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Ameaça ao Pix finalmente une brasileiros e agora estamos todos do mesmo lado

Depois de muita polarização, no Brasil das brigas intermináveis, encontramos um assunto para chamar de “unanimidade”

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 23 de julho de 2025 às 06:00

O Pix é nosso e ninguém tasca
O Pix é nosso e ninguém tasca Crédito: Shutterstock

De uns tempos pra cá, nossos ânimos se exaltaram tanto que ficou difícil conversar. Seja sobre política, futebol, religião, vacina, churrasco com ou sem maionese... qualquer coisa vira treta grave. Ofensas, agressões, clima tenso. Tá puxado. Mas aí você fala do Pix e acontece um milagre. A favor dele, petistas, bolsonaristas, centrões, anarquistas, liberais, fofoqueiros - e até coachs de “masculinidade” - se abraçam emocionados. Ou seja, o Pix conseguiu a impensável proeza de, no Brasil de hoje, ser incancelável. É praticamente um amor coletivo, espalhado de norte a sul. Do concreto do centro de São Paulo aos coqueiros de Itapuã, basta ameaçarem o Pix e os brasileiros estão todos do mesmo lado. E “vamos precisar de todo mundo”, saiba. Porque ele está correndo risco de verdade.

Não sei se você já sabe, mas Donald Trump resolveu abrir uma investigação contra o Brasil, dizendo lá ele que o Pix “prejudica a competitividade das empresas americanas”. O que vem daí, podemos imaginar. Ele quer dizer que você aí - ao pagar a unha em gel, imediatamente e sem taxas, para a nail designer - pode estar ameaçando a Visa ou a Mastercard. Ah, tá. Pode até ser, mas de minha conta é apenas a parte de que o Brasil - no meio de tanta confusão - inventou algo que funciona muitíssimo bem, e isso não pode ser ignorado. Ou seja, enquanto Trump tenta puxar a brasa para a sardinha dele, o Pix segue por aqui, firme e forte, sem precisar de embaixador, propaganda ou carreata.

O Pix fala por si porque é muito mais do que uma ferramenta de pagamento: ele se encaixou em nossa linguagem. É, por exemplo, afeto e brodagem imediatos, cabendo em todos os orçamentos, sem preconceito de classe. É salvação na transferência de R$ 5 da coxinha da esquina, e dengo máximo nos R$ 10 que a avó manda pra neta pagar a rifa do perfume. É também objetividade no acerto de contas entre amigos bêbados às 4 da manhã, quando ninguém sabe quanto deve, mas todo mundo tem que pagar. É transgressão na hora do programa discreto e praticidade no pagamento brigadeiro gourmet via QR Code colado com durex na geladeira do condomínio. Também serve pra pagar aluguel, flor e ajudar a moça na porta do mercado. Se o real é a nossa moeda, o Pix é a nossa alma digital.

(E agora também pode parcelar, olha que charme!)

o Pix caiu no gosto popular por Bruno Peres/Agência Brasil

O Brasil conseguiu criar o sistema financeiro mais ágil e democrático do planeta, esse é o fato e o susto global. Em questão de segundos, um dinheiro atravessa o país sem taxas, sem burocracia, sem aquela enrolação de dia útil ou horário bancário. Inclusive, se for errado, volta também de graça - só dependendo da honestidade do destinatário. Daí que o povo entendeu a genialidade e o Pix virou objeto de orgulho nacional. É tão simples que até o tio do churrasco - que só entende de política do zap e compartilha fake news em CAPS LOCK - manda R$ 20 pro neto comprar skin de joguinho com um sorriso de satisfação, só pra dizer “já tá aí, pode comprar”. A simplicidade do Pix abraçou até quem tem dificuldade com tecnologia. Quer dizer, Pix também é inclusão e modernidade.

Não é exagero dizer que o Pix é a única política pública com aprovação espontânea na casa dos 100%. Basta perguntar. Ele é mais confiável que promessa de namorado, mais rápido que notícia falsa e mais eficiente do que e-mail que substitui reunião chata. O Pix não tem ideologia, partido, religião, classe social, idade ou cor. O Pix é de todos e já nasceu democrático. Tem Pix de vereador pra pipoqueiro, de sugar daddy pra universitária, de ovelha pra pastor e - quem nunca? - até aquele Pix simbólico de R$ 0,01 que é só mesmo pra puxar papo. Pix funciona até pra investigar pretendente: bota a chave, pega o nome completo e faz a busca na internet antes de encontrar. Elementar...

O Pix tem um jeito de pacto civilizatório. O Brasil que não se entende mais, que troca ofensas em redes sociais, que discute por qualquer bobagem, finalmente concorda - em gênero, número e grau. O Pix conseguiu o que nenhuma reforma, nenhuma emenda constitucional, nenhum projeto de lei consegue há bastante tempo: unir o país em torno de algo simples, direto, transparente e revolucionário. Então, anote aí: temos muitos desafios e ainda vamos brigar, provavelmente bem mais do que o necessário. Mas em qualquer mesa, qualquer roda, qualquer encontro de família e qualquer churrasco, se quiser unir todo mundo, basta começar a conversa dizendo “o Pix é nosso e ninguém tasca”. Você conseguiu. Agora, é só olhar ao redor e respirar a mais profunda paz.

Siga no Instagram: @flaviaazevedoalmeida