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Larissa Almeida
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 07:00
A biometria facial, tida como uma das formas mais seguras de autenticação, não é infalível. Isso porque, segundo a Serasa Experian, a biometria e a documentoscopia conseguiram barrar apenas 41,9% das tentativas de fraude registradas no país no primeiro semestre deste ano, consolidando-se não como o primeiro, mas sim como o segundo método mais eficaz contra ocorrências do tipo. >
Segundo a profissional de RH Ana Valéria Nascimento, 33 anos, a biometria não foi eficaz o suficiente para impedir a fraude dos principais documentos que tinha, tampouco para impedir a criação de contas falsas em seu nome. >
“Fraudaram minha identidade, alteraram meus dados do sistema Gov e do aplicativo da Caixa. Com isso, abriram uma conta da Caixa em meu nome, em Conceição do Jacuipe, cadastraram biometria e foto no sistema. No mesmo dia, contrataram um empréstimo consignado de R$ 20 mil, que descontaria em minha folha”, relata. >
“Além disso, pediram antecipação do FGTS com saque-aniversário, contratam empréstimo em outro banco, dando como garantia meu saldo de FGTS. Também abriram conta no banco Inter e fizeram um cartão que já tem uma dívida em meu nome. Agora, estou dando andamento ao processo, já abri boletim de ocorrência e fiz denúncia junto ao Banco Central”, completa. >
O caso de Ana Valéria não é isolado. Não à toa, a biometria perde para a verificação de inconsistências cadastrais (50,6%) como principal barreira de segurança contra fraudes. Na perspectiva de especialistas, o que explica a falta de eficácia total do método são os golpes especializados em burlá-la. >
“Os criminosos estão se tornando cada dia mais ousados em sua operacionalização. Muito se tem relatado, principalmente em idosos, que as ligações estão sendo feitas por vídeo conferência a fim de captar a biometria, por exemplo, e utilizando a selfie captam a voz e o rosto. Além disso, usam técnicas como deepfakes, réplicas físicas (spoofing) e engenharia social para burlar sistemas”, relata Tamiride Monteiro, advogada especialista em Direito Digital e Cibercrime. >
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Um fator que contribui para esse cenário, segundo a especialista, é a falta de especificação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o que gera uma falta de unificação de coleta biométrica. Além disso, ela enxerga uma fragilidade do sistema a permissão de manipulação humana a dados tão sensíveis, que se deve à falta de combinação de autenticações. >
Walter Capanema, advogado especialista em Direito Digital, aponta que a verificação de inconsistências cadastrais acaba sendo mais eficaz porque detecta a fraude antes que ela aconteça. “Dados falsos, duplicados ou incompatíveis com cadastros oficiais são sinais de alerta eficazes. Isso pode, sim, levar a um maior investimento das plataformas em sistemas de validação mais rígidos, mas não necessariamente em burocráticos”, analisa. >
Para aumentar a eficácia da biometria, Tamiride acredita ser necessário uma especificação unificada, que implemente outros fatores de autenticação, chamado de multimodal, como reconhecimento de voz e digital, como alguns bancos já estão fazendo. >
“Outro meio que alguns bancos estão adotando é bloquear o aplicativo ao detectar movimentação suspeita ou perguntar se deseja continuar a operação bancária quando se está em outra ligação. O uso de tokens também pode ser uma opção para operacionalização, a fim de inibir golpes e dar resposta rápida a incidentes em caso de vazamento de dados. Por fim, mais uma saída é educar os consumidores e integrar biometria com outras camadas de segurança por segurança”, finaliza. >