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Publicado em 25 de dezembro de 2025 às 08:25
Internado desde quarta-feira (24), o ex-presidente Jair Bolsonaro será submetido nesta quinta-feira (25) a uma cirurgia eletiva para correção de hérnia inguinal bilateral. O procedimento foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após avaliação médica da Polícia Federal que indicou a necessidade da intervenção para evitar a progressão do problema. >
Embora envolva internação e intervenção cirúrgica, os laudos analisados apontam que o quadro não configura urgência ou emergência médica. A indicação foi feita de forma programada, com base na condição clínica apresentada.>
A hérnia inguinal ocorre quando tecidos do interior do abdômen - na maioria das vezes uma alça do intestino - atravessam uma área fragilizada da parede abdominal, formando um abaulamento na região da virilha. Quando o problema se manifesta dos dois lados, recebe o nome de hérnia inguinal bilateral. Em alguns pacientes, causa dor, inchaço ou desconforto ao fazer esforço, tossir ou permanecer muito tempo em pé; em outros, pode não gerar sintomas relevantes.>
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A parede abdominal é formada por várias camadas - pele, gordura, músculos e uma estrutura resistente chamada aponeurose, que funciona como uma espécie de “armadura” para conter as vísceras. Logo atrás está o peritônio, uma película que permite a movimentação natural do intestino durante atividades simples como respirar, caminhar ou mudar de posição.>
Quando essas camadas são rompidas, seja por cirurgias prévias ou traumas, podem surgir aderências internas. Com o tempo, essas alterações enfraquecem a aponeurose e criam pontos por onde o intestino pode se projetar. Em situações mais avançadas, a alça intestinal pode ficar presa fora da cavidade abdominal - quadro chamado de encarceramento. Na hérnia inguinal, essa projeção ocorre na virilha e, em alguns casos, pode avançar em direção ao escroto.>
O histórico de cirurgias no abdômen pesa nesse tipo de diagnóstico. Manipulações repetidas favorecem fibroses e aderências, tornando a região mais rígida e irregular, o que aumenta o risco de hérnias ao longo do tempo. Essas alterações também podem interferir no funcionamento do sistema digestivo como um todo, já que o trato gastrointestinal funciona como um tubo contínuo, da boca ao ânus.>
A correção cirúrgica da hérnia pode ser feita por duas técnicas principais: videolaparoscopia ou cirurgia aberta. Na videolaparoscopia, o médico utiliza uma câmera para acessar a cavidade abdominal, liberar aderências, reposicionar o intestino e reforçar a parede com uma tela de malha, que estimula a formação de fibrose e evita novas protrusões.>
Já a cirurgia aberta é mais comum em casos considerados complexos ou em pacientes com múltiplas cirurgias anteriores, permitindo a liberação manual das alças intestinais e o reforço direto da musculatura e da aponeurose, com ou sem uso de tela. Quando o abdômen não foi operado anteriormente, ambas as técnicas podem ser usadas.>
O procedimento é considerado simples, com alta rápida e sem maiores riscos. O pós-operatório costuma incluir recomendação de uma semana de repouso mais profundo e cerca de 30 dias sem esforços físicos ou levantamento de peso. >
“Hérnia pode ser comparada a uma porta que se abriu em um ponto enfraquecido da parede abdominal. Parte do intestino passou por essa fresta. A cirurgia devolve esse conteúdo para dentro da cavidade e fecha a ‘porta’ de forma segura”, explicou ao G1 o cirurgião cardiovascular Ricardo Katayose, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.>
Soluços>
Os peritos também avaliaram relatos de soluços persistentes apresentados por Bolsonaro. De acordo com o parecer médico, o bloqueio do nervo frênico é considerado uma medida tecnicamente adequada nesses casos e deve ser realizado o quanto antes. O procedimento, feito com anestesia local e geralmente guiado por ultrassom, reduz temporariamente a atividade do nervo responsável pelo controle do diafragma e é indicado quando os soluços não respondem a tratamentos convencionais.>
Não há, contudo, relação direta entre soluço e hérnia inguinal. No caso do ex-presidente, o quadro pode estar associado a refluxo gastroesofágico ou à presença de hérnia de hiato - condição distinta, em que parte do estômago se desloca para o tórax.>
A hérnia inguinal e hérnia de hiato não têm ligação entre si: apesar de ambas envolverem deslocamento de tecidos, ocorrem em regiões diferentes do corpo e apresentam causas e consequências distintas.>