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Agência Correio
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 17:00
O paulista Arthur Felipe Pinheiro de Barros, de 33 anos, viveu uma história de superação que parece tirada de um filme. Depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória enquanto corria em Itanhaém, no litoral de São Paulo, ele ficou um mês internado — nove dias em coma — e chegou a ser desenganado pelos médicos. Hoje, não apenas voltou a correr, como conquistou o segundo lugar em uma competição na categoria Pessoa com Deficiência (PCD). >
Em fevereiro de 2024, durante uma corrida, Arthur sofreu o que os especialistas chamam de morte súbita abortada — quando uma arritmia grave é revertida a tempo de evitar o óbito.>
Alongamento antes de correr
O fisioterapeuta Thiago Nunes Basso e a soldado Ariane de Lucas, do Grupamento de Bombeiros Marítimo, foram fundamentais na reanimação, mantendo-o vivo até a chegada do Samu. “Em nenhum momento desistiram do meu filho”, relembra a mãe, Eliana Rita Pinheiro de Barros, em entrevista ao portal g1.>
Foram seis ciclos de parada cardíaca até a estabilização. O prognóstico inicial era desanimador: danos cerebrais graves e sequelas irreversíveis. Mas a recuperação surpreendeu até os médicos.>
Após nove dias em coma, Arthur acordou desorientado, sem fala e sem movimento. O diagnóstico indicava sequelas cognitivas e perda de memória recente. “Me disseram que talvez eu nunca mais andasse direito, quem dirá correr. Voltar a correr foi como renascer”, contou Arthur, emocionado.>
Com apoio da esposa, Gabrielle Zach de Barros, e da mãe, ele passou por meses intensos de fisioterapia, fonoaudiologia e reeducação motora. O implante de um cardiodesfibrilador (CDI) no tórax foi essencial para controlar o ritmo cardíaco e evitar novas arritmias. O dispositivo é responsável por enviar descargas elétricas quando o coração entra em colapso, salvando vidas em segundos.>
Gabrielle, que acompanha o marido em todas as atividades, descreve a recuperação como um milagre. “Eu o vi entre a vida e a morte. Cada pequeno avanço era uma vitória. Hoje, ver ele sorrindo e correndo é o maior presente”, disse.>
Arthur ainda enfrenta desafios diários, como lapsos de memória e lentidão motora, mas a força de vontade tem sido maior. Ele controla o esforço com um relógio que monitora os batimentos e ajusta o ritmo conforme necessário. “Cada corrida é uma vitória, um lembrete de que a vida me deu uma segunda chance.”>
Na corrida de 4 de outubro, em Itanhaém, Eliana Rita acompanhou o filho com o coração acelerado. “Eu fiquei tensa o tempo todo, mas quando ele cruzou a linha de chegada, senti um alívio fora do comum. Foi Deus mostrando o quanto é grande”, disse emocionada.>
A mãe se prepara agora para uma nova jornada: uma caminhada especial pelo Caminho da Fé, em Minas Gerais. “Ele que se prontificou a ir. Já fiz duas vezes, agora vou levar o milagre comigo”, afirma.>
O caso de Arthur é um exemplo impressionante de neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se reorganizar após lesões. De acordo com especialistas da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o tempo de resposta e o início rápido das manobras de reanimação foram determinantes.>
“A cada minuto sem oxigênio, o risco de dano cerebral aumenta. A ação imediata salvou sua vida e parte de sua memória funcional”, explicam os médicos.>
Com seis meses de tratamento intensivo, Arthur recuperou a fala, a coordenação e parte da memória. Um ano depois, voltou a competir. “O cérebro nos surpreende todos os dias”, celebra Eliana. “Ele não só recuperou o movimento, mas a vontade de viver.”>
Hoje, Arthur planeja usar sua história para inspirar outras pessoas com limitações físicas. Ele participa de grupos de corrida inclusiva e sonha em promover eventos esportivos voltados à reabilitação.>
Para quem o viu desenganado, o pódio representa mais do que uma medalha: é a prova de que o impossível pode ser superado. “O que define a vida não é o que nos acontece, mas o que fazemos depois. E eu escolhi correr de novo”, resume Arthur.>
Com o apoio da esposa, da filha e da mãe, Arthur segue redescobrindo o prazer de se movimentar, passo a passo. Sua história, marcada por fé, ciência e persistência, inspira quem acredita que a vida pode recomeçar — mesmo após o coração parar.>
“A gente comprou até uma cama hospitalar achando que seria permanente, mas ele se levantou, andou e correu. A fé foi maior que o medo”, finaliza Eliana, emocionada.>
Arthur continua treinando, monitorado por médicos e com o mesmo espírito de quem venceu a morte: determinado a ir mais longe, um passo de cada vez.>