Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carol Neves
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 12:45
A tragédia no Cefet do Maracanã, no Rio de Janeiro, ganhou contornos ainda mais devastadores ao revelar a história de vida interrompida de Allane de Souza, pedagoga, doutora em linguística, sambista em ascensão e mãe dedicada. Ela e a psicóloga escolar Layse Costa Pinheiro foram mortas por um colega dentro da instituição na tarde de sexta-feira (28). Depois dos disparos, o autor do ataque tirou a própria vida. A Delegacia de Homicídios investiga o caso, e o Cefet decretou cinco dias de luto oficial. >
Relatos de funcionários indicam que o servidor João Antônio Miranda Tello Ramos Gonçalves passou a manhã cumprimentando colegas normalmente. Horas depois, entrou na diretoria e atirou contra as duas mulheres, que atuavam na Diretoria de Ensino.>
O crime derrubou de forma brutal uma trajetória marcada pela persistência. Servidora concursada, Allane iniciou a carreira no apoio estudantil, assumiu a coordenação e buscava se qualificar para chegar à docência universitária. Com doutorado em linguística, que incluiu um período de estudos na Dinamarca, ela ainda concluía uma graduação em Letras para poder disputar concursos.>
“Ela tinha objetivos e não queria nada imediato. Ia trabalhando passo a passo para chegar onde queria”, lembra o amigo de quase 20 anos, Fabiano Magdaleno, professor de geografia do Cefet, que falou a O Globo. “O sonho dela era ser professora universitária. Mesmo depois do doutorado, cursava Letras porque queria fazer tudo do jeito certo.”>
Atirador matou duas mulheres e se matou no Cefet
No samba, Allane também conquistava espaço com disciplina e talento. Cantora, compositora e instrumentista, era presença frequente em rodas tradicionais e vinha sendo chamada para participações em diversas casas do Rio.>
“Ela estava crescendo muito na música”, diz Fabiano. “Queria mostrar que mulher não é só para cantar: tocava pandeiro, aprendia cavaquinho, estudava violão. Estava sempre se aprimorando.”>
Medo do assassino>
Esse percurso, porém, era vivido nos últimos meses sob o peso do medo. Segundo o amigo, a pedagoga temia o comportamento do servidor que a matou. Ela já relatava perseguições e evitava dividir com ele o mesmo espaço de trabalho. “Ela tinha muito medo dele. Muito”, afirma. “Ela dizia que não iria mais trabalhar na mesma sala que ele. Quando colocaram ele de volta, ela pediu imediatamente para não ficar ali. Por isso passou meses em home office.”>
Fabiano relata que o servidor colecionava conflitos internos, já havia sido afastado por questões psicológicas e mantinha um padrão de hostilidade, principalmente contra mulheres. “Quando o embate era com um homem, ele abaixava. Com mulheres, não.”>
João Antônio chegou a ficar 60 dias afastado por problemas de saúde mental. >