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Carol Neves
Publicado em 14 de julho de 2025 às 09:46
A analista financeira Tarsila Jallageas, de 33 anos, moradora de São Bernardo do Campo (SP), ganhou grande repercussão nas redes sociais ao postar um vídeo desabafando sobre o cotidiano com seu filho Gabriel, de 4 anos, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), nível 2 de suporte. O registro, publicado após um episódio de desregulação emocional do menino durante uma festa de família, alcançou 7 milhões de visualizações em apenas quatro dias. >
No vídeo, com pouco mais de dois minutos, Tarsila aparece visivelmente abalada e diz que ama o filho, mas "odeia o autismo". A fala dividiu opiniões, gerou polêmica e levou a mãe a explicar o contexto da gravação em entrevista ao portal iG.>
Segundo ela, o episódio não foi motivado por algo fora do comum. Era um encontro familiar para celebrar a chegada de uma prima que vive no Canadá. Gabriel chegou bem, permaneceu calmo por um tempo, mas se recusou a entrar na área onde estavam os convidados. Tarsila acabou ficando sozinha com ele do lado de fora.>
“Tentei entrar algumas vezes para comer algo, mas ele vinha atrás chorando, jogando tudo o que via pela frente. Ele, nervoso, joga copos, bolsas, cadeiras. Acabei ficando em estado de alerta o tempo inteiro, longe de todos”, contou.>
Antes de ir embora, ela tentou tirar uma foto com a prima, mas Gabriel se jogou no chão e agrediu alguns familiares. “Eu me retirei. Mas antes olhei em volta e vi todo mundo sentado, conversando tranquilamente. Me bateu uma tristeza. Eu só queria poder ser como eles. Que meu filho pudesse brincar e eu pudesse me sentar, tranquilamente. Mas sei que ser mãe de uma criança autista é estar em estado de alerta constante”, desabafou.>
No carro, a caminho de casa, gravou o vídeo que rapidamente viralizou.>
Tarsila é mãe de três: além de Gabriel, tem Clara, de 9 anos, e Giovanna, de 7. Ela acredita que a experiência com a maternidade típica antes do nascimento de Gabriel a ajudou a perceber mais cedo os sinais de que algo estava diferente no desenvolvimento do filho. “Isso me deu um olhar mais atento e sensível às diferenças no desenvolvimento dele, o que ajudou muito a buscar um diagnóstico precoce”, disse. Ela explica que se tem uma rede de apoio que ajuda muito e um convênio médico que cobre as terapias de Gabriel.>
Para Tarsila, o que mais a incomoda é a romantização do autismo nas redes sociais. “No vídeo, eu apenas mostrei minha realidade com o autismo que nós vivemos aqui em casa. Não falei de falta de rede de apoio, nem de falta de empatia. Falei sobre um autismo que é difícil, diferente do que aparece nas redes sociais, onde muitas vezes há uma romantização e desinformação. E é isso que me irrita”, afirmou.>
Ela acredita que a imagem popular de autistas como pessoas extremamente inteligentes ou comportadas contribui para a falta de compreensão sobre a complexidade do espectro. “Por isso, vemos tantas pessoas hoje se 'identificando' como meio autistas, como se fosse apenas um jeito diferente de ser”, completou.>