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Caso do advogado agressor mostra como funciona a relação entre a “mulher troféu” e o “homem provedor”

Modelo é atualmente vendido como “excelente negócio” para mulheres que, por acreditarem nessa propaganda, escolhem viver em dependência financeira

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 17 de abril de 2025 às 13:37

Pegadinha da do
Pegadinha da do "homem provedor" Crédito: Reprodução

Lendo as mais recentes notícias, achei interessante constatar que - no caso do advogado baiano preso por violência contra a “namorida” (ele a chamava assim) - parece que temos um casal formado por dois antigos personagens que voltaram a hypar nos últimos tempos: a “mulher troféu” e o “homem provedor”. De um lado, ela com idade abaixo dos 30 (25 anos), nenhuma projeção profissional, baixo poder aquisitivo e vida restrita ao ambiente doméstico. Do outro lado, um homem mais velho (47 anos), rico, de intensa vida social e que “sustenta” a mulher “jovem e bonita”. Em depoimento, a moça disse que, durante toda a relação, viveu “tortura psicológica”. Elementar, caro leitor. Homens podem ser violentos em diversas configurações de casais, mas esse modelo é perfeito para vocacionados agressores. Explico.

Quem paga manda. Gostando ou não, vivemos sob essa lei. É assim que funciona nas relações internacionais, no mundo dos negócios e, evidentemente, nas relações familiares. Ou qual é o tamanho da constrangedora inocência de quem julga livre uma pessoa que é sustentada por outra? Não à toa, “quem come do meu pirão prova do meu cinturão” é uma frase popular brasileira que significa isso mesmo que tá escrito com todas as letrinhas: o estabelecimento de uma hierarquia entre quem banca e quem é bancado. A questão é só como a pessoa mais poderosa da relação vai dispor desse poder. Isso quer dizer que nem toda mulher sustentada por homem será vítima de violência, claro. Mas também é óbvio que as que estão nesse lugar sempre serão mais vulneráveis do que aquelas que têm o próprio “pirão” pra comer.

Sim, há muitas questões que podem prender algumas mulheres a relacionamentos violentos. Medo (inclusive de morrer!), preocupação com o futuro de filhos e a tal “dependência emocional” são apenas algumas delas. Também é evidente que vários motivos podem nos colocar - homens e mulheres - em situação de fragilidade financeira e, nesses momentos, é saudável poder contar com o apoio das pessoas com as quais nos relacionamos. Dito isso, o papo aqui não é sobre outras vulnerabilidades, muito menos sobre os percalços da vida pelos quais todo mundo passa. Meu ponto é o modelo atualmente vendido como “excelente negócio” para mulheres que, por acreditarem nessa propaganda, ESCOLHEM viver em dependência financeira do tal “homem provedor”. Cada vez que leio ou escuto “eu quero ser mulher troféu”, penso: tadinha de você.

Veja, eu não sei se ela comprou o peixe da “mulher troféu” ou caiu nessa rede sem querer. Fato é que, de acordo com o que sai na imprensa, a “namorida” do “Dr. João Neto” era dependente financeira dele e disse que vivia uma relação de violência constante, há dois anos. De acordo com a CNN, dados preliminares do exame do IML apontam corte no queixo, além de escoriações e hematomas que, segundo ela, foram de agressões anteriores. A mulher também relata ter vivido sob “tortura psicológica”, com xingamentos e palavras de depreciação dele contra ela. No depoimento, ainda de acordo a CNN, ela disse que o “doutor” constantemente a cobrava por “sustentá-la”. Sinceramente, não consigo imaginar um inferno pior. Muito menos achar que se colocar, voluntariamente, nessa posição humilhante seja uma boa escolha de vida, como os “homens tradicionais” dizem ser.

“Oxe, meu alecrim é douradíssimo!”, você pode estar pensando sobre o homem que lhe sustenta, se for o caso. Ou pode, tomada por uma fé inabalável, decidir jejuar por 40 dias com o objetivo de encontrar um bom macho que lhe banque sem cobrar nada em troca. Tudo bem, cada pessoa vive do próprio jeito. A mim, cabe apenas - diante das histórias que ficamos sabendo todos os dias - lhe dizer mais duas coisinhas. A primeira é que “não existe almoço grátis”, ou seja, se você se sente confortável sendo bancada é porque, por ora, o “preço” disso cabe no seu “orçamento” emocional. O que pode durar por toda a vida, claro. Ou mudar amanhã bastando que, para isso, ele se apaixone por outra “mais jovem e mais bonita”. Comum, comuníssimo.

A segunda coisa que preciso dizer é que o ÚNICO PODER legítimo que temos em QUALQUER relação romântica é o de ir embora quando as coisas saem dos trilhos. Veja que saber que o outro tem condições, de fato, sair da relação é um elemento de equilíbrio imprescindível. Para garantir esse lugar de sujeito (e não objeto) na interação, para manter o poder sobre nós mesmas, é preciso que tenhamos nossas próprias vidas. Isso inclui círculo de amizades, interesses individuais, manutenção de prazeres pessoais, independentemente da presença do parceiro. Também é preciso construir uma profissão, em qualquer área que seja. Precisamos ter nosso dinheiro. Mesmo que seja menos, mesmo que seja pouco. Mesmo que seja só um trocado. Pra dar garantia.