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Carol Neves
Publicado em 7 de novembro de 2025 às 14:39
Centenas de usuários têm lotado o Reclame Aqui com queixas contra serviços de streaming pirata que saíram do ar nas últimas semanas. As reclamações envolvem plataformas como Eppi TV (também chamada de Eppi Cinema) e My Family Cinema, que foram derrubadas após uma operação policial internacional que teve origem na Argentina.>
As reclamações chamam atenção porque se tratam de serviços ilegais, então ameaças repetidas de procurar o Procon não fazem sentido. As queixas também se repetem: pagamentos de planos mensais, trimestrais e anuais, e a súbita impossibilidade de acessar os conteúdos.>
“Quero meu dinheiro de volta! Fiz pagamento para a EPPI Cinema plano trimestral e usei apenas 1 mês. A empresa encerrou e eu não consigo receber meu dinheiro de volta. EBUDY COMMON BODY nome que consta no pagamento anexo. R$ 54,84”, escreveu uma usuária indignada.>
Usuários reclamam de interrupção de serviço pirata
Outro consumidor relatou ter pago dois planos - um de seis meses e outro de um ano - e pediu resposta da plataforma: “O aplicativo foi extinto da plataforma e não foi enviado nenhuma opção ou outro aplicativo em substituição ao EPPI Cinema. Tenho muitos meses até vencer essas assinaturas. Gostaria de um retorno do EPPI a respeito desse assunto, afinal paguei e não foi pouco pra poder ver meus filmes e séries.”>
Uma reclamação relatava que o plano anual foi assinado em julho desse ano e reclamava da falta de aviso sobre a suspensão do serviço. "Agora está fora do ar sem sequer ter um aviso prévio, quero o reembolso do valor pago, já que não estamos mais usufruindo do plano".>
Até o momento, nenhuma dessas reclamações foi respondida. Em situações anteriores, representantes do serviço chegaram a interagir no site, que reúne queixas de consumidores, mas desde o bloqueio completo não há retorno.>
Operação internacional derrubou rede bilionária>
A queda das plataformas começou em 28 de agosto, quando a Justiça da Argentina, com apoio da Alianza Contra la Piratería Audiovisual (Alianza), grupo que reúne grandes estúdios e produtoras, deflagrou uma operação para desmantelar uma rede global de streaming ilegal.>
As autoridades cumpriram mandados em quatro sedes de empresas controladoras e descobriram uma estrutura que movimentava entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões por ano (equivalente a até R$ 1 bilhão), oferecendo acesso pirata a filmes e séries.>
O Brasil era o principal mercado: 74% dos 6,2 milhões de assinantes pagantes estavam no país, segundo as investigações.>
Estrutura multinacional: base argentina, tecnologia chinesa>
A investigação revelou uma operação de nível corporativo. A Argentina concentrava marketing, vendas e atendimento ao cliente — a “vitrine” da rede. Já a China abrigava os setores de TI, finanças e administração, mantendo a operação ativa em diversos países da América Latina.>
A escolha argentina se deu pelo custo operacional mais baixo e pelo acesso a mão de obra técnica qualificada, funcionando como ponte entre a estrutura asiática e os consumidores latino-americanos.>
Estratégia de fuga: um nome cai, outro surge>
Eppi TV, My Family Cinema, Duna TV e Boto TV não competiam entre si - eram variações de uma mesma operação. O grupo alternava nomes e marcas para escapar de processos judiciais e bloqueios, numa prática conhecida no meio da pirataria digital.>
No total, 28 plataformas diferentes foram identificadas, entre elas TV Express, Vela Cinema, Cinefly, Vexel Cinema, Humo Cinema, Yoom Cinema, Bex TV, Jovi TV, Lumo TV, Nava TV, Samba TV e Ritmo TV, além de outras dezenas com nomes semelhantes.>
O Eppi TV, frequentemente instalado em TV Boxes não homologadas pela Anatel, também é popular entre usuários do Fire TV, que recorrem a aplicativos alternativos para assistir conteúdo pirata. Com a nova política da Amazon, que promete coibir esse tipo de uso, o acesso a esses apps tende a se tornar ainda mais restrito.>