O QUE PENSA O CORREIO

Lula não consegue unir o Brasil

As incontinências verbais do presidente da República corroboram para a não pacificação

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  • Editorial

Publicado em 8 de março de 2024 às 05:00

Logo após ser eleito para o terceiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de dizer em alto e bom som: “O papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência. Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio”. Era a promessa clara do petista de deixar o palanque eleitoral e pacificar o País.

Mais de um ano depois, o que os números das pesquisas de opinião mostram é que o compromisso de Lula de união da nação não foi cumprido até agora, e o Brasil permanece tão dividido quanto no período eleitoral - quando ele teve 50,9% dos votos válidos e o adversário político Jair Bolsonaro, 49,1%.

As incontinências verbais do presidente da República corroboram para a não pacificação. Levantamento do instituto Quaest, divulgado nesta semana, mostra que 51% dos entrevistados aprovam o governo petista, e 46% o desaprovam. Essa divisão reflete-se ainda mais entre os evangélicos, onde 62% desaprovam suas ações, o que expõe uma desconexão significativa da gestão do PT com essa parcela considerável da população.

As comparações controversas de Lula entre a ação de Israel em Gaza e o Holocausto geraram descontentamento especialmente entre os evangélicos, que representam 42 milhões dos brasileiros. Mais de 60% da população do País acredita que o chefe do Palácio do Planalto exagerou em suas declarações, o que revela uma falta de sensibilidade para com as feridas históricas e uma desconexão com a opinião pública.

Não se trata apenas de declarações polêmicas, mas também de posicionamentos políticos que afastam partes significativas da população. A persistência em apoiar o regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela, bem como sua declaração anterior sobre a relatividade da democracia, mostra um distanciamento da vontade democrática de grande parte da população brasileira. Tais posicionamentos não contribuem para a construção de pontes, mas sim para aprofundar divisões ideológicas.

Enquanto isso, a economia brasileira segue cambaleando, apesar das tentativas do governo federal de retratá-la de forma otimista. A sensação de uma parte significativa dos brasileiros é de que a situação econômica piorou nos últimos 12 meses, conforme indicado pela pesquisa recente da Quaest.

A promessa de unir o País feita por Lula parece cada vez mais distante da realidade. As palavras e as ações exacerbam as fragmentações sociais e políticas e criam um ambiente de hostilidade e polarização.

Se o presidente da República permanecer nesse trajeto, é improvável que o Brasil alcance qualquer forma de unidade nacional. Estaremos fadados a permanecer em uma sociedade profundamente dividida e polarizada, incapaz de superar suas diferenças. É necessário que a principal liderança da nação busque verdadeiramente a reconciliação, em vez de alimentar conflitos.