ou governança federal, porque as questões são interdependentes. Mesmo estourando em determinado território, elas têm uma interdependência logística em outros. Eu acho que esse é um problema do país, que é complexo e demanda uma solução mais integrada e articulada”, finaliza. >
Entre os representantes do trade turístico baiano, a preocupação é que a insegurança impacte negativamente a atração de turistas. Leandro Menezes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia (Abrasel-BA), diz que já vê reflexos dessa situação no movimento da capital baiana. >
“A sensação de insegurança acaba afastando os turistas e soteropolitanos das ruas, principalmente em horários noturnos, e isso vai gerando um ciclo vicioso, pois a não ocupação das ruas acaba abrindo espaço para mais violência”, destaca. >
Jorge Pinto, diretor da Associação Brasileira de Agências de Viagens na Bahia (ABAV-BA), diz que o ramo não tem sentido os impactos da falta de segurança pública, porque trabalha de maneira coordenada com os órgãos de segurança voltados para o turismo, o que tem amenizado os impactos e até as abordagens. Ele reconhece, no entanto, a segurança como um desafio nacional. >
“A Bahia é um dos destinos turísticos mais importantes do Brasil e do mundo. Acreditamos no empenho das autoridades e Salvador tem avançado com Batalhões Turísticos nas áreas do Centro histórico e do Rio Vermelho, que completam um grau de segurança razoável”, afirma. >
Já a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) disse, por sua vez, não apontou nenhum impacto da segurança pública na atração do turismo internacional para a Bahia. Ressaltou, inclusive, que o estado cresce acima da média nacional, tendo registrado a chegada de 117.366 turistas internacionais entre janeiro e julho de 2025, um aumento de 63,42% com relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 71.817 chegadas. >
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih-BA) e o Conselho Baiano de Turismo foram procurados para se posicionar sobre o assunto, mas não retornaram. >
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) disse que tem feito o reforço do patrulhamento nos pontos turísticos em todo o estado, com intensificação das abordagens nas rodovias e também das ações de inteligência nos principais destinos. >
Na oportunidade, a pasta deu ênfase ao crescimento do número de turistas no estado, nos últimos três anos. “No último verão, após pesquisa da Ouvidoria Geral, mais de 90% dos turistas nacionais e estrangeiros avaliaram como ótimo o serviço prestado pelas Forças Policiais e de Bombeiros da Bahia”, completou. >