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Yan Inácio
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 20:40
Uma reportagem do CORREIO sobre o crescimento da migração de baianos para Santa Catarina publicada no último sábado (23) recebeu uma onda de comentários xenofóbicos no YouTube e nas redes sociais. Diversos internautas publicaram mensagens de ódio contra pessoas que se mudaram para o estado no sul do país em busca de melhores oportunidades. >
De acordo com a reportagem, o número de migrantes da Bahia para o Santa Catarina cresceu 276% na década, impulsionado pela busca por melhores salários e novas oportunidades de emprego. Entre 2010 e 2024, a quantidade de baianos vivendo em Santa Catarina passou de 15 mil para 58 mil. Nesse período, a Bahia registrou a maior perda populacional por migração do país. Mais de 3 milhões de baianos vivem fora do estado. >
“Vão enfeiurar o estado mais bonito do Brasil”, disse um dos comentários no YouTube. “Coitado do povo de SC. O que vai ter de vizinho barulhento, sujeira na praia, arrocha no volume no talo, sujeira, boteco clandestino, camelô…”, escreveu outro no site de vídeos. “Coitados dos catarinenses.. São Paulo passou por isso e não foi nada bom”, comentou uma pessoa no Instagram>
Para o cientista social George Hora, mestre em Estudos Étnicos e Africanos na Universidade Federal da Bahia (Ufba), esses tipos de comentários nascem de uma sensação de impunidade gerada pelo distanciamento das redes sociais. “Esses indivíduos acreditam ser um direito deles estar atrás de uma tela de um smartphone destilando discurso de ódio e que estão fora do alcance da lei, que não serão punidos pelo que dizem ou pelo que publicam”, explica. >
A xenofobia é equiparada ao crime de racismo no Brasil e pode gerar pena de um a três anos de reclusão e multa, que pode ser aumentada caso o crime de discriminação ou preconceito com base em região, estado ou país, seja cometido por meios de comunicação, como redes sociais ou publicações na internet. >
“É como se nós, nordestinos e os nortistas, quando migramos, estivéssemos exclusivamente buscando usufruir das benesses que supostamente eles têm oferecido. O que não é colocado na conta é que esse povo está indo para lá para trabalhar, produzir riqueza e às vezes se submeter a uma série de coisas que são bastante complicadas”, complementa George.>
Um dos trechos da reportagem mostra como os baianos que conversaram com o CORREIO lidaram com falas preconceituosas e xenofóbicas após se mudarem para o sul. A Defensoria Pública de Santa Catarina informou não ter dados públicos sobre casos de xenofobia contra nordestinos no estado.>
Na reportagem, Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, relembra que os principais fatores que influenciam a migração estão ligados à busca por melhores condições de moradia, custo de vida mais baixo, mais arborização, mobilidade urbana e segurança pública que contribuem para uma melhor qualidade de vida.>