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Millena Marques
Agência Brasil
Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 12:45
O padre Júlio Lancellotti rezou neste domingo (21) a primeira missa dominical após ser proibido pelo cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, de transmitir o rito na internet. Durante a celebração, o sacerdote disse que as ações da Pastoral de Rua, que atende a pessoas em situação de rua, estão sendo vítimas de conspiração. >
“Eu não sei o que é que vai acontecer nas próximas semanas, porque, assim como nós nos juntamos para dizer que somos irmãos, muitos se juntam também para conspirar contra. Assim como nós nos juntamos para rezarmos juntos, outros se juntam para conspirar, para fazer formas de destilar o seu ódio”, disse o padre ao final da missa, após listar uma série de atividades desenvolvidas pela pastoral.>
Lancellotti, que é conhecido pelo trabalho voltado à população em situação de rua na capital paulista, lembrou das ações sociais desenvolvidas no Centro Santa Dulce, na Casa Santa Virgínia, e na Casa Nossa Senhora das Mercês. “Quem quer saber o que é feito é só visitar os trabalhos. É só ir para uma das casas”, disse. >
“O pão que é feito na padaria, que é mantido pela doação de todos ─ e se faz, ali, 2 mil pães, que são divididos em muitos lugares e aqui também ─, nada disso é custeado pelo poder público e por nenhuma outra instância. É a boa vontade de todos”, acrescentou.>
Padre Júlio Lancellotti
Lancelotti informou na última terça-feira (16) que estão suspensas, de forma temporária, as transmissões ao vivo de suas missas e a movimentação de suas redes sociais. A decisão foi determinada pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, e, segundo o religioso, não implica mudança imediata de paróquia.>
Em nota divulgada após a repercussão do caso, Lancelotti afirmou: “Conforme informado no último domingo (14), as transmissões estão temporariamente suspensas, porém as missas dominicais continuam sendo celebradas normalmente às 10h, na Capela da Universidade São Judas - Mooca”. No mesmo comunicado, acrescentou: “As redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário” e negou boatos sobre afastamento do cargo: “Não procede a informação sobre a transferência da Paróquia São Miguel Arcanjo”. Ao final, reforçou: “Reafirmo minha pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo”.>
A suspensão das transmissões foi anunciada pelo próprio padre durante uma missa neste final de semana, quando comunicou aos fiéis que não haveria mais exibição ao vivo das celebrações. O aviso, feito em uma das transmissões, rapidamente se espalhou e gerou forte reação em grupos de padres e religiosos que se comunicam por WhatsApp. >
Até então, as celebrações eram exibidas pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), mantida por sindicatos, além do portal ICL e do YouTube. Procurado, Lancelotti confirmou à coluna de Mônica Bergamo que a orientação partiu de dom Odilo e explicou o teor do pedido. “Dom Odilo me pediu para dar um tempo. Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção”, disse. Questionado se concordava com a decisão, respondeu: “Tenho apenas que obedecer”.>
Lancelotti completará 77 anos no dia 27 e lembrou que, pelas regras internas, padres a partir dos 75 anos podem ser removidos das localidades onde atuam para se aposentar. Ele pondera, no entanto, que há exceções. “Há padres que permanecem em suas funções por muito mais tempo, alguns depois de completar ‘80, 90 anos’. Depende da necessidade da igreja”, explicou.>
O padre é alvo frequente de críticas de parlamentares e políticos de direita, especialmente de integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL). Na investida mais recente, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) publicou um vídeo no Instagram afirmando que levou à Embaixada do Vaticano um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas pedindo o afastamento de Lancelotti de suas atividades religiosas.>