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Donaldson Gomes
Publicado em 30 de julho de 2025 às 15:25
Após um intenso movimento das principais montadoras de veículos que produzem no Brasil, o governo federal optou por uma solução intermediária em relação aos pleitos da BYD sobre o imposto de importação das peças que ela pretende importar para fazer a montagem dos veículos em Camaçari. Nesta quarta-feira (dia 30), a Câmara de Comércio Exterior, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) concedeu à montadora chinesa seis meses de incentivos, com cotas, de acordo com informações de bastidores. O pedido era de um período de três anos. >
A ata com os detalhes da decisão deve ser divulgada em breve, mas a avaliação de participantes foi a de que o governo tentou encontrar uma “solução salomônica” para a questão que parecia caminhar para uma guerra aberta entre os dois lados interessados. >
Os quatro principais grupos automotivos do Brasil divulgaram uma carta nesta quarta-feira (dia 30) ameaçando rever os planos de investimentos de R$ 180 bilhões no Brasil nos próximos anos, se o governo concedesse incentivos para que montadoras importem partes dos veículos e façam apenas a montagem aqui no país. Em resposta, a BYD chamou os autores da carta de “dinossauros” e insinuou que o grupo estaria desesperado por estar perdendo a concorrência com ela pelo mercado nacional. >
Na última terça-feira (dia 29), a Anfavea, entidade que representa as montadoras em operação no Brasil, já vinha indicando que não aceitará passivamente que o governo estimule empresas operarem no regime de SKD, quando as partes dos automóveis já chegam prontas e são apenas juntadas no mercado final. “O Brasil não pode trocar a industrialização pela ilusão da montagem”, destacou Igor Calvet, presidente-executivo da Anfavea em sua conta no Linkedin, na última terça-feira.>
Igor Velvet divulgou um vídeo no final da tarde desta quarta-feira (dia 30) em que avaliou que o governo federal foi coerente com a sua política indústrial. >
"O prazo de seis meses para a redução das tarifas na exportações de kits de montagem em SKD e CKD, com uma cota de valor estabelecido é o o máximo aceitável, sem colocar em riscos os investimentos atuais e futuros da cadeia automotiva nacional", afirmou. >
Para ele, a expectativa é que não haja renovação da medida. "Que novos atores, entrantes no mercado, possam ingressar aqui no Brasil de forma justa e competitiva. Todos serão muito bem recebidos, inclusive no âmbito da entidade que congrega todos os fabricantes nacionais", pontuou. >
Outra entidade do setor a se manifestar contra os incentivos para a BYD foi o Sindipeças, que enviou uma carta ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), segundo informações do jornal Valor. “Mesmo com intenso e espantoso ingresso de veículos de passeio acabados, importados, com alíquotas de 12% e 18%, verifica-se que, não satisfeita, a BYD insiste com pleito de expressiva redução da alíquota do Imposto”, destaca a carta.>
Na carta endereçada a Lula, os quatro grupos automotivos destacam a presença de 26 fabricantes de veículos no país e 508 produtores de autopeças, formando uma cadeia responsável por 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Ainda segundo o documento, a cadeia produtiva responde ainda por 20% do PIB industrial de transformação e a geração de 1,3 milhão de empregos, além de um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões. “Nossa indústria planeja investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 130 bilhões no desenvolvimento e produção de veículos e outros R$ 50 bilhões no parque de autopeças”, projetam para a próxima década.>
“É nosso dever alertar, Senhor Presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abalo se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país”, ponderam as empresas.>
Para elas, o regime de SKD será permanente, ao contrário do que tem prometido a BYD, de começar com SKD, evoluir para o CKD (quando as partes importadas são menores) até evoluir para um processo de fabricação da maior parte do veículo em território nacional. >
Segundo as empresas, caso o incentivo seja concedido à BYD, a tendência é que toda a cadeia automotiva passe a adotar o mesmo modelo de produção, o que levaria ao colapso da indústria nacional. “Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional” afirmam. >
“Dinossauros estão gritando”>
A resposta da BYD à carta das concorrentes foi se posicionar como “o futuro” e dizer que as quatro empresas querem “abortar a inovação”. Segundo a montadora, a ideia é que a redução do imposto sobre importação seja temporária. Segundo ela, os consumidores brasileiros “foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso”. Segundo a BYD, após a sua chegada uma empresa concorrente teria reduzido em mais de R$ 100 mil o preço de um veículo elétrico. “Por que antes custava tanto?”, questiona. >
“A reação da Anfavea e seus associados, infelizmente, não é novidade. Trata-se do velho>
roteiro de sempre: diante de qualquer sinal de abertura de mercado ou inovação, surgem as>
ameaças de demissões em massa, fechamento de fábricas e o fim do mundo como>
conhecemos”, critica a BYD. “É uma espécie de chantagem emocional com verniz corporativo, repetida há décadas pelos barões da indústria para proteger um modelo de negócio que deixou o consumidor brasileiro como último da fila da modernidade”, completa. >
Segundo a BYD, o planejamento para a implantação da empresa no país está sendo seguido rigorosamente. “Apenas o galpão de montagem final já é mais do que a metade do tamanho da antiga fábrica inteira”, comparou numa alusão à unidade da Ford em Camaçari, fechada em 2021.>