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Monique Lobo
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 18:08
Os cânceres ginecológicos representam 19% dos diagnósticos de neoplasias em mulheres a cada ano em todo mundo, de acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC). No Brasil, cerca de 30 mil mulheres por ano são diagnosticadas com um câncer ginecológico, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). >
Setembro é o mês que marca a campanha de conscientização sobre a doença. “A proposta da campanha é conscientizar a população feminina sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dos tumores que acometem o sistema reprodutor feminino”, afirma a oncologista Luciana Landeiro, da Oncoclínicas.>
Os cânceres ginecológicos afetam órgãos do sistema reprodutor feminino, como útero, ovários, vulva e vagina. O câncer de colo de útero, ou câncer cervical, é o mais comum entre eles, com previsão de 17 mil novos casos por ano no Brasil e representa o terceiro tipo de tumor que mais afeta as mulheres brasileiras (atrás do câncer de mama e do colorretal), segundo o INCA. >
A Bahia, com estimativa de 1.160 novos casos em 2025, é o estado da região Nordeste com maior número de novos casos da doença. O câncer de endométrio (câncer do corpo do útero) fica em segundo lugar em incidência, dentre os cânceres ginecológicos, com estimativa de 7.840 novos casos em 2025. O de ovário está em terceiro com previsão de 7.310 novos diagnósticos.>
“Ao contrário do câncer de colo de útero, que já pode ter uma suspeita detectada no exame preventivo, não existe um programa de rastreamento especifico para o câncer de ovário e de endométrio e, por isso, é fundamental reforçar a importância do acompanhamento ginecológico de rotina”, esclarece a oncologista Daniela Barros, também da Oncoclínicas.>
“Muitos tumores ginecológicos, especialmente os de ovário e de endométio, são detectados em fases avançadas porque são silenciosos ou apresentam sintomas inespecíficos que, muitas vezes, costumam ser confundidos com condições benignas de saúde”, acrescenta Brito.>
A infecção persistente por determinados tipos de HPV (Papilomavírus humano), principalmente o HPV-16 e o HPV-18, considerados de alto risco oncogênico, é responsável por mais de 90% dos casos de câncer de colo de útero.>
Um levantamento da Fundação Nacional do Câncer revelou que até 37% dos jovens e 17% dos responsáveis desconhecem que a vacina contra HPV previne o câncer do colo do útero. Além disso, 20% acreditam que a vacina pode prejudicar a saúde e 22% que pode incentivar iniciação sexual precoce. Entre 34% e 61% dos entrevistados não conheciam a população-alvo elegível para receber o imunizante.>
Esses dados reforçam a importância da campanha. O oncologista Daniel Brito lembra que a vacina contra HPV, os exames preventivos, os hábitos saudáveis e a atenção aos sinais são os principais aliados na prevenção dos cânceres ginecológicos.>
Os sintomas variam de acordo com o tipo e extensão de tumor. “É importante estar atento aos sinais e sintomas persistentes. Ao notar qualquer alteração, a mulher deve buscar logo seu médico para avaliação”, recomenda a oncologista Camila Chiodi. “É sempre bom lembrar que o diagnóstico precoce aumenta a chance de cura. No caso do câncer de colo de útero, por exemplo, a cura pode chegar a 90% dos casos quando o tumor é detectado e tratado em sua fase inicial”, reforça a especialista.>
Quais são os sintomas? >
- Alteração do fluxo menstrual>
- Corrimento com sangue escuro e/ou forte odor>
- Aumento de gases ou indigestão>
- Dor durante relação sexual>
- Perda de peso sem causa aparente>
- Inchaço abdominal>
- Dor pélvica>
- Sensação de pressão no abdômen ou pelve>
- Fadiga persistente>
Idade avançada, histórico familiar da doença, infecção por HPV, tabagismo, obesidade, menarca precoce (antes dos 12 anos), menopausa após os 52 anos e uso prolongado de contraceptivos orais são alguns dos fatores que podem aumentar o risco para desenvolvimento de um câncer ginecológico. “Não ter tido filhos, multiplicidade de parceiros sexuais e reposição hormonal feita de forma inadequada também são fatores de risco”, destaca a oncologista Julia de Castro de Souza. >
“Adotar um estilo de vida saudável, não fumar, praticar atividade física regular e ter uma alimentação equilibrada são medidas que reduzem o risco do câncer”, afirma a oncologista Hamanda Nery.>
Já Luciana Landeiro destaca que “a pratica regular de atividade física está associada a redução de 13 tipos de câncer, dentre eles o de endométrio, um dos três cânceres ginecológicos de maior incidência no Brasil”.>
A vacina reduz o risco de infecções pelo HPV e doenças associadas, incluindo diversos tipos de câncer como o de colo de útero. Com eficácia superior a 90% e aplicada em dose única, a vacinação quadrivalente contra o HPV está disponível no Sitema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Até dezembro, foi estendida para jovens até os 19 anos, com o objetivo de “resgatar” adolescentes que não se vacinaram. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas 1,5% dos jovens entre 15 e 19 anos de idade já tomaram a vacina.>
Também foram incorporados como grupos prioritários os usuários de PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV) e indivíduos imunossuprimidos (nesses casos o esquema vacinal é de três doses), de 9 a 45 anos, de ambos os sexos. Pessoas vítimas de violência sexual, entre 9 e 45 anos e que ainda não foram vacinadas também fazem parte do grupo prioritário.>
Na rede privada, além da versão quadrivalente, está disponível a vacina nonavalente, que protege contra os subtipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, ampliando a cobertura contra cânceres associados ao HPV. Nesse caso o esquema de vacinação é de duas doses para crianças e adolescentes até 14 anos e três doses a partir dos 15 anos ou para imunossuprimidos.>
“A vacinação contra HPV, o rastreamento e o acesso aos tratamentos fazem parte da estratégia global da OMS para erradicação do câncer de colo de útero até 2030”, finaliza Landeiro.>